The Great
Reset e o
Espiritismo
Diversos
momentos da
história do
planeta Terra
marcaram época e
merecem destaque
para uma análise
panorâmica do
progresso geral.
Desde a passagem
das glaciações
com a chegada da
escrita, bem
como dos tempos
modernos e de
sua
virtualização.
Dentre todas as
épocas,
certamente Jesus
Cristo
representa o
ponto culminante
da humanidade,
na separação da
história entre o
antes e o depois
dele. Outro
ponto é o final
da Idade Média,
no século XV
d.C., que
representa a
volta das
cidades como
aspecto
principal da
vida humana, em
destaque com o
incentivo das
grandes
navegações e
comércios
através dos
burgueses, ou
simplesmente
comerciantes que
negociavam
próximos dos
castelos (burgos)
dos senhores
feudais. Em
conjunto com as
navegações,
formaram-se
também as
monarquias
nacionalistas, o
que acabaria
gerando os
países modernos,
ainda que
constituído e
alterado
conforme as
configurações de
poder e
interesse de
épocas
específicas.
Outro marco
fundamental é o
aparecimento da
máquina a vapor
e a revolução
industrial em
meados do século
XVIII d.C., cujo
berço, a
Inglaterra e sua
política
expansionista,
propiciou o
surgimento do
Império
Britânico,
representativo
até hoje. Por
exemplo,
destaca-se o
predomínio do
inglês como
língua principal
da ciência e a
concentração das
editoras de
revistas
científicas e
bases de dados
em seu
território.
Mais
recentemente,
com a revolução
digital, a qual
poderia ser
chamada de
terceira onda[1] (a
primeira seria a
revolução
agrícola, a
segunda a
industrial) de
mudança da
humanidade fez
com que o
conhecimento
técnico-intelectual
desbancasse os
fatores
financeiros e os
fatores
produtivos como
os principais
responsáveis
pela criação de
valor e
riquezas. Neste
sentido, a
ciência como
produto das
universidades
que surgiram no
final da Idade
Média,
possibilitou a
aceleração deste
período de
acumulação e uso
de conhecimentos
de modo prático
e até mesmo
revolucionário.
Todavia, a
ciência ainda é
reticente aos
valores
espirituais e os
estudos de
religião e
espiritualidade
não representam
o mainstream da
ciência moderna
ocidental.
Apesar do
recente
interesse, como
diria Carl
Gustav Jung[2],
a ciência
ocidental dá
preferência às
leis de
causa-efeito no
sentido
mecânico, ao
invés das
ciências
orientais que
preferem a
sincronicidade e
os mistérios do
reino mágico
primitivo.
Assim, a base
moral,
fundamental para
a construção de
uma sociedade
sadia, ainda não
representa o
interesse
dominante da
ciência moderna.
O avanço
tecnológico não
foi acompanhado
do
desenvolvimento
moral. Deste
modo, tem-se que
invenções
modernas podem
vir tanto para o
bem como para o
mau.
Um fator
relevante é que
quanto mais
desenvolvido é a
inteligência,
maior é o
potencial de
fazer o mau uso
dela, caso não
haja as travas
da educação e da
moral ou alguma
outra força que
faça
contraponto. As
bombas atômicas
que caíram sob
as cidades
japonesas de
Hiroshima e
Nagasaki
representam um
ponto culminante
no século XX
deste mau uso.
Como expressa
Emmanuel[3]:
“E cooperadores
surgem que se
valem da
mordomia para
exercer a
dominação cruel,
que se
aproveitam da
inteligência
para
intensificar a
ignorância
alheia ou que
estimam a enxada
prestimosa, não
para cultivar o
campo, mas para
utilizá-la no
crime”.
Neste sentido, é
vital perceber
que a mudança do
mundo de provas
e expiação para
de regeneração
não vem sem
atrito e até
mesmo conflito.
Ou seja, de modo
figurado, não é
possível limpar
uma piscina há
tanto tempo suja
sem levantar a
sujeira do
fundo. O
despertar
precisa passar
pelas últimas
horas, tal como
o momento da
noite que
obrigatoriamente
passa pelo
extremo do
relógio e daí
para a madrugada
até a chegada do
novo dia.
Neste ponto,
apesar de toda
preparação,
ficamos a
auxiliar a vinda
dos novos tempos
e todo
acontecimento
relacionado
merece ser
observado e
analisado com
cuidado. Assim,
como modo de
despertar a
atenção do
movimento
espírita para
alguns
macroacontecimentos
mundiais, o
Fórum Econômico
Mundial (FEM),
que representa
as principais
empresas e
governos do
planeta Terra,
propõe em sua
agenda aquilo
que se chama de The
Great Reset ou
o “reboteio” da
economia
mundial. Tal
questão foi
favorecida pelo
surgimento da
pandemia da
Covid 19 a
partir de março
de 2020[4].
Em termos
históricos, o
Fórum, chamado
inicialmente de
Simpósio Europeu
de Gestão, teve
o começo de suas
atividades em
1971 com a
intenção de unir
diferentes
partes
interessadas,
também chamadas
de stakeholders,
para aproximação
de agendas e a
resolução de
problemas
comuns. O
evento, com foco
na integração da
Europa, a partir
de 1987 passou a
ter como âmbito
todo o planeta.
O Fórum é mais
conhecido pela
sua reunião
anual em
Davos-Klosters
(Suíça) a cada
mês de janeiro,
sendo um clube
da ultraelite
econômico-política
da Terra.
Uma das
preocupações do
Fórum é a
questão da
população do
planeta, sendo
que em 2014, com
uma população
mundial
aproximada de
7,25 bilhões de
pessoas[5],
o Fórum já
buscava
encontrar
maneiras de
desenvolver o
“reset” da
economia e da
sociedade. De
modo
complementar, a
Organização das
Nações Unidas
(ONU) lançou
programa
semelhante em
2015, chamado de
Agenda 2030.
Com a vinda da
pandemia da
Covid-19 em
2020, o FEM
aproveitou para
lançar, através
do seu fundador
e dirigente
principal, Klaus
Schwab, o livro
“Covid 19: The
Great Reset[6]”.
Mas, o que seria
este reset?
O que seria esta
nova economia,
também chamada
popularmente de
Nova Ordem
Mundial (NOM)?
Seria algo que
viria de
encontro com o
mundo de
regeneração? Ou
não?
No livro de
Schwab e seu
coautor, Thierry
Maller, lançado
em julho de
2020, propõe-se
que o mundo
atual apresenta
as
características
de
interdependência,
velocidade e
complexidade.
Neste sentido,
globalização,
mudança
tecnológica
acabam
implicando
nestas
características,
bem como a
necessidade de
um gerenciamento
global. Uma
espécie de
supragoverno
mundial que
decide o que é
preciso para
toda uma
população. Em
uma metáfora
utilizada no
livro, todos
estão no mesmo
barco.
Com a urgência
ambiental, há
uma necessidade
de cuidar do
planeta, do lado
verde, bem como
de se cobrar por
este cuidado. As
práticas
ambientais
acabam se
tornando
elemento
obrigatório para
o mundo moderno
sobreviver e
seguir adiante.
Por isso, o
petróleo precisa
ser substituído
por fontes
renováveis e
verdes. As
organizações
modernas
passarão assim a
ser defensoras
do verde, bem
como terão que
enfrentar também
este mundo
perigoso de
potenciais
crises futuras
globais. Um dos
perigos
apontados pelo
FEM é a
possibilidade de
surgimento de
novas pandemias
e eventos
climáticos
adversos, tal
como inundações,
degelo e outras
catástrofes
naturais.
Questões de fome
zero e má
distribuição da
riqueza e outras
agendas sociais
também fazem
parte do pacote.
Por outro lado,
realidade
virtual
aumentada,
mundos virtuais
representam
parte de
destaque da nova
economia, bem
como as
criptomoedas e
outras
tecnologias de
trocas e
interações
sociais através
da internet.
As mudanças e o
“reset” também
acabam indo para
o nível do
indivíduo. O
medo expõe a
fragilidade
humana e devido
aos períodos de lockdown com
separação da
família e outros
membros da vida
social sadia,
aparecem a
necessidade
desta alteração
de
comportamento.
Ou como dizem os
autores do
livro, de nossa
humanidade, para
o bem ou mal. A
perda de uma
identidade forte
e integral, bem
como o
enfraquecimento
dos laços
sociais e
familiares
tornará o
indivíduo mais
vulnerável e
ávido, ao mesmo
tempo, para
estas escapadas
virtuais. O que
poderá
dificultar a
conscientização
do ser para as
macro-necessidades
do espírito.
Diferentemente
de um desastre
natural que une
as pessoas, a
pandemia gera
sua separação e
também, certo
sentimento moral
de impotência e
vergonha. A
vergonha de ter
abandonado ou
perdido algum
familiar, ou
então, algo
similar como a
dependência e a
falta de
informação. Esta
vergonha acaba
se tornando um
“peso na
consciência”, o
que pode gerar
sacrifícios ou
vínculos
emocionais de
reparo, tal como
pagamento de
impostos verdes
ou sociais.
Outro ponto é a
carga de
estresse, de
desgaste
emocional e de
falta de
bem-estar como
um todo.
Por outro lado,
segundo os
autores, crises
como as
pandemias podem
auxiliar no
fortalecimento
do indivíduo,
desde que focada
no ângulo certo,
ou ainda, com as
atitudes e
condutas
corretas. Nas
palavras finais
dos autores (Schwab,
Maller, 2020):
Encontramo-nos
agora numa
encruzilhada. Um
caminho nos
levará a um
mundo melhor:
mais inclusivo,
mais equitativo
e mais
respeitoso da
Mãe Natureza. O
outro nos levará
a um mundo que
se assemelha ao
que acabamos de
deixar atrás -
mas pior e
constantemente
atormentado por
surpresas
desagradáveis.
Temos, portanto,
de acertar [as
escolhas]. Os
desafios
iminentes
poderiam ser
mais
consequentes do
que temos até
agora optado por
imaginar, mas a
nossa capacidade
de reiniciar
também poderia
ser maior do que
nos atrevemos a
esperar
anteriormente.[7].
Todavia, esta
encruzilhada e
sombreamento
entre o mundo de
regeneração e Great
Reset não
pode ser
assumida como
idênticas ou
similares sem
averiguação
minuciosa. É
preciso
verificar se não
há agendas
ocultas, bem
como as bases
morais de seus
idealizadores e
possíveis
consequências
para o progresso
do indivíduo, do
espiritismo e da
sociedade como
um todo. É
desejado a vinda
do mundo de
regeneração, mas
não podemos
deixar de orar e
vigiar durante o
processo[8].
Sem dúvida
nenhuma, o maior
dos males pode
ser implementado
quando não se
desconfia dos
perigos,
principalmente
ao envolver um
controle
planetário por
uma pequena
elite global.
Enfim, as
narrativas podem
usar de
premissas justas
(causas
ambientais e
sociais) para
disfarçar as
distorções para
exploração e
outras formas de
domínio e
controle social.
Por isso, nas
recomendações de
Jesus: “Eis que
vos envio como
ovelhas ao meio
de lobos;
portanto, sede
prudentes como
as serpentes e
simples como as
pombas[9]”.
Portanto, o
movimento
espírita deve
estar atento aos
eventos globais,
principalmente
de players de
imensa
envergadura que
buscam impor um
novo mundo, mas
sem as devidas
reformas
internas. Enfim,
medo,
isolacionismo,
falta de
esperança,
descrédito em
Deus podem
servir como
nutrientes para
colheitas
amargas na
esteira da
humanidade. Que
a Paz de Cristo
nos abençoe
sempre.
[1] Alvin
Toffler.
A
terceira
onda.
Rio de
Janeiro:
Record,
1981.
[2] C.G.Jung.
Sobre
sentimentos
e
sombra.
Petrópolis:
Vozes,
2015.
[3] Emmanuel.
Vinha de
Luz.
Cap.
106, p.
226.
Brasília:
FEB,
2018.
[4] Conforme
a
Organização
Mundial
da Saúde
(OMS) - link-1
[5] Fonte: link-2
[6] Schwab,
K.;
Matter,
T. Covid
19: The
great
reset. Forum
Publishing,
Julho
2020.