Alienação mental
Enquanto o vício se nos reflete no corpo, os abusos da
consciência se nos estampam na alma, segundo a
modalidade de nossos desregramentos.
É assim que atravessam as cinzas da morte, em perigoso
desequilíbrio da mente, quantos se consagraram no mundo
à crueldade e à injustiça, furtando a segurança e a
felicidade dos outros.
Fazedores de guerra que depravaram a confiança do povo
com peçonhento apetite de sangue e ouro, legisladores
despóticos que perverteram a autoridade, magnatas do
comércio que segregaram o pão, agravando a penúria do
próximo, profissionais do direito que buscaram torturar
a verdade em proveito do crime, expoentes da usura que
trancafiaram a riqueza coletiva necessária ao progresso,
artistas que venderam a sensibilidade e a cultura,
degradando os sentimentos da multidão, e homens e
mulheres que trocaram o templo do lar pelas aventuras da
deserção, acabando no suicídio ou na delinquência,
encarceram-se nos vórtices da loucura, penetrando,
depois, na vida espiritual como fantasmas de
arrependimento e remorso, arrastando consigo as telas
horripilantes da culpa em que se lhes agregam os
pensamentos.
E a única terapêutica de semelhantes doentes é a volta
aos berços de sombra em que, através da reencarnação
redentora, ressurgem no vaso físico, — cela preciosa de
tratamento, — na condição de crianças-problemas em
dolorosas perturbações.
Todos vós, desse modo, que recebestes no lar anjos
tristes, no eclipse da razão, conchegai-os com paciência
e ternura, porquanto são, quase sempre, laços enfermos
de nosso próprio passado, inteligências que decerto
auxiliamos irrefletidamente a perder e que, hoje,
retornam à concha de nossos braços, esmolando
entendimento e carinho, para que se refaçam, na clausura
da inibição e da idiotia, para a bênção da liberdade e
para a glória da luz.
Do livro Religião
dos Espíritos, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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