Espiritismo e cultura
Estuda-se o Espiritismo para saber e também para
viver. O saber sem a vivência é pura
ornamentação
“Espíritas,
amai-vos; espíritas, instruí-vos” -
O Espírito da Verdade
O Espiritismo além de muitas outras coisas
importantes é também cultura, como por exemplo:
roteiro de luz, emancipador de almas, Consolador
prometido, etc., e a bibliografia espírita é
riquíssima mostra desse aspecto cultural,
portanto, o espírita jamais poderá abrir mão do
uso (sem preguiça) de um bom dicionário, para o
seu próprio enriquecimento cultural.
No prefácio de
seu livro: “O Amor Como Solução”, pela
psicografia de Divaldo Franco, a nobre Mentora
Joanna de Ângelis afirma: “(...)
nunca tivemos a veleidade de apresentar textos
estilizados, difíceis, de complicado
entendimento, mas procuramos manter o cuidado de
apresentá-los de maneira correta quanto
possível, em linguagem escorreita, considerando
a beleza, a complexidade e a riqueza vocabular
da língua portuguesa, de alguma forma
contribuindo para a valorização da cultura e do
melhor esclarecimento daqueles que estão
interessados no aprimoramento moral e
intelectual com que a existência os favorece”.
Podemos, assim, observar que a par do
enriquecimento doutrinário, existe –
paralelamente – o enriquecimento cultural, nas
leituras espíritas.
Com seu
indiscutível discernimento, Deolindo Amorim disserta
sobre a cultura em suas variegadas nuanças
conceituais e principalmente sobre a cultura
espírita:
“(...) A palavra cultura, no uso corrente,
significa simplesmente “refinamento da
inteligência” ou bagagem intelectual:
cultura literária, filosófica, científica, etc.
Geralmente se confunde cultura com erudição,
quando a erudição, na realidade, é apenas um
instrumento, um meio, aliás, indispensável,
porque indica as fontes e fornece informações,
mas a cultura tem outros aspectos: visão de
conjunto, espírito analítico, enriquecimento de
aquisições em sentido progressivo, contribuição
própria, desvela relações novas, e assim por
diante... Cultura não é mera repetição do que se
lê e grava na memória. Podemos entender a noção
de cultura em acepções diferentes, dependendo,
é claro, do contexto em que esteja situada.
Dentro de um contexto literário, obviamente cultura
significa lastro intelectual, adornado com o
fulgor da inteligência e a expressão estética
das formas de expandir o pensamento. Já no
contexto das ciências sociais, entretanto, a
palavra cultura tem outro valor, muito
diferente. Quando o homem de letras e o
cientista social falam em cultura, até parece
que usam línguas estranhas, pois os termos estão
muito distanciados na significação...
Para o homem que se dedica às ciências sociais
(antropólogo ou sociólogo, por exemplo), cultura
é o conjunto de técnicas, costumes, símbolos,
crenças, valores, etc. Isto é o que, na
linguagem antropológica, se chama "complexo
cultural". Todo esse conjunto, que traduz o
modo de vida do homem dentro de seu habitat,
é o que caracteriza uma cultura, tanto faz em
grupos australianos como nas tendas dos
esquimós.
Cultura, finalmente, em termos de Etnologia ou
Antropologia Cultural, como preferem alguns
autores, é tudo quanto possa revelar um sistema
de vida, começando pelos instrumentos de
trabalho, seus artefatos, seus tabus: o
polimento de qualquer utensílio de caçar, um
arco de índio, a forma de preparar os alimentos,
a cerimônia do matrimônio, a maneira de render o
culto às suas divindades, seja nos grupos mais
primários, seja nos confins do mundo, todo esse
complexo é a cultura do grupo, da tribo, em
linguagem de ciência social. Dentro desta
conceituação global, há uma divisão entre
cultura material e cultura espiritual. Chama-se
cultura material o acervo de objetos de uso,
técnicas moradia, etc..., enquanto a cultura
espiritual diz respeito aos valores subjetivos:
adoração, evocações espirituais, noções de vida
futura. Há tratadistas que não adotam essa
divisão em termos rígidos, por entenderem que o
elemento material e o espiritual são
simplesmente aspectos da cultura, tomada em
termos integrais. A divisão seria apenas
didática. Antes de chegarmos ao ponto de mais
interesse para nós - a cultura espírita -
devemos fazer algumas observações, que nos
parecem necessárias, a respeito do caráter da
cultura em relação a seus fins, suas aplicações:
Cultura desinteressada e cultura prática
Há dois tipos de cultura, bem distintos: a
cultura desinteressada, que permite o saber pelo
saber, e a cultura profissional ou prática, que
visa a um fim imediato. A cultura intelectual,
quer nas especulações filosóficas, quer na
literatura ou nas ciências, nas artes, etc.,
cogita do conhecimento puro ou intensivo,
porque se empenha em descobrir a verdade que lhe
interessa ou, quando não é assim, deseja apenas
enriquecer a inteligência, "ilustrando o
espírito", como se diz. É a cultura
desinteressada, porque não tem um objetivo
imediato, um programa de ordem profissional, um
compromisso condicionante. Há, entretanto, uma
cultura que é realmente interessada, porque se
realiza em função de um interesse direto: é a
cultura profissional, cujo objetivo não é o
saber puro e profundo, mas o substrato de
conhecimentos suficientes para um programa de
vida.
Cultura Espírita
Em termos simples, cultura espírita é
conhecimento do Espiritismo em todos os
aspectos.
Como nos outros campos de cultura, o estudo
sério do Espiritismo reclama pelo menos três
condições psicológicas: perseverança, espírito
crítico, isenção de prevenções ou ideias
preconcebidas. É certo que a cultura espírita
também é desinteressada, também é especulativa,
até certo ponto, mas não fica no plano puramente
teórico, uma vez que tem implicações normativas,
porque afirma a predominância de valores
éticos: a moralidade individual, a reforma
íntima do homem, o amor como base da convivência
humana, a dignidade intelectual. Estuda-se o
Espiritismo para saber e também para viver. O
saber sem a vivência tem efeito apenas
ornamental. Ninguém estuda seriamente uma
doutrina tão complexa e tão profunda, como o
Espiritismo, apenas para brilhar, conquistar
fama ou consolidar posições de prestígio social.
Não! É uma cultura de aplicação aos atos de
responsabilidade, em qualquer circunstância,
visando sempre e acima de tudo à predominância
do lado espiritual da vida e ao melhoramento
moral do ser humano. O conhecimento da Doutrina
Espírita em profundidade torna o portador ou
detentor dessa cultura cada vez mais responsável
pelo uso que venha a fazer das faculdades
espirituais, pois muito será pedido àquele a
quem muito foi dado, adverte o Evangelho.
Não podemos falar em cultura espírita sem dizer
que a sua fonte primacial é a Doutrina
codificada por Allan Kardec, portanto, não se
pode formar a legítima cultura espírita sem a
Doutrina, sem o conhecimento seguro de sua fonte
básica.
Denominação adequada
Existe uma propensão para descaracterizar a
Doutrina Espírita, enquadrando-a em
configurações indefinidas ou pouco precisas de
espiritualismo, universalismo, psiquismo, como
se tudo isso não estivesse no próprio corpo da
Doutrina. Pelo fato de haver muito
desenvolvimento no campo da cibernética, da
eletrônica e da física, por exemplo, o que,
aliás, ninguém pode desconhecer, já se pensa que
a Doutrina Espírita perdeu a razão de ser...
Então, a Doutrina deveria adaptar-se a nova
sistemática, substituindo até seus termos
específicos. Diluição pura e simples do
Espiritismo, que não seria mais Espiritismo e,
sim, qualquer elemento de combinação
terminológica. Daí, naturalmente, uma
consequência inevitável: a Doutrina Espírita
entraria, como parte, na conjugação de um
sistema diferente, não seria mais um todo
homogêneo, com características inconfundíveis.
E até o nome de Espiritismo, que lhe é
inerente, terminaria desaparecendo na
elasticidade ou na fluidez de um neologismo
inovador. Mas o Espiritismo não é uma teoria,
pois uma teoria é uma hipótese de trabalho, e
toda hipótese está sujeita a substituição e
reformulação: o Espiritismo é uma doutrina,
sabem-no todos quantos o estudam bem, e uma
doutrina, em seu verdadeiro sentido, pressupõe
uma constituição assentada sobre experiências e
princípios. Assim é a Doutrina Espírita. Não se
pode fazer adaptações a formas e fórmulas
criadas por situações transitórias...
(...) Se uma doutrina, que já é tradicional, que
já foi testada e confirmada por mais de um
século de experiência como é o Espiritismo,
amolda-se a um esquema diferente, abre mão de
sua nomenclatura, suas afirmações fundamentais,
transformando-se em mero compartimento de uma
combinação, claro que compromete toda a
estrutura que lhe é característica. Isto
significa, nada mais, nada menos,
despersonalizar a Doutrina.
O Espiritismo
tem, portanto, expressões claras, tem uma linha
de pensamento seguramente definida, tem uma
direção inequívoca e, por isso mesmo, é
uma doutrina inamoldável a improvisações e
"ajustamentos".