Notinha sobre alfabetização infantil
Ajude-me a crescer, mas deixe-me ser eu mesmo.
Maria Montessori
Fala-se muito em escolarização precoce, isto é, a
criança passar pelo processo de alfabetização infantil
antes dos 6 anos de idade, saindo da Educação Infantil
já alfabetizada. Isso é adequado? Depende. Contudo, para
a maioria das crianças, embora isso possa parecer
positivo inicialmente, também faz com que a criança
tenha menos tempo livre para o brincar ou para realizar
atividades livres, em contato com a natureza, e que
auxiliam no seu desenvolvimento físico, no
amadurecimento do cérebro, na socialização afetiva, na
autorregulação emocional, no próprio processo de
aprendizagem.
Entre especialistas, óbvio, não há um consenso sobre o
período ideal para a alfabetização infantil ter início.
Sou adepta da postura que defende que, durante a
primeira infância, a criança precisa ser criança – e,
por isso, tenha possibilidade de preencher seu tempo com
brincadeiras e atividades ao ar livre, que beneficiam,
sem dúvida, também o processo cognitivo. Além disso,
confio muito em uma abordagem que estimule no começo da
vida a curiosidade através de atividades lúdicas e
sensoriais (em contato com a natureza, portanto) em vez
de uma preocupação com a alfabetização.
O que é fundamental na primeira infância? O brincar, e
que pode envolver, por exemplo, formas distintas de
preparar a criança para o momento efetivo da
alfabetização, como, por exemplo, em casa e na escola:
1) contação de histórias (a leitura mediada é essencial
na primeira infância, pois oferece à criança, além de
outras coisas, contextos imaginários e ilimitados de
palavras;
2) ouvir e cantar (a infância é repleta de repertórios
musicais e que podem estimular a criança desde a barriga
da mãe. Inserir cantigas e músicas infantis, de
tradição/folclore, no cotidiano da família e da escola
auxilia, por exemplo, a assimilação de palavras, além de
cadência e musicalidade; e
3) apresentar diversos tipos de leitura à criança (claro
que respeitando sempre a idade!), como por exemplo
receitas, jornais, revistas, além de livros infantis
variados, pois isso faz com que a criança conheça e
familiarize com tipos de texto literário distintos:
prosa, conto de fadas, aventura, poesia, mistério,
elementos da cultura – o bolo de fubá, receita antiga de
família etc. – e tudo isso tem valor para formar o
futuro leitor.
Aos cinco anos eu já lia. Foi um processo tranquilo,
natural. Minha escola era pequena, eu tinha uma
inclinação para as palavras. Já minha irmã foi
alfabetizada um pouco mais tarde, tendo uma professora
sensível e atenta às suas necessidades e ritmo. Hoje,
infelizmente, vejo alguns pais e mães tomados de pressa
e correndo para alfabetizar os filhos que ainda são
crianças. Correndo tanto para quê?
Antes de mais nada, é preciso respeitar a primeira
infância. Em uma sociedade acelerada, tomada cada vez
mais por casos de depressão ou ansiedade infantil, para
citar alguns dos sofrimentos contemporâneos, considero
que é muito inteligente, para quem tem filho pequeno,
fiar-se no pedido que Rubem Alves fez aos professores
anos atrás, mas perfeitamente atual, e que, a meu ver,
também pode ser estendido aos pais ou a quem cuida
diariamente do meninozinho ou da meninazinha:
“lembrem-se de que vocês são pastores da alegria, e que
a sua responsabilidade primeira é definida por um rosto
que lhe faz um pedido: ‘por favor, me ajude a ser
feliz’.”
Notinha
Sabemos hoje que há vários tipos de inteligência.
Algumas têm mais “força” em nós do que outras. No meu
caso, sempre soube das minhas inteligências naturalista
(profundo amor pela natureza) e linguística – esta
última me provocou para aprender a ler cedo...