Um
vaso impuro contamina a substância que por ele passa
Ao
ler o livro “Terapia pelos passes”, do projeto Manoel
Philomeno de Miranda, deparei-me com as seguintes
frases: “... um vaso impuro contamina a substância
que por ele passa ...”; e “... a luz do Divino
Amor não pode ser coada com transparência através de um
filtro excessivamente impuro, sob a pena de
desfigurarem-se os princípios das Leis que regem a
Vida”. Essas frases estão no contexto da importância
da influência moral dos médiuns em seus trabalhos
fraternos.
As
frases também me fizeram lembrar o texto “Explicações do
Mestre”, do Espírito Neio Lúcio, na psicografia de
Francisco Cândido Xavier, no livro “Jesus no lar”, em
que o Mestre Jesus, durante as conversações com Sara,
foi inquerido pela interlocutora:
“– A ideia do Reino de Deus, em nossas vidas, é
realmente sublime; todavia, como iniciar-me nela? Temos
ouvido as pregações à beira do lago e sabemos que a Boa
Nova aconselha, acima de tudo, o amor e o perdão... Eu
desejaria ser fiel a semelhantes princípios, mas
sinto-me presa a velhas normas. Não consigo desculpar os
que me ofendem, não entendo uma vida em que troquemos
nossas vantagens pelos interesses dos outros, sou
apegada aos meus bens e ciumenta de tudo o que aceito
como sendo propriedade minha. (...)
Em todos os presentes, transparecia ansiosa expectativa
quanto ao pronunciamento do Senhor, que falou, em
seguida a longo silêncio:
– Sara, qual é o serviço fundamental de tua casa?
– É a criação de cabras – redarguiu a interpelada,
curiosa.
– Como procedes para conservar o leite inalterado e puro
no benefício doméstico?
– Senhor, antes de qualquer providência, é
imprescindível lavar, cautelosamente, o vaso em que ele
será depositado. Se qualquer detrito ficar na ânfora, em
breve todo o leite se toca de franco azedume e já não
servirá para os serviços mais delicados.
Jesus sorriu e explanou:
– Assim é a revelação celeste no coração humano. Se não
purificamos o vaso da alma, o conhecimento, não obstante
superior, se confunde com as sujidades de nosso íntimo,
como que se degenerando, reduzindo a proporção dos bens
que poderíamos recolher. (...) O leite puro dos
esclarecimentos elevados penetra o coração como alimento
novo, mas aí se mistura com a ferrugem do egoísmo velho.
Do serviço renovador da alma restará, então, o vinagre
da incompreensão, adiando o trabalho efetivo do Reino de
Deus. (...)
O Mestre, porém, levantando-se com discrição e
humildade, afagou os cabelos da senhora que o
interpelara e concluiu, generoso:
– O orvalho num lírio alvo é diamante celeste, mas, na
poeira da estrada, é gota lamacenta. Não te esqueças
desta verdade simples e clara da Natureza.”
Os
ensinamentos das citadas frases e do texto de Neio Lúcio
são motivadores para procuramos a renovação íntima,
limpando os vasos da alma para retirar as impurezas que
possam contaminar a revelação celeste em benefício
próprio e de nossos semelhantes, assim como degradar o
serviço a ser realizado, reduzindo a proporção dos bens
que poderíamos recolher.
No
mesmo contexto, podemos citar a passagem evangélica
“vestes novas e odres novos”, quando Jesus propõe a
renovação interior pela aquisição de virtudes morais
essenciais que servem de base para o processo de
melhoria do ser humano.
“Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha;
porque o mesmo remendo novo rompe o velho, e a rotura
fica maior. E ninguém põe vinho novo em odres velhos; do
contrário, o vinho novo rompe os odres, e entorna-se o
vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser
posto em odres novos”. (Marcos,
2: 21-22; Mateus, 9: 16-17)
Pela mensagem evangélica, será trabalho inglório
remendar roupa velha, desgastada pelo tempo de uso, com
remendo novo. Tal tentativa ampliará a rotura ou o
rasgão. Para mudar a situação aflitiva de sua vida, tem
que fazer diferente, mudar e renovar.
A
mensagem estimula a todos que querem se afastar dos
comportamentos infelizes e pretendem operar no bem,
seguindo os ensinamentos do Cristo. É preciso romper com
os antigos padrões comportamentais, a “veste velha” e os
“odres velhos”.
Quem deseja implementar mudanças de comportamento, deve
estar consciente de que essa transformação começa dentro
de você, sob novas bases.
Será ilusão remendar as suas imperfeições, maquiando-as,
ou fazer remendos parciais na própria personalidade,
porquanto resultarão em frustrações e desilusões que
acabarão por fazê-lo sofrer quando estiver frente a
frente com a realidade.
Escolhendo o caminho da reforma íntima, faça uma
autoanálise, tornando-se mais consciente de si mesmo e
dos seus recursos latentes, libertando-se dos
sentimentos inferiores mediante o esforço edificante na
prática do amor e da caridade.
Nessa direção, a aceitação do Evangelho de Jesus
representa a veste nova e o vinho novo, livre de
impurezas. Renove-se agora, pois ninguém aproveita
remendo novo em pano velho, desfaça-se do imprestável e
inútil, esqueça os enganos que lhe assaltaram e afasta
as aflições e angústias que somente produzem quedas.
Esses ensinamentos
corroboram com outra citação evangélica: “A
árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que
produz bons frutos não é má; porquanto, cada árvore se
conhece pelo seu próprio fruto. Não se colhem figos nos
espinheiros, nem cachos de uvas nas sarças. O homem de
bem tira boas coisas do bom tesouro do seu coração e o
mau tira as más do mau tesouro do seu coração;
porquanto, a boca fala do que está cheio o coração.” (Lucas,
6: 43-45)
Todas essas reflexões cuidam de quão importante é a
influência moral dos médiuns em seus trabalhos fraternos
para os seus compromissos assumidos no plano espiritual
antes de iniciarem as suas missões em novas existências.
As
atividades mediúnicas sérias exigem responsabilidades
morais dos médiuns, que devem se evangelizar mediante os
estudos necessários e no trabalho edificante na prática
do bem, porquanto não há dúvidas de que o médium exerce
significativa influência moral nas mensagens mediúnicas
recebidas. Caso contrário, haverá contaminação.
O
egoísmo e o orgulho são graves obstáculos à prática
mediúnica harmônica, pois que são dois corredores
sombrios, inclinando-nos ao vício e à delinquência, em
angustiantes processos obsessivos. Só o bem é capaz de
filtrar a inspiração divina, mas, para isso, é
indispensável não apenas admirá-lo e divulgá-lo; acima
de tudo, é preciso querê-lo e praticá-lo com todas as
forças do coração.
O
médium, como instrumento, exerce grande influência sob o
aspecto moral, porquanto o Espírito desencarnado
identifica-se com o Espírito do médium mediante simpatia
e afinidade para se comunicar.
A
alma do médium exerce uma atração ou repulsão sobre o
Espírito comunicante, conforme o grau da semelhança
existente entre eles. Os bons têm afinidade com os bons
e os maus com os maus, sendo que as qualidades morais do
médium exercem influência capital sobre a natureza dos
Espíritos que por ele se comunicam. Se o médium é
vicioso, em torno dele se vêm agrupar os Espíritos
inferiores, sempre prontos a tomar o lugar aos bons
Espíritos evocados.
Os
Espíritos inferiores exploram com habilidade o orgulho
dos médiuns, que cega e causa a queda de muitos
medianeiros que poderiam ser instrumentos notáveis e
úteis. Presos a Espíritos mentirosos, as faculdades
mediúnicas, depois de pervertidas, são aniquiladas,
humilhando os médiuns em amargas decepções.
Por
outro lado, o médium, que compreende o seu dever,
atribui a Deus as boas coisas que obtém, afastando o
orgulho de uma faculdade que não lhe pertence, visto que
ela pode ser retirada.
Sendo assim, evidencia-se a todos aqueles que se dedicam
ao trato da mediunidade a necessidade de empreenderem os
melhores esforços para a própria renovação moral,
buscando, dia a dia, transformar as antigas imperfeições
em valores positivos da alma, uma vez que, só desse
modo, encontrarão a paz da consciência pela certeza do
dever cumprido.
Comecemos pela reforma íntima, dando novo rumo à vida
pela renovação que liberta, substituindo sentimentos
inferiores pelos mais elevados. Devemos modificar os
velhos hábitos que cristalizam o coração, abandonando-os
por não satisfazerem a paz interior.
O
momento de transição pede maior espiritualização,
substituindo as velhas fórmulas da ignorância, da
opressão política ou religiosa, moral ou econômica,
pelas elevadas noções de fraternidade do Cristianismo.
A mediunidade,
igualmente, precisa sublimar-se. Elevar-se nas práticas mediúnicas.
A mediunidade se enriquecerá de novas e incomparáveis
expressões de nobreza, pela fraternidade que ajuda e
socorre, que perdoa e consola. Os médiuns serão os
legítimos transformadores de luz espiritual.
Quando nos moralizarmos e tornarmos realmente
altruístas, nos converteremos em fontes luminosas,
ligando o Céu e a Terra. Se desejamos sublimar as nossas
faculdades mediúnicas, temos que nos educar,
transformando o coração em um altar de fraternidade.
A
Era do Espírito pede a conquista de nós mesmos, luta
incessante, trabalho e responsabilidades. É o futuro
acenando-nos com as suas mãos de luz para a realização
das obras celestiais.
O
médium que vigia a própria vida, disciplina as emoções,
cultiva as virtudes cristãs e oferece ao Senhor,
multiplicados, os talentos que por empréstimo lhe foram
confiados, estará, no silêncio de suas dores e de seus
sacrifícios, preparando o seu caminho de elevação para o
Céu.
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro
dos Médiuns. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação
Espírita Brasileira, 2019.
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Xavier; coordenação de Saulo Cesar Ribeiro da Silva. O
Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo
Mateus. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2017.
FRANCO, Divaldo Pereira. Terapia pelos passes.
10ª Edição. Salvador/BA: LEAL, 2020.
LÚCIO, Neio (Espírito), na psicografia de Francisco
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Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira (Organizadora). Estudo
aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de
Jesus – Parte II. Orientações espíritas e sugestões
didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto
religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2016.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Mediunidade:
estudo e prática. Programa I. 2ª Edição.
Brasília/DF, Federação Espírita Brasileira, 2018.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Mediunidade:
estudo e prática. Programa II. 2ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
ROCHA, Cecília (Organizadora). Estudo Sistematizado
da Doutrina Espírita: programa complementar. Tomo Único. 1ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2018.
PERALVA, Martins. Estudando a mediunidade. 27ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2017.
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