A palavra que aproxima é
a palavra que segrega
O homem, ser gregário que é, precisa
conviver para progredir. Seu insulamento
o embrutece, pois, o impede de
desenvolver novas faculdades e de
auxiliar o progresso dos outros e das
instituições.
Em o Livro dos Espíritos na
questão n. 766, Allan Kardec questiona
se a vida social está na Natureza,
obtendo a seguinte resposta:
“Certamente. Deus fez o homem para viver
em sociedade. Não lhe deu inutilmente a
palavra e todas as outras faculdades
necessárias à vida de relação.”
Na ambiência coletiva o diálogo é uma
das vias que Deus concede ao ser humano
para aproxima-los uns dos outros,
criando conexões e relacionamentos de
variadas ordens.
Sendo o
verbo criação divina, do mesmo caráter
se revestirá o seu propósito. Pela
palavra, Deus espera que o homem ensine;
motive; solucione; congregue; console e
depure a si mesmo e ao seu próximo.
O ser
humano, no entanto, dominado por suas
más paixões e
influenciado pelas dos outros, faz da
língua ferramenta de reclamação,
falatório, maledicência e
julgamento.
Reclama,
pois, a insatisfação é estado emocional
que o acompanha, por reivindicar a todo
momento o que não tem. Pelo falatório
imerge com os demais de seu grupo em
longos debates acerca de temas chulos,
fúteis e levianos comprazendo-se em
falar a respeito da vida alheia. E se
vale da maledicência como mecanismo de
defesa, pois, falar das imperfeições do
outro é colocar sobre elas o holofote
que deveria estar sobre as suas próprias.
No
julgamento o homem orgulhoso negligencia
seu dever de indulgência, para através
do verbo humilhar o outro. Renuncia
muitas vezes valiosa oportunidade de
auxílio e progresso do próximo, para se
colocar em posição de superioridade,
afastando-o de sua convivência.
No Evangelho Segundo o Espiritismo,
Kardec insere instrução dos Espíritos
intitulada “Missão do homem
inteligente na Terra”, cujo excerto
destacamos:
A inteligência é rica de méritos para o
futuro, mas sob a condição de ser bem
empregada. Se todos os homens que a
possuem dela se servissem de
conformidade com a vontade de Deus,
fácil seria, para os Espíritos, a tarefa
de fazer que a Humanidade avance.
Infelizmente, muitos a tornam
instrumento de orgulho e de perdição
contra si mesmos. O homem abusa da
inteligência como de todas as suas
outras faculdades e, no entanto, não lhe
faltam ensinamentos que o advirtam de
que uma poderosa mão pode retirar o que
lhe concedeu. – Ferdinando, Espírito
protetor. (Bordeaux, 1862.)
Acerca do
poder do diálogo lançamos luzes sobre
importantes ensinamentos da professora
Maria Helena Damasceno e Silva Megale:
“Tagarelar, em geral, todos nós fazemos.
Nem sempre, porém, conversamos no
sentido genuíno do termo, de modo
hospitaleiro, acolhendo com atenção a
palavra do outro. Limitamo-nos, muitas
vezes, como alguns dizem, a jogar
palavra fora. Mas palavra não é coisa
sujeita a descarte. É um lugar para se
buscar o que de mais preciosos a vida
requisita na confabulação como no
silêncio, na esperança do encontro – com
Deus, com o semelhante e consigo mesmo.
Conversar é trocar palavras, permitindo
ao interlocutor depositar no mais íntimo
a palavra dada e entregar-lhe aquela
escolhida com apreço. (...) Conversar é
tentar superar limites para entender o
outro e chegar a si mesmo, superando
tentações de ouvir apenas ecos. É
ultrapassar o infortúnio de ouvir do
outro o que nós mesmos precipitadamente
colocamos em suas palavras. É, entre
outras aventuras, ouvir com amizade e
dizer com cuidado, guardar um pouco do
outro e permitir que um pouco de nós
seja levado de modo fraterno. O
verdadeiro diálogo é alimento precioso
para alma.”
Na vida
de relação o diálogo é mecanismo de
conhecimento, mas, acima de tudo da
compreensão. Dialogar é forma de amar o
próximo. Pavimentada com o ouvido
fraterno e a palavra piedosa,
a via dialógica é auxílio que
desconstrói a projeção do “eu” no
outro, pelo respeito à individualidade e
o entendimento do “nós”.
Quanto a palavra que socorre e o ouvido
que ouve, destacamos duas importantes
lições de Emmanuel:
“Se as estrelas da sabedoria e do amor
te povoam o coração, não humilhes quem
passa sob o nevoeiro da ignorância e da
maldade.
Gradua as manifestações de ti mesmo para
que o teu socorro não se faça
destrutivo.
Se a chuva alagasse indefinidamente o
deserto, a pretexto de saciar-lhe a
sede, e se o Sol queimasse o lago, sem
medida, com a desculpa de subtrair-lhe o
barro úmido, nunca teríamos clima
adequado à produção de utilidades para a
vida.
Não te
faças demasiado superior diante dos
inferiores ou excessivamente forte
perante os fracos”
“A palavra é vigoroso fio da sugestão.
É por ela que recolhemos o ensinamento
dos grandes orientadores da Humanidade,
na tradição oral, mas igualmente com ela
recebemos toda espécie de informações no
plano evolutivo em que se nos apresenta
a luta diária.
Por isso
mesmo, se é importante saber como falas,
é mais importante saber como ouves,
porquanto segundo ouvimos, nossa frase
semeará, bálsamo ou veneno, paz ou
discórdia, treva ou luz.”
Saibamos, pois, deixar de lado os nossos
caprichos para não macularmos a palavra
nos momentos que seu uso é reivindicado,
cooperando com o progresso de todos.
Referências
bibliográficas:
DIAS, Haroldo Dutra
(Trad.), 1971- O novo testamento,
tradução de Haroldo Dutra Dias. – 1. ed.
– 11. imp. – Brasília: FEB, 2020.
EMMANUEL (Espírito). Palavras
de vida eterna. Psicografado por
Francisco Cândido Xavier. Uberaba:
Edição CEC, 1998.
EMMANUEL (Espírito). Fonte
viva. Psicografado por Francisco
Cândido Xavier. Rio de Janeiro: FEB,
2000.
EMMANUEL (Espírito). Segue-me!...
Psicografado por Francisco Cândido
Xavier. Matão: O Clarim, 2012.
KARDEC, Allan. O Livro
dos Espíritos. Trad. de Salvador
Gentile; rev. Elias Barbosa. Araras:
IDE, 2009. 182 ed.
KARDEC Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo.
Trad. Guillon Ribeiro. Brasília: FEB,
2018. P. 316.