Mediunidade, tesouro
bendito
“Caríssimos, não acrediteis em todos os
Espíritos, mas provai se os Espíritos
são de Deus, porque são muitos os falsos
profetas que se levantaram no mundo.” (I
João, 4:1)
Todos aqueles que são tentados a
explorar os fenômenos em proveito
próprio, fazendo-se passar por enviados
de Deus, não podem abusar por muito
tempo da credulidade alheia, porque logo
serão desmascarados. Aliás, esses
fenômenos nada provam por si mesmos,
pois a missão se prova por efeitos
morais, que nem todos podem, ainda,
aprimorar. Esse é um dos resultados do
desenvolvimento da ciência espírita que,
pesquisando a causa destes, levanta o
véu de muitos mistérios. Os que preferem
a obscuridade à luz são os únicos
interessados em combatê-la.
Os médiuns que fazem mau uso de sua
faculdade, que não se servem dela com o
objetivo do bem, serão duplamente
punidos, porque têm um meio a mais para
se esclarecerem e não o aproveitam. Em
nota, em O Livro dos Médiuns,
capítulo 20, questão 226, subitem 8,
Kardec esclarece: “Há a se observar que,
quando os bons espíritos julgam que um
médium cessa de ser bem assistido e se
torna, pelas suas imperfeições, a presa
dos Espíritos enganadores, provocam,
quase sempre, circunstâncias que revelam
suas manias e afastam as pessoas sérias
e bem intencionadas, de cuja boa fé
poderia ser abusada.” Os médiuns
levianos e pouco sérios atraem
magneticamente os Espíritos da mesma
natureza e por isso, suas comunicações
são marcadas por banalidades,
frivolidades, ideias sem sequência.
Certamente eles podem dizer e dizem
algumas vezes coisas boas, mas é nesse
caso, sobretudo, que é preciso fazer um
exame sério e escrupuloso, porque no
meio dessas boas coisas, certos
espíritos hipócritas insinuam com
habilidade e com uma deslealdade
calculada, fatos controvertidos,
asserções mentirosas, a fim de enganar a
boa fé dos seus ouvintes. Estes são os
Espíritos enganadores, orgulhosos e
pseudossábios que passaram da Terra para
a erraticidade e se disfarçam com nomes
veneráveis, para procurar, através da
máscara que usam, tornar aceitáveis as
suas ideias, frequentemente as mais
bizarras e absurdas.
Assim, poderemos entender que a
mistificação experimentada por um médium
traz sempre uma finalidade útil, que é a
de afastá-lo do amor próprio, da
preguiça no estudo de suas necessidades
próprias, da vaidade pessoal ou dos
excessos de confiança em si mesmo. Os
fatos de mistificação não ocorrem à
revelia dos seus mentores mais elevados
que, somente assim, o conduzem à
vigilância precisa e às realizações da
humildade e da prudência no seu mundo
subjetivo.
Quando um médium resolve transformar
suas faculdades em fonte de renda
material, será melhor esquecer suas
possibilidades psíquicas e não se
aventurar pelo terreno dos estudos
espirituais. É necessário procurarmos
entender que a remuneração financeira,
no trato das questões profundas da alma,
estabelece um comércio criminoso do qual
o médium deverá esperar, no futuro, os
resgates mais dolorosos pois, a
mediunidade não é ofício do mundo e, os
Espíritos esclarecidos na verdade e no
bem conhecem mais que os seus irmãos da
carne as necessidades dos seus
intermediários.
É preciso perceber que o médium sincero,
antes de cogitar da doutrinação dos
Espíritos ou de seus companheiros de
luta na Terra, precisa iluminar-se pelo
conhecimento, pelo cumprimento dos
deveres mais elevados e, pelo seu
esforço na assimilação perfeita dos
princípios doutrinários, jamais se
descuidando da vigilância, buscando
aproveitar as possibilidades que Jesus
concedeu-lhe na edificação do trabalho
estável e útil. O estudo da Doutrina e,
sobretudo, o cultivo da
autoevangelização devem ser
ininterruptos, fugindo da exploração
material ou sentimental, compreendendo,
em todas as ocasiões, que o mais
necessitado de misericórdia somos nós
mesmos, uma vez que o primeiro inimigo
do médium reside dentro de si mesmo.
Frequentemente é o personalismo, a
ambição, a ignorância ou rebeldia no
voluntário desconhecimento dos deveres à
luz do Evangelho, os fatores de
inferioridade moral que, não raro,
conduzem o médium à invigilância e a
leviandade.
As portas do tesouro psíquico devem ser
vigiadas com segurança, pois, este
tesouro representa o ápice do esforço de
transformação para o bem, como afirma
Jesus que, o Reino de Deus não vem com
aparência exterior, pois a realização
divina começa no íntimo de cada um,
constituindo gloriosa luz do templo
interno.
Muitas vezes, defrontamo-nos com irmãos
nossos, com boa margem de serviços à
causa, admirados de que entidades amigas
não lhes atendem, como esperavam, a
curiosidade, seja no campo pessoal ou na
explanação de tema doutrinário.
Estranham que os benfeitores não lhes
ministrem, como desejam a verdade
salvadora. Não ignoramos que adiar o
conhecimento da verdade e de certos
fatos não constitui mentira ou omissão,
seja dos Espíritos ou dos encarnados
esclarecidos, mas revela, segundo as
motivações, ótimo discernimento. A hora
exata e o momento oportuno para que se
transmita esta ou aquela orientação no
campo pessoal ou de assuntos
doutrinários, constitui sinal de
compreensão evangélica e maturidade
espiritual. Lembremos que, muitas
perguntas feitas por Allan Kardec aos
Espíritos elevados, embora ajuizadas e
sérias, ficaram sem respostas em O
Livro dos Espíritos, isto porque o
tempo ainda não permitia a focalização
de certos assuntos que só mais tarde
seriam desenvolvidos com proveito.
Todo conhecimento da verdade da parte
dos Espíritos e dos esclarecedores
cuidadosos, é feito no sentido de que
compreendamos a missão do Espiritismo:
educar-nos no amor e na moral,
preparando-nos, assim, para gloriosa
destinação nos mundos de luz. É por isso
que, desapontando curiosos e supostos
sábios, os bons Espíritos não explicam
tudo ao homem.
Fica claro, portanto, que o desinteresse
é a mais absoluta e a melhor garantia
contra o charlatanismo. Se não assegura
sempre a boa qualidade das comunicações
inteligentes, retira, pelo menos, aos
maus, um poderosos meio de ação, e fecha
a boca de certos detratores. A
mediunidade uma faculdade dada para o
bem, os bons Espíritos se afastam de
quem quer que seja, que não responda aos
objetivos da Providência. As portas da
sabedoria e do amor permanecem
constantemente abertas e os tesouros da
ciência, as alegrias da compreensão
humana, as glórias da arte e as luzes da
sublimação interior são acessíveis a
todos. No entanto, do rio de graças da
vida, cada alma somente retira a porção
de riquezas que possa perceber e
utilizar proveitosamente.
Recordando que Deus a ninguém dá seus
dons por medida, cada alma traz consigo,
portanto, a medida que instalou no
próprio íntimo para a recepção dos dons
de Deus. Assim, cuidemos para que os
ensinamentos do nosso divino Mestre
cresçam em nossos corações e nos ajudem
na perfectibilidade espiritual possível,
discernindo entre os bons e os maus
Espíritos, aos quais poderemos aplicar
o ensinamento deixado por Jesus: “O
homem bom, do bom tesouro do seu coração
tira o bem; e o homem mau, do mau
tesouro tira o mal.” (Lucas, 6:15-20)
Bibliografia:
KARDEC, Allan - O
Livro dos Médiuns - 85ª edição –
Editora IDE – Araras/SP/ - capítulo 20,
questão 230 e capítulo 28, questão 306 -
2008.
XAVIER, C. Francisco -
O Consolador, ditado pelo espírito
Emmanuel – 29ª edição - Editora FEB –
Brasília/DF/ - Perguntas: 399, 401, 402,
409 e 410 - 2013.
KARDEC, Allan - O
Livro dos Espíritos – 182ª edição –
Editora IDE – Araras/SP – livro segundo:
Espíritos pseudossábios – 2009.
XAVIER, C. Francisco – Seara
dos Médiuns – ditado pelo espírito
Emmanuel – 20ª edição – Brasília/DF/
Editora FEB – Brasília/DF/ – lição 49 –
2015.