Engano dos
espíritas
O egoísmo dá origem a todas as deformidades do caráter.
“(...) Amados, não creiais a todo Espírito; experimentai
se os Espíritos são de Deus”. I
João 4:1.
Um número expressivo de espíritas crê firmemente na
proteção integral dos Benfeitores Espirituais,
colocando-se como protegido especial, inacessível à ação
das trevas. Quanto mais pensa assim, mais se expõe aos
Espíritos perturbados, porque abrem as guardas mentais,
por desconhecerem os verdadeiros riscos, negligenciando
fatalmente a recomendação de Jesus com relação ao “olhai,
vigiai e orai”. (Mc. 13:33).
Todos os seres encarnados, sem exceção, somos “influenciados pelos
Espíritos muito mais do que podemos imaginar, sendo que,
de ordinário, são eles que nos dirigem”, conforme
asserto da questão número 459 de “O Livro dos
Espíritos”. Como tal influência não vem somente dos
Espíritos bons, estamos, portanto, diariamente expostos
à sanha dos malfeitores da Erraticidade, mormente se
somos médiuns, quando então a situação se agrava com a
vulnerabilidade psíquica.
Não há uma única referência doutrinária no Espiritismo
que fale de proteções integrais e plenas ou de ausência
de meio para que os obsessores nos atinjam. Muito pelo
contrário! Daí a enorme quantidade de médiuns
desequilibrados. E existem também aqueles que se julgam
missionários indenes desse mal, gozando de privilégios e
vantagens, estando a salvo das investidas dos Espíritos
maus. Outro ledo e patético equívoco!...
Chico Xavier, Yvonne do Amaral Pereira, Divaldo Pereira
Franco, Raul Teixeira, porta-vozes incansáveis do Bem,
trabalhadores honrados e dignos, já choraram muito...
Todos eles contam tristes casos de assédios cruéis.
Paulo de Tarso foi vítima de calúnias atrozes,
espancamentos e prisões, provocadas por esses
indigitados irmãos.
Em “O Livro dos Médiuns”, Allan Kardec adverte
sempre aos médiuns, ensinando-lhes as defesas que podem
ser utilizadas para a neutralização desses riscos.
É óbvio que “seremos atribulados, mas não vencidos”, conforme
afirma o singular Apóstolo dos Gentios. Para tal faz-se
necessário estarmos atentos às nossas responsabilidades,
conscientes do bem que precisamos fazer e, o que é muito
importante: estudar profunda e perseverantemente a
Doutrina Espírita para entender a dinâmica operada
pelos que nos odeiam, aprendendo a amá-los conforme
ensinamento de Jesus, a fim de neutralizar-lhes a sanha
cruel e injusta.
O egoísmo, essa terrível chaga da humanidade, que dá
origem a todas as deformidades do caráter, inclusive a
vaidade com a qual faz terrível e fulminante parceria,
tem levado à derrocada muitas promissoras lavouras do
Bem, inutilizando o ingênuo trabalhador, despreparado
para enfrentar tão deploráveis quão traiçoeiros e
ferrenhos adversários.
Divaldo Franco numa entrevista concedida em Natal,
afirmou que não vê porque André Luiz, Emmanuel e outros
de igual coturno necessitem utilizar médiuns
incipientes, ainda não trabalhados, portanto inseguros e
não confiáveis, quando podem veicular suas mensagens
por “aparelhos” já devidamente afinados e de
ilibada integridade moral, que é a condição básica para
o intercâmbio útil.
Diz ainda mais o conferencista baiano: “(...) por um
princípio de escrúpulo pessoal, mesmo que Emmanuel ou
André Luiz, que se caracterizaram como mensageiros
através do médium Chico Xavier venham por minhas
percepções mediúnicas, eu tenho o pudor de não dizer ou
divulgar, para evitar que se crie alguma área de
confusão. Allan Kardec estabeleceu um estereótipo:
primeiro o conteúdo, segundo a forma, e
terceiro o nome que assina a mensagem. O bom
médium se revela não pelos Espíritos que recebe, mas
pela conduta que mantém”.
É preocupante a enxurrada de livros e mensagens ditas
espíritas que circulam em nosso meio. Mais do que a
vontade de servir, é visível a vaidade de seus autores.
Não percebem a pobreza intelectual e doutrinária do que
produzem em nome do Espiritismo, prestando-lhe,
portanto, um grande desserviço ao conspurcar-lhe a
nobreza e colocar sua reputação em jogo. Tais criaturas
invigilantes e pretensiosas tornam-se joguetes fáceis
nas mãos sempre hábeis de Espíritos pseudossábios que
lhes exploram a ingenuidade. O que está fazendo falta a
essa gente é a leitura das mensagens apócrifas,
mentirosas, que Allan Kardec identificou e colocou no
final de “O Livro dos Médiuns” para nossa
orientação e lá vamos encontrar esta orientação de
Kardec: “(...) é imprescindível a necessidade de
serem os diretores dos grupos espíritas dotados de fino
tato, de rara sagacidade, para discernir as comunicações
autênticas das que não o são e para não ferir os que se
iludem a si mesmos”.
Quando Jesus nos pediu que fôssemos “mansos como uma
pomba e prudentes como uma serpente”, sabia que o
poder de sedução dos maus Espíritos é tão grande quanto
a vaidade da maioria dos religiosos.
Não sem motivos aconselha S. Luís em “O Livro dos
Médiuns – cap. XXIX”: “melhor repelir dez verdades do
que admitir uma única falsidade”.
Não nos olvidemos dos fatos narrados na obra “Os
Mensageiros”, a segunda da extraordinária, singular
e insuperável “Série André Luiz”, psicografada
por Chico Xavier, para não cairmos na triste situação e
na superlativa dor dos espíritas que fracassaram,
quando, no Mundo Espiritual dão de frente com a própria
consciência. Ali percebemos como é rigorosa a Justiça
Divina, principalmente em relação àqueles que nascem
para servir com discernimento e se esquecem de suas
responsabilidades para serem servidos em seus caprichos.
O confrade Júlio Capilé1, afirma: “(...) o
conhecimento do Espiritismo nos leva a muitos caminhos,
tantos quantas são as facetas que podem surgir em nossa
vida; daí nos depararmos com fenômenos de efeitos
físicos simples, de materializações, de transfigurações,
de obsessões, de perturbações, simples influenciações e
tantas outras...
Não gosto da palavra obsessor, pois dá a impressão de
que todos os Espíritos que influenciam negativamente a
uma pessoa, é maldoso. A maior parte dos Espíritos que
são atendidos como obsessores são simplesmente
sofredores que estão desesperados procurando alívio
junto a qualquer pessoa cuja sintonia mental esteja de
seu agrado. Conforme o estado de espírito de uma pessoa
será a companhia espiritual que granjeia, e esse estado
modifica-se a cada instante. É muito raro encontrar uma
pessoa que consegue ficar em elevado padrão vibratório o
tempo todo, originando aí a diversidade de companhias
que temos. O importante é conseguirmos as variações
dentro de uma determinada faixa que deveremos, com
esforço de cada dia, ir estreitando até o momento em que
possamos manter uma sintonia boa e uniforme. Comentamos
isso porque os amigos das sombras estão sempre aptos a
atender nossas vibrações inferiores.
FASCINAÇÃO
A fascinação sempre aparece no médium muito sensível e
com muitas mediunidades; desses que são muito bajulados,
muito solicitados, elogiados... Pouco a pouco vão se
acostumando a serem ‘superiores’ – e, consequentemente
os Espíritos do bem o abandonam, quando então ele passa
a ter companhias que farão as maravilhas que os outros
faziam, mas somente aguardando a oportunidade para
neutralizá-lo e até mesmo destruí-lo. No ponto em que
começa a se sentir superior, a fascinação se instala.
Sem embargo, faz curas, orienta pessoas para tantas
coisas e insensivelmente o médium acha que aquele
Espírito é sua propriedade. Instala o
companheirismo e não haverá possibilidade de o médium
acatar conselhos dos companheiros encarnados ou de
Espíritos amigos que se manifestam por outro médium. Torna-se
um sabe tudo, e aos judiciosos e ponderados
conselhos que lhe venhamos a oferecer, ele
invariavelmente responde: “é, mas fulano (o
Espírito) está dizendo outra coisa”.
Para que tal não nos aconteça, é necessário
compreender que se deve estudar permanentemente, meditar
sobre as coisas aprendidas, tirar conclusões, saber que
ninguém é dono da verdade, ouvir com humildade as
críticas dos irmãos.
Muitas vezes até mesmo um neófito na Doutrina Espírita
nos dá ensinamentos importantes por uma observação até
certo ponto ingênua. Devemos estar atentos às lições que
os Espíritos nos dão através da palavra de nosso
semelhante, e até mesmo de uma criança.
Das fascinações que conhecemos em toda nossa experiência
com os Espíritos, algumas conseguiam curas
espetaculares; outras, orientação sobre coisas materiais
que davam sempre certo. Tal fenômeno é facilmente
explicável, fazendo-se, por exemplo, uma analogia com um
líder qualquer: um oficial graduado, é líder de uma
fração da tropa, um chefe de quadrilha é líder dos
bandoleiros e assim por diante... Ora, um líder, um
caudilho na espiritualidade manifesta-se por um médium.
Este ao aproximar-se de uma pessoa perturbada por um
Espírito mau, faz com que se liberte da atuação
facilmente, quando o Espírito que está com ele é um do
bando daquele caudilho. Daí por diante aquele “guia” faz
uma espécie de seleção das perturbações sobre as quais
vai agir. Sua ação é sempre usar o temor que causa o
Espírito perturbador. Não demora muito e o médium passa
a ser considerado infalível e se sente confortável
naquela simbiose perniciosa. Aí fica instalado o
tríplice vínculo fascinador/médium/admiradores, e esse
fã clube, incensando sempre a vaidade do médium, o põe a
perder em pouco tempo de adulações.
De um modo geral, ninguém cai no abismo de uma vez só:
vai descendo gradativamente até chegar ao fundo do poço.
Quando desperta, encontra um paredão à sua frente e não
sabe como subir. Descer foi fácil, pois a porta larga
da perdição tem muitos atrativos e muita coisa
agradável. Faz lembrar o caso de dieta para emagrecer:
tudo que é bom engorda; só pode comer coisas insossas
que não agradam ao paladar. O erro, os vícios, os
desvios, são sedutores, ‘saborosos’, palatáveis...
O médium desavisado cai e custa achar o caminho da
volta”. Muitos só vão se deparar com a sua triste
realidade no Mundo Maior, após um longo período de
dores, quando, finalmente, compreenderão que a
verdadeira vitória, aquela que produz frutos para a
Eternidade, só se obtém com amor e humildade e
desinteresse pessoal, sentimentos tão apregoados e vivenciados por
Jesus. Por isso disse Emmanuel que todos nós estamos
convocados a servir no Bem com sinceridade e
desinteresse, com base no autoburilamento.