Internacional
por Thiago Bernardes

Ano 16 - N° 797 - 6 de Novembro de 2022

 

Se estivesse entre nós, César Lombroso festejaria aniversário nesta data

 

Num dia como hoje - 6 de novembro - nasceu em 1835, em Verona, Itália, César Lombroso, psiquiatra, antropólogo, professor e autor do
clássico Hipnotismo e Mediunidade, tradução da obra Fenomeni Ipnotici e Spiritice, publicado em nosso idioma pela
Federação Espírita Brasileira.


Vida e obra

Lombroso nasceu em uma abastada família judaica. Seus pais foram Aronne Lombroso, mercador de Verona, e Zeffora Levia, de Chieri, cidade próxima a Turim.

Iniciou seus estudos em Medicina em 1852 na Universidade de Pavia, formando-se em 1858, aos 23 anos. Mais tarde doutorou-se em Psiquiatria.

De 1859 a 1865 foi médico voluntário no recém-formado Exército nacional. Em 1867, fundou a Revista Trimestral Psiquiátrica, a primeira revista de psiquiatria da Itália. Dirigiu o Manicômio de Pádua de 1871 a 1876. Foi professor de Psiquiatria, na Universidade de Pavia, e de Higiene e Medicina Legal na Universidade de Turim.

Sua experiência psiquiátrica foi muito influente em sua associação da demência com a delinquência.

Foi um dos fundadores da corrente positivista do Direito Penal. Suas pesquisas e seus livros, notadamente sobre antropologia criminal, tornaram-no conhecido e respeitado mundialmente. Perquirindo sobre as causas primeiras dos atos delituosos, direcionou a atenção dos estudiosos à pessoa do delinquente, visando precipuamente à humanização das penas. Concebeu a chamada “teoria do criminoso nato”, também conhecida como “teoria lombrosiana”, ainda hoje estudada nas Faculdades de Direito e de Medicina. Como os materialistas de sua época, acreditava que a personalidade moral nada mais era que a secreção do cérebro. E, nessa linha de raciocínio, a morte tudo extinguiria.


Relação com o Espiritismo

Durante muitos anos Lombroso negou os fenômenos paranormais, considerando-os como charlatanice e credulidade simplória. Chegou mesmo a ridicularizar as manifestações espíritas com a publicação do opúsculo "Studi sull'ipnotismo" (Turim, 1882). Entretanto, a convite do conde Ercole Chiaia para que estudasse melhor o assunto, em 1891 conheceu e participou de sessões realizadas com a médium italiana Eusápia Paladino, vindo assim a considerar como autêntica a produção dos fenômenos e manifestações espíritas, a cujas pesquisas se dedicou a partir dessa época.


O encontro com sua mãe

Em 1902, em outra sessão, Eusápia Paladino foi encerrada numa jaula, literalmente amarrada numa cadeira confortável. A jaula foi fechada e envolvida por pesados reposteiros. De repente, Lombroso percebeu que das cortinas emergiu um vulto, que veio deslizando em sua direção. Um arrepio intenso percorreu-lhe a epiderme e seus pelos ficaram eriçados. Ele reconheceu que ali estava sua mãe, que se aproximou mais e mais, abraçou-o carinhosamente e beijou-lhe a face. Ele a abraçou também, sentiu sua carne, sentiu seu calor e, embora já um pouco surdo, ouviu-a distintamente dizer-lhe em dialeto: “meu filho”.

Por essa época, ele registrou em uma carta: "Estou muito envergonhado e desgostoso por haver combatido com tanta persistência a possibilidade dos fatos chamados espiríticos; mas os fatos existem e eu deles me orgulho de ser escravo".

O fenômeno atrai, a doutrina orienta. Lombroso devorou tudo que havia sobre Espiritismo e tornou-se espírita. Entre outros, escreveu um livro muito sugestivo, traduzido para o português e editado pela FEB. Na obra ele refuta sua teoria do criminoso nato. Não é o tipo físico que determina o tipo psicológico. É exatamente o contrário. O espírito reencarnante é quem, acoplando-se ao óvulo fertilizado, passa a dirigir a multiplicação e a diversificação das células, direcionando-as à constituição dos mais diversos tecidos do corpo, conforme modelo adredemente impresso em seu corpo espiritual. É o que a ciência de vanguarda denomina “MOB – modelo organizador biológico”, encarregado da elaboração e da manutenção do corpo físico.

No prefácio da citada obra, Lombroso confessou que seus melhores amigos tentaram demovê-lo da intenção de publicá-la, que certamente viria denegrir sua reputação. Todavia, tendo consagrado sua vida ao desenvolvimento da psiquiatria e da antropologia criminal, entendeu dever coroar sua carreira de lutas pelo progresso das ideias, defendendo a ideia mais contestada e zombada do seu século. Assim, não hesitou em refutar a teoria do criminoso nato e publicou a obra. Obviamente, como sabemos, a Academia só se reporta à primeira fase da produção científica de Lombroso, fase rica de conteúdo, mas incompleta porque inspirada no modelo materialista.

Dia virá, e não está longe, que se cuidará mais da prevenção que da repressão da criminalidade; em que a pena perderá cada vez mais a característica de vindita para se transubstanciar no instrumento maior de reabilitação do delinquente à vida social; em que, na aplicação e dosagem da pena, se analisarão não apenas os motivos que levaram o delinquente ao ato tipificado como crime, mas também se questionará a responsabilidade moral do agente e em que os governantes compreenderão que vieram para servir, não para serem servidos. Nesse dia, Lombroso será reconhecido como um dos grandes difusores da nova era.

Lombroso desencarnou em 19 de outubro de 1909, em Turim, pouco antes de completar 74 anos de idade.


 


  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita