Lavoura agreste
Devotar-se ao próximo traz felicidade à pessoa?
Compartilhar tempo e a própria vida com o semelhante
pode ser recompensador? Sim, se a resposta for baseada
na vida e nos atos do personagem Emílio, do romance Lavoura
Agreste, livro lançado no meio espírita em 2012 (1).
Nessa história de renúncia pouco comum nos dias de hoje,
um sertanejo inteligente e moralizado dedica sua vida a
minorar o sofrimento dos seus irmãos nordestinos,
esquecendo da própria personalidade em favor do que
considera mais importante do que qualquer desejo seu: a
vivência da caridade autêntica ensinada no Evangelho de
Jesus. E isso lhe traz imensa felicidade.
A questão da felicidade tem desafiado filósofos e
pensadores desde sempre. Muito já se pensou sobre ela na
tentativa de se encontrar caminhos que levem o homem a
tomá-la nos braços. Os resultados dessa busca, porém,
não têm sido muito animadores, pois parece que a
felicidade independe do “ter”, e é exatamente aí que a
grande maioria dos homens a procura, não conseguindo
retê-la, como quem quisesse pegar fumaça com as mãos.
Em nosso mundo, este sentimento – felicidade – está
associado ao prazer egoísta e ambicioso que tem levado o
homem a exaurir suas energias e desperdiçar o tempo da
encarnação. O Espiritismo ensina que a felicidade está
na direção oposta da que temos tomado desde tenra idade,
em função de uma educação não voltada para o Espírito,
mas apenas para a regulação das relações sociais.
Emílio, o personagem central do romance Lavoura
Agreste, no entanto, vive como aquele “homem sensato
(que) para ser feliz, olha para baixo e jamais para os
que lhe estão acima, a não ser para elevar sua alma ao
infinito” (2). O autor se inspirou em dois
capítulos de O Livro dos Espíritos: “Perfeição
Moral” e “Penas e Gozos Terrenos”, onde Allan Kardec,
estudando as virtudes e os vícios humanos, relaciona a
felicidade do homem na Terra ao seu maior ou menor apego
aos bens materiais, fator este que lhe pode aumentar ou
suavizar os sofrimentos durante a vida.
Servindo ao próximo com desinteresse pessoal, dividindo
conscientemente os bens materiais e morais com seus
pares, esse Emílio não carrega em si nenhuma sensação de
perda, ao contrário: a conduta solidária preenche o seu
coração de alegria e prazer espiritual. Sem dúvida, um
exemplo a ser seguido, porque inspirado no mais perfeito
modelo de que dispõe a humanidade para se espelhar:
Jesus.
Consta no último capítulo: “Emílio fez a sua parte
enquanto viveu. Ajudou a aproximar os sofredores dos
belos conceitos morais do Cristianismo, de forma a ver
transformada – ainda que aos poucos fosse – aquela
realidade agreste, não propriamente da terra, mas do
coração e da mente do sertanejo, seu irmão”.
Portanto, quem possa ler Lavoura Agreste terá ao
final a nítida certeza de que caridade e felicidade
andam juntas, de mãos dadas.
(1) Lavoura
Agreste, Cláudio Bueno da Silva, Mythos Books, São
Paulo.
(2) Questão
923 de O Livro dos Espíritos, LAKE Editora, SP.
|