Brasil
por Ana Moraes

Ano 16 - N° 789 - 11 de Setembro de 2022

 

 

Pedro Richard, o Peregrino do Evangelho

 

Nesta semana registrou-se mais um aniversário de nascimento de Pedro
Richard. Companheiro de Bezerra de Menezes, dos irmãos Sayão, de Maia de Lacerda, Leopoldo Cirne e outros, Pedro Richard foi um dos integrantes do Grupo Ismael, no Rio de Janeiro.


Primeiros tempos

Pedro Richard nasceu no dia 9 de setembro de 1853, na cidade de Macaé (RJ), filho de Pedro Richard e D. Felismina Richard, uma família modesta, mas de honorabilidade a toda prova. Órfão de pai aos nove anos de idade, tornou-se arrimo de sua mãe e de seus irmãos menores. Tinha adoração por sua genitora, que era de costumes austeros e de sentimentos elevados; era, aliás, carinhoso para a família.

Quando seu pai desencarnou, estava fazendo o Curso Primário, tendo que interromper os estudos para trabalhar numa casa comercial. Depois foi admitido como funcionário da Alfândega, melhorando assim seus rendimentos. Sério, consciente de suas responsabilidades, adquirira o hábito salutar de nada realizar sem muita reflexão. Seguia nisso, à risca, os conselhos do seu pai.


A família

Pedro Richard casou-se com D. Mariana Campos Richard, natural de Angra dos Reis (RJ), e tiveram seis filhos: Mário (desencarnado aos dois anos), Felismina, Pedro, Mário (2º), Izaura e Marta. Em certa época D. Mariana teve de costurar para fora, para ajudar na manutenção do lar. Foram dias de muitas preocupações, porém não perderam a esperança de melhores dias.

As dificuldades não os impediram de adotar uma criança necessitada: Francisco Antônio de Carvalho, que era parente longe de D. Mariana. Mais tarde o garoto foi motivo de muitas alegrias. Estudioso, aplicado, entrou para Escola Militar e se formou como Engenheiro Militar, honrando a dedicação dos pais adotivos. Chegou ao posto de Coronel do Exército e o que é mais importante, tornou-se, com o falecimento de Pedro Richard, o "patriarca" da família.


Ingresso no Espiritismo

A desencarnação do menino Mário, seu primogênito, levou Pedro Richard ao Espiritismo. O casal não compreendia como, diante da bondade imensurável de Deus, uma criança pudesse sofrer tanto. Nessa ocasião, conheceu o sr. Nascimento, médium e homem simples, do qual recebeu noções de como age a Justiça Divina, através da reencarnação, dando-nos oportunidade de progredir e também quitar faltas cometidas no passado.

A vida de Pedro Richard foi de permanentes realizações. Era capacitado, inteligente, trabalhador, ativo e empreendedor. Fundou uma firma de construções, com oficina de carpintaria, porém, para obter o registro de construtor, era necessário apresentar declaração de um engenheiro civil atestando que ele possuía capacidade para as funções. Recorreu então a um velho amigo da Federação Espírita Brasileira, Abel Ferreira de Mattos, engenheiro civil de prestígio, que veio em seu auxílio.


O Peregrino do Evangelho

Médium e dedicado à tarefa espírita, Pedro Richard tinha na prece seu maior ponto de apoio. Desenvolvendo a mediunidade de cura, fez-se instrumento dos Espíritos Superiores, para socorrer os sofredores.

Sua fé em Deus, Jesus e Maria não tinha limites, e sua palavra tinha o poder de deixar na lembrança daqueles que o ouviam o alento da fé. Era a transmissão simples da mensagem encorajadora, com a seiva da verdade cristã. Semeador das lições de Jesus, o fato levou Indalício Mendes a chamá-lo de "Peregrino do Evangelho".

Pedro Richard regressou à espiritualidade no dia 25 de outubro de 1918, no Rio de Janeiro, tendo deixado a Terra com a consciência tranquila do dever cumprido.


Na vida espiritual

No conto intitulado “No banquete do Evangelho”, constante do livro Novas mensagens, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, Humberto de Campos narra um encontro ocorrido na Casa da Ismael, em maio de 1939, sob a presidência do Espírito de Pedro Richard:

 

Ainda no dia 31 de maio último, nos reuníamos na Casa de Ismael, aguardando o banquete de iguarias espirituais. Discutíamos a moção apresentada pelo Dr. Carlos Fernandes, contrária ao Espiritismo, em nome da Sociedade de Medicina e Cirurgia, ao Ministério da Educação, e que reforçou a propaganda da “Hora Espírita Radiofônica” e assegurou mais essa vitória espiritual em nosso ambiente cultural. Comentávamos os acontecimentos do Rio e falávamos de suas personalidades mais eminentes, buscando, de vez em quando, uma imagem mais forte no acervo das ciências humanas, para justificar esse ou aquele conceito. Presidia à nossa assembleia a figura austera e simples de Pedro Richard, entidade amorável e amiga, em cujo coração fraterno encontramos as melhores expressões de fraternidade, em todos os dias. Richard não é o Espírito que trouxe do mundo a súmula dos tratados e das enciclopédias que correm os ambientes intoxicados do século, com as pretensões mais descabidas. Seu coração não se contaminou com o veneno do intelectualismo pervertido dos tempos que correm, mas a sua sabedoria é a do poder da fé que soube devassar o mistério da vida.

 

Na sequência, Humberto reproduz a fala do ilustre amigo a respeito do tema caridade:

 

“Irmãos: nesta Casa, temos de compreender que toda caridade, em seus valores mais legítimos, deve nascer do Espírito para o Espírito. As ideias religiosas do mundo não se esqueceram de monumentalizar as suas teorias de abnegação e bondade. Hospitais e orfanatos, abrigos e templos se edificaram por toda a parte; entretanto, o homem foi esquecido para o Conhecimento e para Deus. A caridade que veste nus e alimenta os famintos está certa, mas não está justa, se desconhece o Evangelho no santuário do seu coração. A obra de Ismael tem de começar no íntimo das criaturas. Aqui, não podem prevalecer os antagonismos do homem, no acervo de suas anomalias. Iniciar pelo fim é caminhar para a inversão de todos os valores da vida. A Casa de Ismael tem de irradiar, antes de tudo, a claridade do amor e da sabedoria espiritual, objetivando o grandioso serviço da edificação das almas. Primeiramente, é necessário educar o operário para os preciosos princípios e finalidades da máquina. Iluminado o homem, estará iluminada a obra humana. A evolução da alma para Deus se fará, então, por si mesma, sem desvios da meta a ser alcançada. Não haverá razão para o sacrifício de seus pregoeiros, porque em cada coração existirá um ostiário celeste.”


  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita