O coaching espírita
e as prisões mentais
Desde que o Espiritismo cruzou o Oceano
e aportou no Brasil, ainda no final do
século XIX, é possível encontrar algum
tipo de polêmica em sua divulgação.
Basta lembrar que o movimento espírita
era dividido entre adeptos da “ciência”
e da “religião” espírita. Não há
novidade nisso.
No século XXI, no entanto, o movimento
espírita brasileiro se depara com
pessoas que teoricamente foram ou são
estudiosas da doutrina, utilizando o
Espiritismo para a autopromoção,
contrariando as orientações doutrinárias
e até evangélicas (Apóstolo Mateus, cap.
10, v. 8). O aumento exponencial se deu
a partir de congressos.
Surgiram grandes eventos organizados por
federativas (representantes da Federação
nos Estados), pessoas físicas e outras
entidades ditas sem fins lucrativos, que
distorceram o sentido de um congresso
para divulgação dos trabalhos produzidos
pelos diversos estudiosos existentes no
país.
Os primeiros congressos e os primeiros
encontros de grandes proporções, no
século XX, por exemplo, podem ser
analisados por seus “anais” que estão
empoeirados em bibliotecas, evidenciando
como eram diferentes dos eventos atuais.
As pautas visavam à apresentação de
estudos inovadores quanto à abordagem e
a temática dos trabalhos doutrinários.
Esse tipo de evento acabou e deu lugar a
megaeventos com estruturas
profissionais, e elegendo divulgadores
que concordam com esse tipo de prática,
até porque alguns ganharam projeção
profissional a partir desses eventos.
Outros confrades e confreiras entendem
que eventos menores, em que a cobrança
seja para manter as despesas produzidas
pelo evento, fazem mais sentido. O tema
é polêmico. A partir do momento que
existe cobrança e não seja para angariar
fundos para uma instituição de caridade,
sem fins lucrativos, ou para auxiliar
nas despesas de entidades assistenciais,
hospitalares e ambulatoriais, também sem
fins lucrativos, talvez não faça sentido
realizar um congresso com essas
proporções. Há quem pense diferente e
isso faz parte do processo, entretanto
uma cobrança simbólica ou não faz com
que o evento não seja para todos.
A pandemia de Covid-19 freou, por dois
anos, esse movimento de eventos, mas
parece que não aprenderam quase nada com
o que aconteceu, e os megaeventos
voltaram. Antes, porém, com a pandemia,
os coachings” espíritas ganharam
bastante adeptos e milhares de reais. O coaching espírita
é aquele que vai "te ajudar a destravar
a vida”, utilizando uma retórica baseada
em celebridades (encarnadas) que são
“sucesso” de mídia (ou sucesso
financeiro).
“Liberte-se das prisões mentais: saiba
como gratuitamente” (é a “isca”: o
“prato principal” é uma imersão ou uma
capacitação exclusiva); “você é ansioso?
Tem insônia? Toma remédio tarja preta?
Deseja mudar de vida? Participe da
imersão de 24 horas...”. Os exemplos se
arrastam tanto quanto as condições de
pagamento no cartão de crédito.
Allan Kardec elaborou uma pergunta aos
Espíritos superiores (625), em O
Livro dos Espíritos, que não deixa
dúvidas, apesar da brevidade da
resposta: o Modelo e Guia da humanidade
é Jesus. Na tradução do professor
Herculano Pires, consta ainda a
expressão “Vede Jesus”, reforçando o
conceito, como observe Jesus, siga
Jesus, espelhe-se em Jesus, e Allan
Kardec complementa: “Jesus é para o
homem o tipo de perfeição moral a que
pode aspirar a humanidade na Terra.”
Se os conselhos dos coachings espíritas
não orientam para seguir Jesus estudando
a Doutrina Espírita, de forma gratuita,
é melhor abandonar tais práticas porque
possivelmente o que você procura não
será encontrado aí.
Existem diversos caminhos que uma pessoa
pode escolher para se aperfeiçoar,
encontrar o seu melhor, viver em paz e
harmonia consigo e com a sociedade da
qual faz parte. No Espiritismo, Allan
Kardec indicou o caminho que foi estudar
os ensinamentos trazidos pelos
Espíritos. É o “Projeto 1868”, que
recomenda a criação de um
“estabelecimento central” para se
estudar o Espiritismo. Esse
estabelecimento central é a Casa
Espírita. Por isso as tarefas existentes
em uma casa espírita são gratuitas.
O apóstolo Mateus em suas anotações,
capítulo 13, versículos de 24 a 30,
relata a sabedoria do Cristo quando
propôs a parábola do Joio e do Trigo.
“Dormindo os homens, veio seu inimigo, e
semeou o joio no meio do trigo, e
retirou-se. (cap.13; v.25)”.
Invigilantes, os homens dormem e
permitem que as próprias fantasias e
desejos pelo caminho mais curto e rápido
(“inimigo”) povoem seu pensamento de
forma a buscar respostas prontas, com
aparente luminosidade, mas que não
conseguem manter-se ante o uso da razão.
Para conhecer o Budismo, por exemplo,
existem 13 passos, distribuídos em três
partes, que funcionam como uma
“cartilha” para você aprofundar na
essência filosófica daquela religião. Um
dos passos é o estudo! Estudar o
Budismo, a vida de Sidarta Gautama,
dentre outros (clique
aqui)!
Por que para viver o Espiritismo seria
diferente?
O filósofo Nietzsche não era
incentivador da religião. Aliás, foi um
crítico feroz do Cristianismo praticado
pelos “procuradores de Deus” e não
contra o Cristo. O filósofo, inclusive,
demonstrava conhecer sobre o assunto ao
atribuir Paulo de Tarso como fundador do
Cristianismo. De fato, é algo que faz
sentido, quando estudamos a história do
Cristianismo pela obra do historiador
Paul Johnson, que inicia dizendo a
respeito da primeira conferência
apostólica, ou “Concílio de Jerusalém”,
ocorrido provavelmente no ano de 49
d.C., quando Paulo saiu de Antioquia
rumo a Jerusalém. Invariavelmente, quem
critica as práticas correntes é tachado
de obsidiado ou enfermo, e até “louco”
como realmente Nietzsche terminou seus
dias. Mas se o que você faz está dentro
dos preceitos doutrinários, não se
acanhe e nem tenha medo. Mantenha-se
intimorato! O tempo dirá!
Durante milênios surgem seguidores,
sectários e aproveitadores que tentam
levar alguma vantagem e arrastam
multidões com seu verbo fácil, escorado
em mourões de madeira podre. É válido
reconhecer, porém, que há uma habilidade
e uma capacidade de seduzir muito grande
e por isso, se você já fez sessões de coaching,
não se martirize e nem se diminua com
sentimentos negativos. Se você foi
atendido em suas expectativas, vale a
reflexão: “só aprende com o erro, quem
corrige o erro”!
Por fim, se você sentir necessidade de
algum tratamento, recorra ao passe,
reuniões públicas e de estudos nas Casas
Espíritas, concomitantemente. Persevere,
a despeito do que é divulgado no
movimento espírita: beba na fonte das
obras Fundamentais (produzidas por Allan
Kardec) e obras subsidiárias (Léon
Denis, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano,
Camille Flammarion, Carlos Imbassahy,
Herculano Pires, Hermínio C. Miranda,
Deolindo Amorim, Lamartine Palhano Jr.,
Hernani Guimarães Andrade, Chico
Xavier). Em paralelo, procure um
profissional formado, com registro no
conselho de classe, para uma terapia em
suas diversas modalidades! Seja feliz!