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por Maria de Lurdes Duarte

 

A hora das escolhas


Viver e ser feliz é anseio de todo o ser humano. Cada um de nós, de acordo com a sua visão pessoal do que considera ser a felicidade, define objetivos e traça metas do que deseja alcançar e que pensa ser imprescindível para a obtenção de momentos de gozo e felicidade. Criamos expectativas, construímos sonhos e pensamos “quando conseguir, serei feliz”. Entretanto, qual a realidade das nossas vidas? O que pensamos ser a felicidade, não passa de uma série de momentos fugazes que raramente nos trazem a ventura por que esperávamos. Momentos ilusórios, efémeros, que passam por nós a uma velocidade decepcionante, deixando a triste sensação de que não existe, verdadeiramente, felicidade neste mundo.

Será isso realmente verdade? Não será possível alcançar a felicidade neste mundo? Dizem-nos as religiões tradicionais que não. Que neste mundo temos de sofrer, que a ventura só iremos encontrá-la num céu futuro, se o merecermos, pois é essa a vontade de Deus. Entretanto, esse céu aparece-nos como um lugar de que pouco ou nada sabemos, que nos surgirá apenas após a morte, e que para o merecermos teremos de cumprir um sem número de requisitos, entre os quais se encontra o aderir a esta ou aquela religião com todas as suas práticas e ritos, sob pena de não sermos considerados suficientemente bons para o habitar. É um lugar envolto em mistério, com a agravante de que, se não formos merecedores, após uma vida de sofrimento, seremos dele excluídos irremediavelmente. É, portanto, um lugar só para eleitos, algo muito distante das humildes expectativas da maior parte de nós. Não admira que cedo essa ideia de felicidade exclusivamente futura tenha levado ao desencanto, contribuindo para a disseminação das ideias materialistas e para a busca da felicidade em algo mais palpável e imediato. Palpável e imediato, mas que, comprovadamente, não nos tem feito felizes como desejamos.

Voltamos à questão: não será possível alcançar a felicidade neste mundo? E se não, então porquê? Não nos criou Deus para sermos felizes? Jesus apresentou-nos Deus como um Pai. Qual o maior desejo de qualquer pai terreno? Não será a felicidade dos seus filhos? Para isso trabalha, para isso os educa, para isso os cria como maior amor. Para que sejam felizes. A felicidade dos nossos filhos é a nossa felicidade. Então, seria Deus um Pai menos amoroso e desvelado do que qualquer pai terreno?

Deus criou-nos para a felicidade eterna. Mas onde está essa felicidade? Certamente cada um de nós terá uma opinião pessoal sobre o que ela representa. Por isso, sendo uma noção tão pessoal, dependerá de nós e apenas de nós o alcançá-la. Se a colocarmos nos objetos, nos bens terrenos, nas aquisições materiais, nas atitudes dos nossos semelhantes, estaremos a colocá-la em algo completamente exterior a nós. Ensina-nos Jesus que a felicidade é uma conquista do Espírito. Cultiva-se no âmago dos nossos corações, nas nossas atitudes perante a vida, na forma como encaramos tanto as dificuldades e obstáculos que se nos apresentam como as alegrias e sucessos da vida. Podemos encarar a felicidade não como um objetivo de vida, mas sim como um caminho para atingirmos os nossos objetivos.

Que objetivos serão esses? O que nos diz sobre isso a Doutrina Espírita? Pensemos em qual a razão pela qual estamos neste mundo, na presente existência, como em todas as outras que deixámos para trás (ou nas que se seguirão após a atual). A vida é contínua. Desde que fomos criados, destinamo-nos à eternidade. Cada existência terrena constitui uma etapa em que faremos novas aprendizagens nos variados campos que formam a nossa humanidade: espiritual, intelectual, moral, psicológico… Numas etapas, temos saído vencedores. Noutras, nem tanto. Na senda da evolução, nem sempre a caminhada tem sido em linha reta ascendente. Alguns têm sido os avanços, mas inúmeras têm sido as quedas. Isto acontece no caminho de todos nós, sem exceção, porque todos fomos criados simples e ignorantes, com vista à ascensão por nosso próprio esforço, mas que nosso seja também o mérito. De vez em quando, a dor chama-nos ao caminho certo; é um alerta. Isto não acontece porque Deus se queira vingar ou porque se sinta ofendido perante os nossos erros. Ele, como nosso Criador, conhece as nossas fragilidades e ama-nos incondicionalmente. Mas a dor é decorrente das nossas próprias falhas. Faz parte das condições físicas e morais do planeta que habitamos. À medida que nos aperfeiçoamos, e contribuímos para o aperfeiçoamento do nosso planeta, melhoramos as suas e nossas condições e diversos motivos de dor e sofrimento vão desaparecendo. Vivemos, tal como nos ensina o Consolador, num mundo de provas e expiações. Se estamos aqui, é porque temos algo a expiar e necessitamos ainda de passar por provas que nos levarão a melhores condições intelectuais e espirituais. Por conseguinte, somos forçados a concluir que, se já não necessitássemos dessas provas e expiações, estaríamos, neste preciso momento, num mundo melhor, onde a dor já não seria entrave à felicidade.

Dizem-nos os Espíritos que o nosso mundo está na fase de transição para mundo de Regeneração. É uma fase de seleção, de escolhas. É talvez a última oportunidade de, aqui neste mundo, fazermos as escolhas certas. A Terra vai passar a mundo de Regeneração. E nós? Estaremos aqui, nesse Novo Mundo, na nossa próxima reencarnação? Seremos capazes de sintonizarmos com esse novo estado em que a felicidade esteja mais nas aquisições espirituais, no cultivo dos valores, no trabalho desinteressado em favor do nosso crescimento e no bem-estar do próximo, no “Amai-vos uns aos outros”, no “Fora da Caridade não há salvação”, no “Amai-vos e instruí-vos”?

As condições para a felicidade estão dentro de nós, Deus colocou em nós as sementes do bem, do amor, do belo, no momento da criação. Sementes destinadas a dar fruto, à medida que fossemos descobrindo os valores capazes de as fazer desabrochar. Durante muito tempo, demasiado, temo-nos concentrado nas aquisições materiais, nos bens exclusivamente terrenos. Essa busca tem-nos desiludido. Sentimo-nos perdidos, se não a substituirmos por respostas capazes de nos alçarem a um conceito mais alargado de felicidade. As respostas são-nos dadas por Jesus. Como Ele próprio diz “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.  Os Seus ensinamentos, e mais ainda os Seus exemplos de Vida, são aquilo de que precisamos para perceber onde colocar as escolhas certas.

Então, e os bens materiais, devemos prescindir deles? Como seres habitantes de um mundo material, não podemos prescindir da matéria. Os bens que adquirimos de forma honesta através do nosso trabalho, são imprescindíveis para o bem-estar físico, para aquisição de conhecimentos, para a experiência quotidiana na Terra em sobressaltos de maior, permitindo-nos a estabilidade necessária a que nos dediquemos a outras conquistas maiores. A desilusão vem quando nisso colocamos a condição para sermos felizes.

É uma questão de prioridades. Temos de olhar bem dentro de nós mesmos e descobrir o que nos faz realmente felizes. O que nos leva ao equilíbrio, à paz interior, a uma ventura mais duradoura, o que faz de nós seres mais completos. Peçamos a Deus que nos ajude aa fazer as escolhas certas e não nos esqueçamos que a felicidade é um caminho. Em qualquer lugar, em qualquer tempo, em qualquer circunstância podemos ser felizes. Basta seguir Jesus. “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita