Ética e infância
Os homens são bons de um modo apenas, porém são maus de
muitos modos. Aristóteles
Se você recordar as aulas de Filosofia, aprendemos na
escola que a ética – do grego éthos —
significa caráter e uma disposição individual para atuar
no mundo. Este é um conceito complexo e não é absoluto e
imutável, mas que pode ser cultivado desde a infância.
Qual é a importância da ética para as crianças?
A infância influencia largamente quem seremos quando
adultos. Por mais que sempre tenhamos a oportunidade de
melhorar, alguns traços fundamentais da personalidade
são definidos nos primeiros anos de vida. O caráter
ético é um deles: trata-se de uma orientação pessoal (e
fecunda) para bons valores que permanecerá conosco para
sempre.
Ensinar então sobre valores desde cedo para seu filho é
uma maneira de estimulá-lo a tornar-se uma pessoa mais
adequada e preparada para a vida em sociedade mais
tarde. Por considerar que as crianças de hoje são os
adultos do futuro, podemos dizer que ensinar ética para
crianças é contribuir para a formação de uma
sociedade/cidadania cada vez mais íntegra, justa e
tolerante.
Para ensinar ética a uma criança, você precisa conversar
com ela, e de modo reiterado, cotidiano, sobre valores
que orientam as pessoas no convívio social saudável,
como, por exemplo, a ideia de fazer o bem (manter a
cidade limpa, doar roupas, brinquedos, repassar os
livros lidos para crianças carentes etc.), de prezar
pela justiça (ser cordial e amistoso nas relações; não
nutrir preconceitos etc.), de ter honestidade (cuidar do
próprio material escolar, respeitar o material do colega
de classe, etc.), de ser solidário (ajudar o colega que
tem dificuldade em sala de aula, ajudar os pais nas
tarefas domésticas, etc.).
Estamos cansados de saber: as crianças aprendem pelo
exemplo. Pouco adianta explicar para as crianças o que é
justo ou o que é o que é desonesto, se no dia a dia os
pais cometem pequenas ações antiéticas. Filhos percebem
tudo, e o comportamento dos adultos tem uma influência
direta e enorme na sua formação. Em consequência, é
muito importante exercitar a autocrítica e usar os
momentos de transmitir valores aos filhos como uma boa
oportunidade para se aprimorar cada vez mais como ser
humano (autoeducação na vida adulta deve ser uma
constante). Obedecer às leis, às regras de trânsito, por
exemplo, ser honesto, cultivar respeito e tolerância por
todos, cuidar do meio ambiente ou preservar os bens da
Terra são atitudes essenciais e que são “verdadeiras
aulas” para as crianças.
Por fim, seja persistente. Os filhos aprendem pelo
exemplo e repetição. Não desanime, imponha limites,
exercendo sua autoridade por meio do afeto e do respeito
mútuo.
Notinha
Alguns especialistas, como Clóvis de Barros Filho,
professor da Universidade de São Paulo (USP), um
especialista no estudo da ética, argumenta algo
relevante: “educar é restringir”. E ele explica que “se
deixarmos uma criança solta, ela será guiada pelos seus
instintos”. Isso significa que impor limites é parte
fundamental na transmissão de valores, principalmente no
que se refere à obediência às regras. Se a criança não
tem nenhum limite em casa, terá muita dificuldade em
seguir regras na escola e na sua vida em geral. De outro
lado, impor limites não significa exercer uma autoridade
baseada em punições, terror e castigos. Exemplos
positivos, paciência, firmeza e persistência funcionam
de maneira excelente com as crianças.