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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Os missionários celestiais e as suas duras missões


Graças à misericórdia divina, a humanidade terrena nunca esteve abandonada à própria sorte em nenhum momento da história. Certamente em obediência às diretrizes superiores, de tempos em tempos encarnaram – e continuam encarnando – nesse orbe Espíritos de escol com a nobre missão de ajudar na evolução humana. Em cumprimento às determinações divinas, dão contribuição significativa para que a luz do bem se estabeleça de vez entre nós, a fim de que um dia possamos realmente merecer a classificação de povo civilizado. Dada a nossa limitada capacidade de enxergar a experiência da vida na matéria como oportunidade excepcional de crescimento interior e testemunho, vêm eles nos ajudar a palmilhar o caminho da autoiluminação e do avanço moral.

Comprovando o seu abnegado papel, explica o Espírito Emmanuel, na obra Pão Nosso (psicografia de Francisco Cândido Xavier, um extraordinário missionário de Jesus), que “Emissários abnegados do devotamento celestial espalham socorro santificante em todas as épocas da Humanidade. A História é demonstração dessa verdade inconteste”. Em outra obra sua de excepcional valor e sabedoria, isto é, A Caminho da Luz, também psicografada pelo inolvidável médium acima citado, Emmanuel pondera que:

“[...] A Ciência de todos os séculos está cheia de apóstolos e missionários. Todos eles foram inspirados ao seu tempo, refletindo a claridade das Alturas, que as experiências do Infinito lhes imprimiram na memória espiritual, e exteriorizando os defeitos e concepções da época em que viveram, na feição humana de sua personalidade”.

E arremata o seu pensamento destacando que:

“Na sua condição de operários do progresso universal, foram portadores de revelações gradativas, no domínio dos conhecimentos superiores da Humanidade. Inspirados de Deus nos penosos esforços da verdadeira civilização, as suas ideias e trabalhos merecem o respeito de todas as gerações da Terra, ainda que as novas expressões evolutivas do plano cultural das sociedades mundanas tenham sido obrigadas a proscrever as suas teorias e antigas fórmulas.”

Entretanto, cumpre reconhecer que tais entidades também desempenham suas missões em outros setores da vida. Seguindo essa linha de raciocínio, o Espírito Joanna de Ângelis refere-se, por exemplo, no livro Após a Tempestade (psicografia de Divaldo Pereira Franco) ao “triunfo de homens-sacerdotes da Ciência Médica” responsáveis pela cura de doenças outrora categorizadas como incuráveis. Nesse sentido, observa a elevada mentora espiritual, que:

“Sempre há, pois, possibilidade de amanhã conseguir-se a vitória sobre a enfermidade irreversível da hoje. Diariamente, para esse desiderato, mergulham na carne Espíritos Missionários que se aprestam e impulsionam o progresso, realizando descobrimentos e conquistas superiores para a vida, fonte poderosa de esperança e conforto para os que sofrem, em nome do Supremo Pai.”

Indubitavelmente, eles têm vindo aos magotes em auxílio à humanidade com vistas ao adiantamento e progresso geral. De modo geral, ocupam funções e atividades-chave para que a Terra avance como uma harmoniosa e pacífica morada da Casa do Pai, como preconiza o evangelho de Jesus. E o Mestre dos Mestres, como governador espiritual do planeta, os conduz à execução de delicadas missões sob a sua sublime orientação e inspiração. Nesse particular, Emmanuel comenta, em outra notável obra, Fonte Viva (também psicografada pelo notável médium)que:

“O Mestre não se encontra tão-somente no serviço daqueles que ensinam a Revelação Divina, através da palavra acadêmica, instrutiva ou consoladora. Acompanha os que administram os bens do mundo e os que obedecem às ordenanças do caminho, concorrendo na edificação do futuro melhor, nas organizações materiais e espirituais. Permanece ao lado dos que revolvem o chão do Planeta, cooperando na estruturação da Terra Aperfeiçoada, como inspira os missionários da inteligência na evolução dos direitos humanos.”

Desse modo, pode-se inferir que nos momentos mais críticos da trajetória humana, os missionários estavam presentes amparando, ajudando e orientando seus irmãos menos esclarecidos em nome de Deus. Posto isto, creio que vale lembrar um filme (Harriet, interpretado pela atriz e cantora Cynthia Erivo, que lhe valeu, a propósito, uma indicação ao Oscar) a que assisti recentemente retratando a vida de uma personagem, Harriet Tubman (1822-1913), que representou papel marcante na Guerra da Secessão ocorrida nos Estados Unidos entre os anos de 1861 e 1865.

Cumpre lembrar, portanto, que o citado conflito sanguinário colocou em lados opostos os estados do Sul e do Norte, que divergiam profundamente sobre os destinos daquela nação. Enquanto o Norte focava na industrialização emergente, o Sul, movido essencialmente pela atividade agrícola, sustentava um modelo econômico baseado na escravidão. Tal distanciamento de ideias culminou com a busca do separatismo por parte do Sul, e, por fim, a guerra civil, que gerou a morte de quase 1 milhão de pessoas.

É obvio que os Estados Unidos não se tornariam na maior nação do planeta se não houvessem se modernizado, bem como não tivessem abraçado ideais humanitários e progressistas. Nesse sentido, encampar o compromisso de libertar os escravos era fundamental, já que tal prática não cooperava com aquela visão de Estado. Aliás, muito antes de eclodir o sangrento conflito, o presidente Abraham Lincoln (1809-1865) já tinha uma posição firme contra as agruras impingidas ao povo negro sustentando-a, por sinal, até o fim de sua vida (curiosamente ele foi assassinado apenas cinco dias depois do término da guerra).

A forte liderança de Lincoln que, vale ressaltar, levou-o inúmeras vezes aos campos de batalha, foi crucial para a vitória da União, bem como para a reunificação do país. Num evento dessa natureza e extensão, convenhamos, muitos personagens desempenharam papel-chave e, entre elas, estava Harriet, mulher negra, abolicionista, ativista e que nascera escravizada.

Aliás, é sempre importante frisar que os indivíduos que pertencem à raça negra continuam a enfrentar muitas dissabores ao longo das suas existências. Afinal de contas, o preconceito racial ainda não foi completamente banido deste planeta, apesar dos avanços sociais, costumes e mentalidade. Por isso, é inegável que a jornada dos Espíritos que reencarnam sob essa indumentária carnal, é muito mais difícil e complicada do que os das outras raças. O nosso país é, a propósito, um claro exemplo dessa aberração.

Tubman viveu parte da sua vida como escrava numa fazenda no condado de Dorchester, no estado de Maryland. Por conseguinte, enfrentou experiências dolorosas, já que foi espancada e açoitada por seus “senhores” durante a infância. Além de padecer constantes maus tratos, sem falar da privação da liberdade, ainda na juventude sofreu uma lesão craniana traumática gerada pela insensatez do seu proprietário. Ou seja, para impedir a fuga de um determinado escravo, o impiedoso fazendeiro arremessou-lhe um pesado objeto de metal, que, desafortunadamente, acabou acertando-a. Por causa da lesão, Tubman passou a ter tonturas, dores e períodos de hipersonia, que lhe importunaram até o fim da sua jornada. No entanto, após a sua recuperação, Tubman começou, curiosamente, a ter visões estranhas e sonhos premonitórios atribuindo-os à vontade de Deus. Essas experiências místicas e/ou espirituais somadas à sua educação de cunho metodista, tornaram-na uma religiosa devota.

Embora tenha conseguido escapar quase milagrosamente do cativeiro em 1849, fugindo para a Filadélfia, ela imediatamente voltou a Maryland para resgatar sua família do cativeiro. O mais admirável nessa personagem é que, graças às suas corajosas ações, seus parentes e dezenas de outros escravos conquistaram a tão sonhada liberdade. Enfrentando enormes perigos, Tubman (ou "Moisés", como era chamada, já que se vestia como homem para se disfarçar) conseguiu o extraordinário feito de nunca perder um passageiro. Vale frisar que Tubman e a sua saliente mediunidade foram cruciais nas missões de resgate dos seus irmãos de raça.

Movida por uma fé extraordinária, ela captava as imagens que os Espíritos lhe enviavam ou simplesmente intuía as rotas mais seguras para conduzi-los à liberdade. Depois da aprovação do Fugitive Slave Act de 1850, ela protagonizou outra relevante façanha: guiar os fugitivos mais ao norte para a América do Norte Britânica, bem como ajudá-los a encontrar trabalho. Os historiadores reportam que Tubman conheceu John Brown (1800-1859), outro importante abolicionista, em 1858, e ajudou-o a planejar e recrutar apoiadores para seu ataque a Harpers Ferry em 1859.

Não bastasse tão elogiável atuação, Tubman também prestou seus serviços ao exército da União quando a Guerra Civil iniciou, primeiramente como cozinheira, enfermeira e, posteriormente, como batedora armada e espiã. Os registros históricos informam que ela foi a primeira mulher a liderar um ataque armado no tenebroso conflito. Com efeito, sua ação militar no rio Combahee libertou mais de 700 escravos. Terminada a guerra, Tubman aposentou-se e passou seus dias na propriedade de sua família, em Auburn, no estado de Nova Iorque, onde cuidou de seus pais já idosos.

Consta também que Tubman atuou no movimento pelo sufrágio feminino. Mas com a deterioração da sua saúde, ela foi internada num asilo para afro-americanos idosos, que ajudara a criar, por sinal, anos antes. Dizem que momentos antes de desencarnar (em 1913), ela disse aos presentes no quarto: "Vou para preparar um lugar para vocês". Harriet Tubman tornou-se, assim, um símbolo de coragem e liberdade naquela nação marcada pela violência e radicalização.

Antes de concluir, é importante ponderar que os Missionários de Deus, não estão isentos das dores e sofrimentos. Muito pelo contrário. Abraçando espinhosas responsabilidades, eles se sacrificam para que a humanidade avance. Mesmo em momentos dramáticos, lá estão eles fazendo a diferença ao inspirar seus irmãos no rumo certo da vida, assim como praticando a fraternidade e solidariedade. 
 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita