Pais muito exigentes, filhos inseguros e
infelizes
Ajude-me a crescer, mas deixe-me ser eu mesmo.
Maria Montessori
No geral, os pais querem o melhor para seus filhos. Eles
se dedicam e se sacrificam, sem receio, pois sabem que o
desenvolvimento saudável dos filhos deles depende
também.
Sim, há o cuidado, a atenção, o estímulo. Contudo, de
outro lado, muitos pais também passam dos limites,
exigindo demais dos filhos, e desde a infância. E o
excesso nunca é saudável…
Crianças têm suas individualidades, seus temperamentos,
seus limites. E, tal como qualquer adulto, elas também
precisam ser respeitadas em seus direitos e
necessidades.
Pais rigorosos devem ficar atentos para não exagerarem
na dose. Infelizmente, muitas vezes o adulto não percebe
que uma cobrança inadequada à idade ou um comentário
crítico, rude, traz prejuízo à criança. Há pais que
dizem de forma reiterada e que sempre ressoa tão
injusta: “Tirou 8, mas poderia ser 10.” O que esses pais
não percebem é que essa frase transmite a ideia de que a
criança só vai ter reconhecimento se for “mais”. E isso
gera pessoas ansiosas, insatisfeitas, perfeccionistas.
De outro lado, palavras positivas, que valorizam o
esforço, levam as crianças, naturalmente, a melhores
notas e a uma convivência mais tranquila com o erro (e
que é essencial para o aprendizado, para a vida).
Toda criança precisa de incentivo, mas a maneira de o
adulto se expressar ou propor metas contará muito para a
formação da autoestima da criança. Por isso, é
importante dar à criança desafios compatíveis com a
idade. Há pais que pouco reconhecem o valor e as
conquistas dos filhos. O escritor Franz Kafka relatou
seu sofrimento nas mãos de um pai excessivamente
exigente, mestre em despertar o medo e empenhado em
desmerecê-lo e puni-lo. Esse tratamento não impediu que
seu talento como escritor se manifestasse, contudo o
transformou em um adulto infeliz.
Na verdade, educar (ou orientar) é distinto de cobrar…
E, embora a sociedade esteja cada vez mais dominada pelo
desempenho, a criança, sobretudo na primeira infância,
não pode ser pressionada com uma série de demandas
cotidianas. Sua principal tarefa está associada ao
brincar. Até porque o brinquedo põe a criança à prova. É
um desafio e testa suas habilidades. E isso basta para
quem está no começo da vida...
Não podemos esquecer: os pais são figuras de autoridade
e de acolhimento. Se o pai tem atitude austera e só
cobra, não reforça positivamente a criança. E quanto
maior a pressão, maior o risco de a criança ficar
estressada, ansiosa, infeliz e ter depressão…
Quer educar bem o seu filho? No dia a dia, você pode
oferecer ajuda com as tarefas, perguntar se seus filhos
fizeram os deveres e até pedir compromisso com os
prazos. Mas exigir de modo excessivo não é a conduta
eficaz para garantir organização, crescimento saudável e
alegria.
Notinha
A pressão dos pais (mesmo não intencional) pode se
manifestar de diferentes formas: cobrança por tirar as
melhores notas da sala; comparação com irmãos de outras
idades, primos, vizinhos ou outros conhecidos; imposição
da escolha profissional; exigência de que as crianças
passem tardes estudando e sem lhes dar tempo para
brincar/descansar.