Brasil
por Ana Moraes

Ano 16 - N° 799 - 20 de Novembro de 2022

 

Manoel Philomeno de Miranda: vida e obra

 

Manoel Philomeno de Baptista de Miranda nasceu no dia 14 de novembro de 1876 em Jangada, município do
Conde, no estado da Bahia. Foram seus pais Manoel Baptista de Miranda e Umbelina Maria da Conceição.

Diplomou-se pela Escola Municipal da Bahia, atualmente Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia, colando grau na turma de 1910 como bacharel em Comércio e Fazenda. 

Em 1914 foi acometido de uma enfermidade pertinaz. Havendo recorrido a diversos médicos, sem resultado algum, foi curado graças à intervenção do médium Saturnino Favila, de Alagoinhas, por meio de passes e água fluidificada, complementados por alguns remédios da flora medicinal. Esse fato foi determinante para sua adesão ao Espiritismo.

 

Iniciação nas atividades espíritas

Por essa ocasião, ele conheceu em Salvador o grande líder espírita José Petitinga, que o convidou a frequentar a União Espírita Baiana. A partir daí, Philomeno de Miranda interessou-se pelo estudo e prática do Espiritismo, tornando-se um dos mais firmes adeptos de seus ensinamentos.

A serviço da causa, visitava periodicamente as Sociedades Espíritas, da capital e do interior, procurando soluções para qualquer dificuldade e engajando-se firmemente nos trabalhos da União Espírita Baiana (hoje Federação Espírita do Estado da Bahia), na qual exerceu os cargos de 2º Secretário de 1921 a 1922 e de 1º Secretário de 1922 a 1939, juntamente com José Petitinga e uma plêiade de grandes trabalhadores.

Na instituição dedicou-se com muito carinho às reuniões mediúnicas, especialmente às de desobsessão. Achava imprescindível que as instituições espíritas se preparassem convenientemente para o intercâmbio espiritual, sendo de bom alvitre que os trabalhadores das atividades desobsessivas se resguardassem, ao máximo, na oração, na vigilância e no trabalho superior. Salientava também a importância do trabalho na caridade, para se precaverem de sofrer ataques das entidades que se sentem frustradas em seus planos nefastos de perseguição aos encarnados.

Embora fosse bastante modesto, não pôde impedir que suas atividades sobressaíssem nas diversas frentes de trabalho que empreendeu em favor da Doutrina.

No campo do livro, escreveu  Resenha do Espiritismo na Bahia e Excertos que justificam o Espiritismo, que publicou omitindo seu nome. Em resposta ao Padre Huberto Rohden, publicou um opúsculo intitulado Por que sou Espírita.

Em 1939, foi eleito presidente da União Espírita Baiana, em substituição a José Petitinga, quando este desencarnou, fato que ocorreu em 25 de março de 1939. Nessa época ele já completara mais de vinte e quatro anos consecutivos de trabalho na federativa estadual, tanto na administração, como no socorro espiritual como grande doutrinador e nos serviços da caridade, zelando sempre pelo bom nome da Doutrina, que divulgou com todo o desvelo.

Sua desencarnação ocorreu no dia 14 de julho de 1942, três anos depois da partida de José Petitinga. Na antevéspera, impossibilitado de comparecer fisicamente à federativa, ele teria escrito, segundo relata A. M. Cardoso e Silva: “Agora sim! Não vou porque não posso mais. Estou satisfeito porque cumpri o meu dever. Fiz o que pude... o que me foi possível. Tome conta dos trabalhos, conforme já determinei”.

Querido de quantos o conheceram, até o último instante demonstrou a firmeza da tranquilidade dos justos, proclamando e testemunhando a grandeza imortal da Doutrina Espírita.

 

Manoel Philomeno de Miranda na vida espiritual

O médium Divaldo Pereira Franco descreveu da seguinte forma como conheceu Manoel Philomeno de Miranda:

 

“Numa das viagens a Pedro Leopoldo, no ano de 1950, Chico Xavier psicografou para mim uma mensagem ditada pelo Espírito José Petitinga, e no próximo encontro, uma outra ditada pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Eu era muito jovem e, como é compreensível, fiquei muito sensibilizado. Guardei as mensagens, bebi nelas a inspiração, permanecendo confiante em Deus.

No ano de 1970, no mês de janeiro, apareceu-me o Espírito Manoel Philomeno de Miranda, dizendo que, na Terra, havia trabalhado na União Espírita Baiana, atual Federação, tendo exercido vários cargos, dedicando-se, especialmente, à tarefa do estudo da mediunidade e da desobsessão.

Quando chegou ao Mundo Espiritual, foi estudar em mais profundidade as alienações por obsessão e as técnicas correspondentes da desobsessão.

Fora uma pessoa que, no mundo, se dedicava à escrituração mercantil, portanto afeito a uma área de informações de natureza geral sobre o comércio. Mas, tendo convivido muito com Petitinga, que foi um beletrista famoso, um grande latinista, amigo íntimo de Carneiro Ribeiro - que também se notabilizou pela réplica e tréplica com Ruy Barbosa - ele, Miranda, houvera aprimorado os conhecimentos linguísticos que levara da Terra, com vistas a uma programação de atividades para a Doutrina Espírita, pela mediunidade, no futuro.

Convidado por Joanna de Ângelis, para trazer o seu contributo em torno da mediunidade, da obsessão e desobsessão, ele ficou quase trinta anos realizando estudos e pesquisas e elaborando trabalho que mais tarde iria enfeixar em livros.

Ao me aparecer, então, pela primeira vez, disse-me que gostaria de escrever por meu intermédio.

Levou-me a uma reunião, no Mundo Espiritual, onde reside, e ali mostrou-me como eram realizadas as experiências de prolongamento da vida física através de transfusão de energia utilizando-se do perispírito. Depois de uma convivência de mais de um mês, aparecendo-me diariamente para facilitar o intercâmbio psíquico entre ele e mim, começou a escrever ‘Nos Bastidores da Obsessão’, que são relatos, em torno da vida espiritual, das técnicas obsessivas e de desobsessão.”

 

A elaboração do livro Nos Bastidores da Obsessão foi concluída em 12 de junho de 1970, dando início a uma série de obras que tornaram
Manoel Philomeno de Miranda conhecido em todo o país e também no exterior.

Na introdução da obra, Manoel Philomeno de Miranda escreveu:

 

“Este livro deveria ter sido escrito faz muito tempo... Todos os fatos nele narrados aconteceram entre os anos de 1937 e 1938, em Salvador, na Bahia, quando da nossa jornada carnal, na Terra. Algumas das personagens aqui aparecem discretamente resguardadas por pseudônimo, considerando que algumas delas e seus familiares se encontram ainda reencarnados...

Como nos impressionassem as técnicas da obsessão utilizadas pelos Espíritos perseguidores e as técnicas da desobsessão aplicadas pelos Instrutores Desencarnados, reunimos dados, fizemos verificação, e hoje apresentamos o resultado das averiguações ao leitor interessado em informações do Mundo Espiritual sobre o palpitante problema das perseguições espirituais.

Estes fatos transcorrem entre os dois mundos: o dos encarnados e o dos desencarnados. Estes dois mundos se interpenetram, já que não há barreiras que os separem nem fronteiras reais, definidas, entre ambos.

Grande parte das instruções, orientações e socorros procederam do Mundo Espiritual, durante as sessões realizadas com a participação de diversos membros da União Espírita Baiana, quando presidida por José Petitinga, o amigo incondicional do Cristo.

Diversos companheiros encarnados e nós participávamos, em desdobramento parcial pelo sono, das atividades da desobsessão e das incursões no Mundo Espiritual sob o comando de Abnegados Mentores que nos sustentavam e conduziam, adestrando-nos nas realidades da vida extracorpórea.”

 

A partir daí, seguiram-se outros livros sobre o problema obsessivo, classificado por Philomeno de Miranda como “tormentoso flagício social”. Nos seus livros, caracterizados e lidos como “romances”, encontra-se meticuloso exame da mediunidade atormentada e das patologias obsessivas, em páginas de profundo teor didático que permitem ao leitor melhor compreensão da narrativa central.

Além de Nos Bastidores da Obsessão, Manoel Philomeno de Miranda escreveu por intermédio de Divaldo Pereira Franco as seguintes obras: Grilhões Partidos, Nas Fronteiras da Loucura, Loucura e Obsessão, Trilhas da Libertação, Painéis da Obsessão, Temas da Vida e da Morte, Tramas do Destino, Sexo e Obsessão, Tormentos da Obsessão e Entre os Dois Mundos, Transição Planetária, No Rumo do Mundo de Regeneração, Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos, Amanhecer de uma Nova Era, Mediunidade: Desafios e Bênçãos, Perturbações Espirituais e Reencontro com a Vida.


Nota da Redação:

Publicado no ano de 1970 pela Editora da FEB, o livro Nos Bastidores da Obsessão foi objeto de estudo metódico e sequencial nas edições 209 a 225 desta revista. Para acessar a primeira parte, clique aqui


 


  


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