Fariseus
e samaritanos
contemporâneos
Jesus falava à mulher
samaritana sobre “a água
viva que sacia toda
sede”, pois “vem do amor
infinito de Deus e
santifica as criaturas”,
quando esta, empolgada
com os ensinamentos
novos que ouviu,
afastou-se do poço onde
retirava água e chamou
familiares e vizinhos
para que o ouvissem
também.
Nesse momento Filipe,
Tiago e André, que
haviam deixado Jesus
para ir buscar alimentos
num vilarejo próximo,
retornam trazendo atrás
de si muitos populares,
que se acomodaram por
ali, discutindo sobre as
questões palpitantes que
aquele nazareno trazia.
Enquanto conversavam, os
discípulos se mostravam
preocupados com o
Mestre, insistindo para
que se alimentasse. “Meu
alimento – respondeu
Jesus – é fazer a
vontade daquele Pai
misericordioso e justo
que a este mundo me
enviou, a fim de ensinar
o seu amor e a sua
vontade. Meu sustento é
realizar a sua obra”.
Diante do falatório da
pequena multidão, os
discípulos se mostravam
entusiasmados com a
repercussão que os
ensinos causavam entre
aqueles samaritanos.
– “Não é isso
propriamente o que me
interessa”, disse Jesus.
“O êxito mundano pode
ser uma ondulação de
superfície ...Acaso
poderemos admitir que já
somos compreendidos?”
Olhando para a turba,
propôs aos discípulos: –
“Ouçamos o que dizem
nossos seguidores”.
– “Acreditas que seja
este homem o Cristo
prometido? – perguntava
um samaritano de boa
figura aos seus amigos.
– De minha parte, não
aceito semelhante
impostura. Este nazareno
é um explorador da
piedade popular.
– É certo – concordava o
interpelado –, mesmo
porque, em sua terra,
não chega a valer um
denário. Pelos próprios
parentes é tido como
inimigo do trabalho e há
quem duvide da sua
preguiçosa cabeça.
– É um louco de boa
aparência – dizia uma
mulher idosa para a
filha –, pelo menos essa
é a opinião que já ouvi
de habitantes de
Cafarnaum; entretanto,
cá para mim, acredito
seja um grande velhaco.
Por que se meteu com
pescadores, quando alega
ser tão sábio? Por que
não se transfere para
Jerusalém, ou mesmo para
o Tiberíades? Bem sabe a
razão disso. Lá
encontraria homens
cultos que lhe
confundiriam a
presunção.
Mais próximo de Jesus,
um rapaz sentenciava em
voz discreta:
– Quando chegamos, foi
ele achado sozinho com
uma mulher. Que te
parece esta
circunstância? –
perguntava a um
companheiro de
caminhada. – Certamente
desejava salvá-la a seu
modo... – replicou com
malicioso riso o
inquirido.
Num grupo vizinho,
falava-se
acaloradamente:
– Este homem é um
espertalhão orgulhoso –
dizia, convicto, um
velhote –, só faz
milagres junto das
grandes multidões, para
que sintam virtudes
sobrenaturais nas suas
mágicas.
– E não tem caridade –,
acrescentou outro.”
André, Tiago e Filipe
estavam espantados com o
que tinham ouvido. O
êxito era aparente, mas
real a funda
incompreensão do povo.
– “Esta é a imagem do
campo onde temos de
operar. Por toda parte
encontraremos
samaritanos
discutidores, atentos
aos êxitos e referências
do mundo”, disse o
Mestre aos discípulos,
que se acomodavam em
breve descanso, enquanto
a noite começava a cair.
*
Um texto forte que
mostra o vício do
julgamento indevido e
infundado do populacho
de todos os tempos sobre
as questões mais graves.
Nele, Jesus é nivelado
aos impostores,
interesseiros,
exploradores, mesmo
tendo impressionado
multidões com suas
palavras e atos de
compreensão e amor.
Dois mil anos após, e os
fariseus, samaritanos,
ou o que quer que sejam,
ainda pululam pelo
mundo, destruindo
reputações, defendendo
interesses próprios,
aparentando beatitude,
depreciando valores
sagrados.
Este é o campo onde têm
de operar os que já se
preocupam e querem
trabalhar pela vitória
do bem no mundo.
(Texto
baseado no capítulo 17,
“Jesus na Samaria”, do
livro Boa Nova,
pelo Espírito Humberto
de Campos, psicografia
de F.C.Xavier, FEB,
1985.) Contém
transcrições.
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