Em setembro de 1976, Chico Xavier recebeu a visita do
médium Luiz Antônio Gasparetto, então com 26 anos e
recém-formado em Psicologia. O jovem deixava
espectadores boquiabertos ao pintar, em minutos, com as
mãos e os pés, sempre de olhos fechados, telas assinadas
por mestres mortos como Toulouse Lautrec, Renoir, Monet,
Goya, Van Gogh, Matisse e Rembrandt. Na época, ele
começava a ser considerado uma espécie de Chico Xavier
da pintura. O encontro dos dois rendeu um espetáculo
insólito. A música de Gounod e Beethoven tomou conta do
ambiente e, em instantes, Gasparetto abriu a boca e se
identificou, com sotaque francês.
- Boa tarde. Sou Toulouse-Lautrec.
Em segundos, seus dedos e as palmas das mãos já estavam
lambuzadas de tinta.
Em menos de cinquenta segundos, um borrão no centro da tela se
transformou num contorno de mulher. Chico, compenetrado, assumiu
o papel de narrador dos bastidores invisíveis da sessão.
Gasparetto usava as duas mãos para pintar uma tela intitulada
Dois Esboços e Chico anunciava a presença de dois espíritos, um
em cada braço do rapaz, empenhados em movimentos livres e não
sincronizados. De repente, antes de aparecer na tela a
assinatura da pintora, Chico anunciou a presença da pintora
brasileira Tarsila do Amaral, já falecida.
Ele sentiu um impacto ao ver o espírito dessa amiga de pé,
manipulando o braço do médium, pois tinha tido o privilégio de
assistir à evolução espiritual e artística de Tarsila quando,
paralítica, presa a um leito, retratava seus personagens
invariavelmente com a cabeça pequena. Na tela, em instantes,
apareceu a figura de uma mulher deitada. Era um autorretrato
póstumo.
Como se sabe, Tarsila foi
submetida a uma cirurgia de coluna e ficou paraplégica por um
erro médico. Nesse momento de sua vida, aproximou-se do
Espiritismo, tornou-se amiga de Chico Xavier e passou a vender
seus quadros e doar o dinheiro que recebia.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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