A inutilidade eleita
A infecundidade é uma escolha do
Espírito. Iniciamos todos a vida na
carne investidos de missão comum:
instruir os homens, auxiliando-os em
seus progressos e de suas instituições.
A ciência de tal missão é bastante para
concluirmos que Deus não pode ser fonte
de criação do prescindível. Não há
ninguém inútil neste mundo.
A lição Divina nos lembra que:
“Cada um administre aos outros o dom
como o recebeu, como bons dispensadores
da multiforme graça de Deus.” Pedro (I
Pedro, 4:10)
A lei do progresso nos informa o serviço
como a via de aperfeiçoamento do
Espírito, sendo suas faculdades e
talentos as ferramentas para o bom
desempenho do trabalho.
Na seara da cooperação nos tornamos
representantes do Alto na vida dos
irmãos mais pequeninos,
contribuindo com o seu avanço e, por
conseguinte, com o equilíbrio geral.
A todo momento a Vida, em sua infinita
sapiência, nos convida à missão de
auxílio ao próximo e
ao bom desempenho do encargo inerente ao
cargo que fomos investidos.
Não há quem seja órfão de oportunidade
ou que seja tão carente a ponto de não
conseguir dar nada de si.
Como nos é ensinado no Livro
dos Espíritos:
643. Haverá quem, pela sua posição, não
tenha possibilidade de fazer o bem?
“Não há quem não possa fazer o bem.
Somente o egoísta nunca encontra ensejo
de o praticar. Basta que se esteja em
relações com outros homens para que se
tenha ocasião de fazer o bem, e não há
dia da existência que não ofereça, a
quem não se ache cego pelo egoísmo,
oportunidade de praticá-lo. Porque,
fazer o bem não consiste, para o homem,
apenas em ser caridoso, mas em ser útil,
na medida do possível, todas as vezes
que o seu concurso venha a ser
necessário.”
Pela diretriz da sublime fraternidade,
recomenda a Palavra Divina:
“A manifestação do Espírito é concedida
a cada um, visando um fim proveitoso”. –
Paulo (I Coríntios, 12:7).
Emmanuel nos ensina:
“Ninguém está privado do ensejo de
auxiliar o próximo, elevar, consolar,
instruir, renovar. Não te detenhas.
O amparo do Senhor é concedido a cada
ser humano, visando ao proveito da
todos. Considera a indicação que
recebeste para servir, segundo as
possibilidades que te enriquecem o
coração e as mãos.
O cargo vem à nossa esfera de ação, por
efeito da Providência Divina, mas a
valorização do encargo parte de nós.”
Sendo a caridade rota sublime de arrimo
e progresso dos Espíritos seria
antinatual existir alguma criatura
destituída de propósito e carente de
ofertas de socorro.
Tal ser estaria fatalmente condenado à
turva inércia, assistindo o progresso de
seus irmãos através das boas obras.
Emmanuel nos lembra que:
“A Natureza, em toda parte, é um
laboratório divino que elege o espírito
de serviço por processo normal de
evolução.”
Incontendível, portanto, que a
inutilidade é condição eleita pelo
Espírito.
Muitos
renunciam a oportunidade de ajuda,
desconhecendo que “(...)
responderá por todo mal que haja
resultado de não haver praticado o bem.”.
Outros consideram-se inaptos para a
tarefa, quando apenas “(...)
cerram-se entre as paredes da própria
mente, cristalizados no egoísmo ou na
vaidade, negando-se a partilhar a
experiência comum”. E
há aqueles que estão à procura de
melhores condições para iniciar o
trabalho, olvidando o alerta de Tiago:
Eia agora, vós que dizeis... amanhã...”
(Tiago, 4:13)
A promoção do bem não deve ser adiada,
para que não corramos o risco de fazê-la
tardiamente, no inverno da vida.
Razoável se torna que o trabalhador
aproveite a primavera da mocidade, o
verão das forças físicas e o outono da
reflexão, para a grande viagem do
inferior para o superior; entretanto, a
maioria aguarda o inverno da velhice ou
do sofrimento irremediável na Terra,
quando o ensejo de trabalho está findo.
Chico Xavier nos lembra que “(...) se
fosse esperar melhores condições
espirituais para servir, até o presente
momento eu não teria começado.”
Cumpre, também, destacar as lições
extraídas do Evangelho segundo o
Espiritismo em que Kardec,
interpretando os ensinos de Cristo no
tópico “O óbolo da viúva”,
assevera:
Muita gente deplora não poder fazer todo
o bem que desejara, por falta de
recursos suficientes, e, se desejam
possuir riquezas, é, dizem, para lhes
dar boa aplicação. É sem dúvida louvável
a intenção e pode até nalguns ser
sincera. Dar-se-á, contudo, seja
completamente desinteressada em todos?
Não haverá quem, desejando fazer bem aos
outros, muito estimaria poder começar
por fazê-lo a si próprio, por
proporcionar a si mesmo alguns gozos
mais, por usufruir de um pouco do
supérfluo que lhe falta, pronto a dar
aos pobres o resto? Esta segunda
intenção, que esses tais porventura
dissimulam aos seus próprios olhos, mas
que se lhes depararia no fundo dos seus
corações, se eles os perscrutassem,
anula o mérito do intento, visto que,
com a verdadeira caridade, o homem pensa
nos outros antes de pensar em si. O
ponto sublimado da caridade, nesse caso,
estaria em procurar ele no seu trabalho,
pelo emprego de suas forças, de sua
inteligência, de seus talentos, os
recursos de que carece para realizar
seus generosos propósitos. Haveria nisso
o sacrifício que mais agrada ao Senhor.
Cada filho do Pai é um obreiro em sua
vinha, que tem a liberdade de escolher
entre o trabalho desinteressado e
caridoso, e o malbaratamento de seu
tempo, em nome de imerecido e infecundo
repouso, que lhe é agradável.
Referências
bibliográficas:
EMMANUEL (Espírito). Fonte
viva. Psicografado por Francisco
Cândido Xavier. Rio de Janeiro: FEB,
2000.
EMMANUEL (Espírito). Vinha
de luz. Psicografado por Francisco
Cândido Xavier. Brasília: FEB, 2019.
KARDEC, Allan.
O livro dos espíritos. 161.
ed. São Paulo: 2005.
KARDEC Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo.
Trad. Guillon Ribeiro. Brasília: FEB,
2018.