Um pouquinho antes de
morrer...
O leitor atento da Revista Espírita, que
vai acompanhando as publicações e, por
consequência, o desenrolar do pensamento
de Kardec, compreende que Kardec faz jus
ao ditado: quanto mais velho, melhor. Um
pouco antes de desencarnar, final de
1868 e início de 1869, Kardec produziu,
na já citada revista, textos muito
inspirados.
E foi no mês em que desencarnou que
Kardec trouxe um texto e o denominou de
“Conferências sobre o Espiritismo”, que
abordaremos neste espaço.
Neste texto, Kardec narra sobre um
indivíduo que subia à tribuna para,
definitivamente, colocar o Espiritismo
em seu devido lugar e descontruir o
edifício espírita.
Seria tudo, dizia o orador, fruto da
eletricidade animal. Fenômenos espíritas
são facilmente explicados pela dinâmica
da eletricidade animal. De fato, o
crítico à ideia espírita não negava os
fenômenos, mas dava-lhes as explicações
conforme sua maneira de enxergar, pouco
preocupado em sanar todos os problemas
da equação que vai muito além das
questões materiais.
Logo no início, Kardec lembra que o
orador esqueceu o essencial: a parte
filosófica e moral do Espiritismo. Para
Kardec é a parte moral que fará o
Espiritismo adentrar o tecido social e
transformar as pessoas, por conseguinte,
o mundo.
O bacana de ler Kardec é que um texto
que visa ensinar em uma direção, oferece
inúmeros elementos de reflexão a
levar-nos para os mais diferentes
lugares do conhecimento.
Vamos, dentre os muitos aspectos que
podemos pensar deste escrito, ater-nos
na parte em que fala da propaganda.
Uma ideia mesmo atacada, caso seja
verdadeira, resiste ao árduo trabalho
feito pela mentira, pois que as
falácias, por mais habilidosas que
sejam, cedo ou tarde desmoronarão, já a
verdade, persiste, mesmo contra tudo e
todos.
Para Kardec, falar de algo, mesmo que
mal, é fazer a ele propaganda gratuita,
pois aqueles que desconhecem determinada
coisa, por meio das críticas passarão a
conhecê-la. Pior ainda se a crítica
chega ao mundo dos curiosos, pois que
estes não ficarão satisfeitos com apenas
uma opinião e buscarão adiante, e neste
adiante poderão encontrar fontes que
desmentem a crítica a mostrar um mundo
para além da superfície.
Criticar, portanto, a depender do
momento e do nível de entendimento do
público pode ser expediente que faz “gol
contra”.
Se de uma realidade não escapamos,
contudo, é a de que o Espiritismo, na
época, fazia muito sucesso e
espalhava-se pelo mundo.
Hoje, lendo este texto de Kardec e
pensando na questão que envolve a
propaganda, constatamos que Kardec tinha
mesmo razão: falar de alguma coisa é dar
a esta coisa publicidade gratuita.
Aliás, este era um pensamento também dos
Espíritos, pois que foram eles a
informar Kardec a deixar os críticos
falarem do Espiritismo.
A Lei do Progresso é uma verdade
inquestionável: mesmo que atuemos
contra, como é da lei, o progresso
ocorrerá, senão pelas mãos dos
partidários, mas pelos próprios
críticos, que trabalham a favor,
pensando agir contra.
Enquanto isso o tempo caminha colocando
as coisas em seus devidos lugares.