A falta de paz e o apego
Somos iludidos pela ideia da falta de paz e pelo desejo
de sentir esta “emoção” que está tão ausente em nós.
Para pudermos compreender a paz, tal como tudo o resto,
temos de perceber o que esta é.
É muito comum, ouvirmos as pessoas dizerem que gostariam
de ter mais paz, gostariam de ter vidas mais serenas.
É verdade que nem sempre a vida nos permite estarmos
calmos e em paz, mas quando nos permite, trocamos este
estado por alguma euforia ou problemas causados
mentalmente por nós próprios.
A primeira pergunta que temos de efetuar, é:
– O que é a paz?
A maioria das pessoas fica engasgada aqui, rodando o
pensamento por
– Bem … a paz é …. Quando estamos em paz … - e por aí
fora.
Se queremos saber o que é algo, temos que ponderar sobre
isso. Estes temas que parecem do conhecimento
generalizado, são muito complicados, mas o maior
problema deles, é acreditarmos que os conhecemos.
Voltando atrás – O que é a paz?
Depende a paz do local onde estou?
Se tiver na praia, para algumas pessoas, será mais fácil
sentir paz, mas para outras, o café ou botequim, é um
sítio divertido que os deixa em paz. Já muitas, vão
buscar paz a igreja ou templos, para outras num filme de
cinema. A paz não depende do sítio onde estamos, mas da
forma como estamos nesse local.
Então a paz depende do que fazemos?
Algumas das atividades que falei atrás e outras, são a
realização do desejo que as pessoas têm dentro de si, e
isso lhes traz alguma alegria e conforto momentâneo, que
se reflete como paz.
Por exemplo, a pessoa que gosta de ir ao café beber uma
bebida e conversar um pouco, encontra satisfação na
realização deste desejo. A pessoa que gosta de ver
filmes, encontra satisfação na realização do desejo
cinematográfico, e por ai fora. A satisfação de um
desejo conforta-nos com a paz interior durante um pouco,
mas esta está dependente da tarefa, logo, quando acaba,
leva consigo a paz.
Não é uma paz verdadeira, mas algo que nos traz uma
sensação parecida temporariamente.
A paz baseada em qualquer ato, ação ou no desfrutar de
um desejo realizado, está dependente disso e esta não
deve depender do que fazemos. A verdadeira paz, não
depende.
De que depende a paz?
Esta depende do nosso interior. Já todos sentimos paz em
situações complicadas e falta desta em situações calmas.
Vamos passar para o nosso interior. Como faço crescer a
paz em mim próprio?
As respostas serão, estando calmos, serenos, sem
confusão. Etc…
E o que é isto da calma, serenidade, etc…?
É não nos enervarmos, zangarmos, indignarmos,
frustrarmo-nos etc.
Reparem que passamos para os atos negativos, os nossos
defeitos.
Quando acontecem os impulsos que nos levam a agir
erradamente, ficamos sem paz. Se não tivéssemos o desejo
de construir a vida segundo os nossos parâmetros,
corrermos constantemente para sanar os nossos desejos,
lutarmos constantemente connosco e com os outros,
teríamos falta de paz?
O apego as nossas ideias, aos nossos desejos, aos nossos
vícios, a razão, ao nosso ser terreno, é o reator
impulsivo à nossa ação que nos rouba a paz.
O Mestre aconselha-nos a resignação para não lutarmos
com os outros, connosco e com a vida, e ao aumento da
nossa fé, para deixarmos nas mãos de Deus este movimento
enorme que queremos controlar com os nossos impulsos.
Aprendermos a não seguir as nossas más tendências,
permitir que os impulsos morram sem ação, é o caminho do
desapego que nos oferta paz.
Para percebermos o apego, podemos lembrar que em nossas
cabeças surgem muitas ideias ou movimentos, algumas
apelidamos de “parvas”, quem não disse a si próprio –
Que pensamento mais parvo -. São aquelas que já não tem
o mínimo poder sobre nós, ou seja, não temos qualquer
apego.
Outras dizemos de antemão que não podemos fazer aquilo,
seria errado, estas também já não têm muita força em
nós, embora se estejamos desatentos, poderão nos
enganar.
As que tem mais força em nós, ou que somos mais
apegados, são aquelas que não conseguimos fazer frente,
agimos seguindo a ideia, como um alcoólico bebe sem
qualquer capacidade de contrariar o desejo. Estas
últimas, formam os nossos defeitos de caráter.
Por último, as do meio, que sabemos que estão erradas,
de vez em quando acedemos e agimos, por outras vezes
conseguimos fugir ao seu hipnotismo. Tem muito a ver com
o estado de espirito com que estamos.
Estes são os diversos graus de apego que vivenciamos na
terra. Eles não são divididos de forma tão linear como
fiz, mas têm os mais diversos níveis de dificuldade,
desde o que nos escraviza até aos que não mexem connosco.
A falta de paz está intimamente ligada aos impulsos que
nos escravizam, aos quais somos extremamente apegados.
Ganhando força para nos irmos desapegando destes
impulsos, conquistamos a nossa paz.
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