CEVIC e sua missão no alto Solimões
No Alto Solimões, a 1.200 km de distância da capital
amazonense, reverbera um amor à Doutrina Espírita e
àqueles que por ali passam, procurando guarida no afeto
que aquece o coração e mantém a mente sã. Ela é “rodeada
de verdes vivos, sobre o sol e o céu tão lindo, sobre o
chão que pisamos firmes, és a nossa terra natal. Dentre
tantas és a mais bela, mãe de um povo forte e de moral,
com orgulho podemos dizer, és a princesa da Amazônia
ocidental.”
Tabatinga, município da microrregião do Alto Solimões,
possui pouco mais de 70 mil habitantes. Introduziu o
Espiritismo no ano de 1988, com a criação de um Grupo de
Estudos promovido por militares do Exército adeptos da
Doutrina Espírita, que iniciaram o trabalho com estudo
do Evangelho; e logo depois, com a aproximação de outros
interessados pelo Espiritismo e simpatizantes, o grupo
se consolidou e alugou uma sede provisória, até a
aquisição do terreno e a construção da sede própria,
onde atualmente se localiza. Alguns moradores de
Tabatinga e de Letícia – cidade colombiana, que
conheciam o
Espiritismo, se juntaram ao grupo para estudar o
ensinamento espírita. Quanto à difusão, por ocasião de
sua divulgação, houve uma procura gradativa de diversas
pessoas que logo se juntaram ao grupo inicial para a
realização de estudos dos ensinamentos de Jesus e para a
realização da prática da caridade.
“Inteligência é rica em
méritos para o futuro, mas com a condição de ser bem
empregada.”
Em 1987, ano em que o Brasil passava por diversos
conflitos político-econômicos ou por conquistas
marcantes na história como o tricampeonato mundial de
Nelson Piquet na Fórmula 1, o Sr. José Fernandes de
Oliveira, militar do Exército Brasileiro, foi
transferido da cidade do Rio de Janeiro para o município
de Tabatinga (AM), cidade onde permaneceu por oito anos
com sua esposa, a Sra. Evenilda Braga Fernandes de
Oliveira e seus três filhos menores. A família, ao
chegar às longínquas terras amazonenses, percebeu que
naquela região do Alto Solimões inexistia a
representatividade do Espiritismo, por ausência de casas
espíritas.
Com o objetivo de dar continuidade ao estudo doutrinário
e prestar assistência espiritual domiciliar, o casal
José e Evenilda manteve a habitual realização do
Culto Evangélico no Lar. Após breve período, as portas
de casa se abriram para receber novos amigos de trabalho
profissional e simpatizantes do Espiritismo que já
residiam no município, transformando aquele lar em
templo doméstico destinado aos estudos.
O Culto no Lar
paulatinamente acolhia mais participantes, inclusive
irmãos colombianos. Por limitação do espaço, a reunião
de amigos se transformou no Grupo de Estudos
Doutrinários (GED), vinculado à Cruzada dos Militares
Espíritas. O GED passou a se reunir semanalmente, em um
tapiri de palha, situado nas instalações do quartel do
Comando de Fronteira Solimões / 8º Batalhão de
Infantaria de Selva, local onde foram iniciadas as
primeiras aulas de Evangelização Infantil, coordenadas
pela Sra. Evenilda, destinada aos filhos dos
participantes do Grupo de Estudos. Os trabalhos
permaneceram nesse local por um tempo, até que surgiu a
necessidade e oportunidade de transferi-lo para o
Oratório do Soldado de Tabatinga, também situado nas
instalações do 8º Batalhão de Infantaria de Selva,
próximo do aeroporto de Tabatinga. Nessa ocasião surge
o Centro
Espírita Vianna de Carvalho (CEVIC), cujo estatuto
inicial é datado de 20 de março 1988.
A denominação da Casa Espírita foi escolhida pelo grupo,
em referência ao grande divulgador da Doutrina Espírita
Manoel Vianna de Carvalho, por sua característica ímpar
de divulgador da doutrina e por sua dedicação aos
centros espíritas por onde passou. Com a fundação do
CEVIC, a diretoria nascente resolveu alugar uma sede
provisória situada na Av. da Amizade, principal via
pública de Tabatinga, que liga o município à cidade de
Letícia, situada na Colômbia. No ano de 1989, com muito
esforço e com o auxílio do Plano Espiritual, a diretoria
do CEVIC delibera pela aquisição de um terreno situado
na Rua Santos Dumont, nº 603, Bairro Dom Pedro I, para a
construção de sua sede própria, materializando a
primeira instalação do CEVIC.
Trabalhando em prol da caridade material e
principalmente moral, o
|
Centro Espírita Vianna de
Carvalho atualmente conta com 15 |
trabalhadores ativos e 10 colaboradores que se
dividem para acolher mais de 200 pessoas
distribuídas em diversos trabalhos como: Estudo
do Evangelho segundo o Espiritismo; Estudo
sistematizado da Doutrina Espírita; Estudo e
prática da Mediunidade; Evangelização Infantil;
Juventude Espírita; Reunião da Família; Reuniões
públicas; Sopa Fraterna e a Caravana Amazonense
da Fraternidade. |
Além do trabalho doutrinário, desenvolvem a Sopa
Fraterna (distribuída no último sábado de cada mês no
Aterro Sanitário de Tabatinga), Cesta Básica Fraterna
(entrega de cestas básicas às famílias assistidas da
Instituição e famílias carentes cadastradas),
Atendimento Fraterno (conversa fraterna à luz da
doutrina espírita visando auxiliar e identificar
dificuldades nos campos material e espiritual) e Ação
Social (atendimento com profissionais de saúde para
atendimento do público interno) e Bazar do bem (doação e
venda simbólica de roupas e utensílios domésticos).
O CEVIC possui capacidade para abrigar 130 pessoas
simultaneamente e sua estrutura conta com salão
principal para palestras públicas e estudo do Evangelho;
livraria espírita composta de stand localizado no
salão principal; biblioteca de livros espíritas com
espaço para estudos e leitura; sala mediúnica; cozinha;
varanda interna onde são realizados cafés da manhã dos
trabalhadores antes das tarefas da AIJ e AFam; 2 salas
de Evangelização Infantil (1º e 2º ciclos) e uma sala
destinada à Juventude, além de banheiros e secretaria.
Ao ser questionado sobre que lições os trabalhadores da
casa poderiam “tirar” na contribuição de sua evolução
moral, Emerson Cosme Silva de Oliveira, trabalhador e
ex-presidente do CEVIC na última gestão, diz que “a
maior mensagem que o CEVIC, por intermédio da Doutrina
Espírita, nos ensina é a da família universal, pois a
oportunidade de trabalhar com tantas diferenças,
desafios e limitações, ao cabo dessa ‘expedição do
Amor’, nasce a certeza de que cada momento foi único,
uma oportunidade dos céus que se materializa com os
laços fraternos de tantos irmãos espalhados por todos os
rincões do nosso amado Brasil e que faz desabrochar a
semente de amor que foi plantada no interior da nossa
Floresta Amazônica”.
O dever, de acordo com O Evangelho segundo o
Espiritismo, “é
a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo, e depois
para com os outros. O dever é a lei da vida:
encontramo-lo nos mínimos detalhes, como nos atos mais
elevados. Quero falar aqui somente do dever moral, e não
do que se refere às profissões. O dever é o resumo
prático de todas as especulações morais. É uma
intrepidez da alma, que enfrenta as angústias da luta. É
austero e dócil, pronto a dobrar-se às mais diversas
complicações, mas permanecendo inflexível diante de suas
tentações. O
homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais que às
criaturas, e as criaturas mais que a si mesmo; é
a um só tempo juiz e escravo na sua própria causa.”
Gerações passarão e as dificuldades sempre estarão
presentes, colocando à prova o que, nós seres humanos,
aprendemos durante nossa passagem terrena. O CEVIC, como
instituição, busca desenvolver suas atividades com base
nas orientações da Federação Espírita Brasileira e da
Federação Espírita Amazonense, instituições fundamentais
para o Movimento Espírita no Brasil e para o Movimento
de Unificação, e seu maior desafio é a continuidade de
trabalhadores, visto que a cidade de Tabatinga está a
1.200 km de distância da capital amazonense em linha
reta e seu acesso se limita por voo ou navegação fluvial
pelo rio Solimões. A população, em sua grande maioria, é
composta de indígenas da etnia Tikuna, da população
mestiça, composta de pequenos agricultores, comerciantes
e trabalhadores autônomos e estrangeiros, enquanto a
outra parcela da população é composta por militares,
funcionários públicos federais e professores
universitários que são designados para exercício
profissional por tempo determinado, o que caracteriza
Tabatinga como uma cidade de “passagem” com alto índice
de rotatividade.
Essa rotatividade acaba influenciando no maior desafio
do CEVIC e das casas espíritas do Interior do Amazonas,
que é a deficiência de continuidade de trabalhadores
capacitados com experiência e conteúdo doutrinário para
a condução das tarefas da Casa Espírita.
Há 5 anos, a diretoria atual, com apoio da Federação
Espírita Amazonense, busca meios de envolver os nativos
para o exercício de funções-chaves da casa, e tem dado
certo. A presidente Suzy Elen, a secretária Flaviane
Maia, a diretora administrativa Gleice dos Santos e
Raquel Oliveira (conselheira fiscal e coordenadora da
ASPE) são naturais e/ou habitantes fixos da cidade.
Sabemos, diz Emerson, “que o desafio da Federação
Espírita Brasileira, como Instituição Máter do
Espiritismo no Brasil, para conduzir o Consolador
Prometido nas terras do Cruzeiro, é enorme. Devido a
esta complexidade e à atual conjuntura, por nossa
simples lente, percebemos que é preciso manter um olhar
especial aos jovens, que muito necessitam de atenção.
Não podemos olvidar o trabalho do Codificador, relatado
na obra Viagem Espírita em 1862, e do nosso
Vianna de Carvalho, que percorria centros espíritas,
buscando amparar, orientar e esclarecer a célula do
Movimento Espírita. Portanto, a prática nos comprova que
ao caminhar juntos, no mesmo ideal, respeitando a
cultura, os hábitos e principalmente o ser humano, a
trajetória se torna muito mais agradável e inspiradora.
Por isso o lema da nossa Caravana é ‘Juntos somos mais
fortes’.”
Certo de que cabe a cada um de nós o esforço necessário
para o progresso espiritual na marcha ascensional ao
Cristo, todos os desafios para a divulgação do
Cristianismo Redivivo no interior do Amazonas e,
sobretudo, da prática da caridade – o amor em ação –
proporcionada pelo CEVIC, por meio de suas diversas
atividades ao longo de 34 anos, nos trazem a lucidez de
que essas casas longínquas são as novas casas do caminho
a iluminar e regenerar corações sedentos do amor
celestial.
Nota do Autor:
A produção desta matéria contou com a
colaboração inestimável do amigo e irmão Emerson Cosme
Silva de Oliveira, ex-presidente do CEVIC.