Brasil
por Eder Andrade

Ano 16 - N° 798 - 13 de Novembro de 2022

 

Há 141 anos realizou-se o 1º Congresso Espírita do Brasil


Nos contam os livros de História que o Espiritismo teve uma grande aceitação popular no Brasil, principalmente devido à influência dos estrangeiros. Teria sido um modismo importado da França ou veio na bagagem de franceses que se refugiaram no Brasil. Na segunda metade do século XIX, durante o Segundo Reinado, buscaram refúgio dos conflitos sociais ocorridos na Europa Ocidental.

Não podemos esquecer que o Brasil era uma nação católica e a igreja era controlada pelo Estado, pelo regime do padroado, onde muitas das atividades características eram, na verdade, funções do poder político.

Cabia ao Imperador a escolha dos cargos religiosos, permitia ou proibir o
estabelecimento de ordens religiosas e a construção de edifícios religiosos, onde controlava as cobranças de doações e as taxas do dízimo da população, assim como o pagamento dos salários aos sacerdotes. As regalias concedidas ao clero retornavam sob a forma de legitimação do governo monárquico e das decisões políticas.

Na cidade do Rio de Janeiro em 2 de agosto de 1873 foi fundada a Sociedade de Estudos Espiríticos, o Grupo Confúcio. Em uma curta existência de quase três anos, destacou-se por ter sido responsável pela primeira tradução das obras de Allan Kardec.

A primeira tradução foi feita pelo Dr. Joaquim Carlos Travassos. Ele, em 1875, sob o pseudônimo de Fortúnio, realizou a primeira tradução de O Livro dos Espíritos para o portuguêsAcontecimento que facilitou a compreensão da Terceira Revelação, até porque, nem todos tinham acesso às outras obras da codificação. Apesar da grande simpatia dos conceitos espíritas, poucas pessoas sabiam ler em francês, para ter acesso ao texto original.

Pela falta de um conhecimento mais amplo da doutrina espírita, formou-se uma divergência filosófica, que acabou dando origem a segmentos ou grupos, que defendiam diferentes pontos de vista. Talvez um reflexo do modelo político-cultural da sociedade brasileira do Segundo Império.

No dia 6 de setembro de 1881, aconteceu o 1º Congresso Espírita do Brasil, promovido pela Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, que foi o primeiro passo em prol da unificação do movimento espírita brasileiro, em meio a uma grande confusão política, ligada à perseguição policial. O ano de 1881 foi marcado por uma perseguição oficial ao Espiritismo.

A diretoria da Sociedade Acadêmica compareceu perante o Ministro da Justiça, que a recebeu com muita cordialidade, declarando que deveria ter havido algum equívoco, e que não consentiria a perseguição de ninguém.

Esse acontecimento já refletia a intolerância religiosa, quando no mesmo ano de 1881, Pedro Maria de Lacerda, Bispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro publicou um manifesto em que chamava os seguidores de Allan Kardec de “malucos e perturbados”. Ele era um dos adeptos do ultramontanismo, ou seja, a doutrina que defendia a posição tradicional da Igreja católica de sustentar a infalibilidade dos papas.

Alguns dias depois, um Oficial de Justiça apresentou à Sociedade Acadêmica um mandado de intimação do 2º Delegado de Polícia do Município da Corte, mandado que suspendia e vedava as reuniões da Sociedade, alegando que ela não se achava legalmente constituída. A diretoria da Sociedade Acadêmica prontamente expediu ofícios ao Chefe de Polícia e ao Ministro da Justiça, demonstrando a arbitrariedade daquela medida.

Uma comissão, da qual faziam parte o Dr. Antônio Pinheiro Guedes, Carlos Joaquim de Lima e Cirne e o Dr. Joaquim Carlos Travassos, entrou em contato com o Chefe de Polícia, que apesar de ter recebido com amabilidade, nada resolveu, dando a entender que a ordem vinha de “autoridade superior”.

O periódico carioca Jornal do Commercio anunciou em suas páginas, em furo de reportagem, a ordem policial que proibiu o funcionamento da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade e dos centros que lhe eram filiados, tornando passíveis de sanções penais os espíritas que contrariassem as disposições policiais.

No mesmo dia, uma comissão de espíritas foi recebida pelo Imperador Pedro II, a quem entregou em mãos um documento com minuciosa exposição dos fatos e o pedido de que se fizesse justiça. O Imperador, na ocasião também teria afirmado: "Eu não consinto em perseguição". Duas semanas depois, a mesma comissão retornou ao palácio a fim de conhecer a resposta às considerações emitidas na exposição que fora entregue ao Imperador. Este afirmou que enviou os papéis ao Ministro do Império para dar solução ao caso, e tornou a afirmar, com certo ar de graça: "Ninguém os perseguirá. Mas...não queiram agora ser mártires."

Em 6 de setembro deste ano de 2022, o 1º Congresso Espírita do Brasil completou 141 anos de realização, um marco no movimento espírita brasileiro.

 

Referências:

1) Quintella, Mauro; História do Espiritismo no Brasil.

2) Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro (CEERJ).

3) Wikipédia (Enciclopédia livre).


 


  


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita