Como é isso? Um médium pode receber
várias comunicações, por vários
Espíritos, num curto espaço de tempo?
Certa vez um amigo espírita disse achar
complicado as comunicações denominadas
de cartas consoladoras, em que o médium
recebe inúmeras mensagens de diversos
Espíritos que enviam recados do além
para seus afetos que na Terra ficaram.
Neste segmento, ainda hoje trabalhado
pelos centros espíritas e diversos
médiuns, destacou-se Chico Xavier que,
por anos, foi esta ponte entre vivos e
“mortos”.
Uma das objeções colocadas no que se
refere às cartas consoladoras é
referente a afinidade fluídica; como um
médium poderá assimilar o fluido de
diversos Espíritos e transmitir, quase
que instantaneamente, várias ideias, que
é o que ocorre nas comunicações das
chamadas cartas consoladoras?
Foi na Revista Espírita, março de 1867,
com o título de “Comunicação coletiva”
que identificamos uma hipótese que pode
explicar de forma operacional como se dá
a comunicação de muitos Espíritos com os
médiuns das cartas consoladoras, numa
autêntica comunicação coletiva, como já
diz o título do próprio texto.
O Espírito protetor do médium, por ter
mais afinidade fluídica com ele, serve
como uma espécie de “médium” de outros
Espíritos, que lhe transmitem o
pensamento, e este, por sua vez, o
repassa ao médium que, ainda, por sua
vez, transmite aos entes queridos.
Temos, se assim pode-se dizer, uma
comunicação da comunicação, eis então
que levantamos mais uma hipótese; as
comunicações de Chico Xavier começavam
com saudação carinhosa aos pais, mais ou
menos assim - “Querido papai, querida
mamãe...”, porque embora a essência da
ideia seja conservada, os pormenores
podem ser uma espécie de “tradução” do
médium para a plateia de encarnados.
Alguns críticos indagam: “Não pode ser
fulano a comunicar-se, pois ele não
utilizava essas palavras...”
É que, sendo repetitivo, temos o
telefone sem fio: o Espírito que quer
comunicar-se transmite a ideia ao
Espírito protetor do médium e este a
repassa ao médium que, portanto, busca
em seu baú de palavras as que melhor
traduzem a ideia do Espírito.
Pois bem, como vimos, trata-se, por
questões operacionais, de uma
“comunicação da comunicação”, portanto,
envolve a dificuldade e ruídos que
existem em qualquer processo de
comunicação em que o objeto – no caso
aqui a mensagem – passa por diversos
mensageiros antes de chegar ao destino.
Contudo, quanto mais esclarecidos esses
mensageiros, mais fiel esta “mensagem da
mensagem” é à original.
O já referido texto da Revista Espírita
também explica uma dúvida frequente
entre os espíritas: pode o indivíduo
estar encarnado no momento em que
estabelece este contato mediúnico e
enviar mensagens aos seus entes
queridos?
A dúvida faz sentido: se estamos num
constante reencarnar e desencarnar, se
já estou encarnado como posso enviar uma
mensagem com a personalidade que tinha
em outra existência, já que o corpo
físico impõe limites para a livre
manifestação do Espírito em seu estado
natural?
Resumindo no popular: se já estou “vivo”
novamente, como posso “bancar” uma de
defunto para enviar um alô aos meus
antigos pais?
A resposta encontra base na própria
doutrina espírita; Espíritos mais
adiantados não têm vínculo tão estreito
com a matéria, portanto, quanto mais
elevado o Espírito, mesmo encarnado não
existem laços tão pesados que o prendam
de forma imperiosa ao corpo físico, de
modo que mais facilmente ele estabelece
contato com outros Espíritos, pois que
há uma expansão mais potente de seu
pensamento, inclusive nos momentos em
que está em vigília.
Como podemos perceber, nas mensagens das
cartas consoladoras há uma explicação de
ordem racional e operacionalmente viável
e que aponta para a possibilidade de um
médium manter contato com diversos
Espíritos num curto espaço de tempo e,
inclusive, já encarnado em outro mundo.