Brasil
por Marcel Bataglia Gonçalves

Ano 16 - N° 804 - 1° de Janeiro de 2023

 

 

CEVIC e sua missão no alto Solimões


No Alto Solimões, a 1.200 km de distância da capital amazonense, reverbera um amor à Doutrina Espírita e àqueles que por ali passam, procurando guarida no afeto que aquece o coração e mantém a mente sã. Ela é “rodeada de verdes vivos, sobre o sol e o céu tão lindo, sobre o chão que pisamos firmes, és a nossa terra natal. Dentre tantas és a mais bela, mãe de um povo forte e de moral, com orgulho podemos dizer, és a princesa da Amazônia ocidental.”

Tabatinga, município da microrregião do Alto Solimões, possui pouco mais de 70 mil habitantes. Introduziu o Espiritismo no ano de 1988, com a criação de um Grupo de Estudos promovido por militares do Exército adeptos da Doutrina Espírita, que iniciaram o trabalho com estudo do Evangelho; e logo depois, com a aproximação de outros interessados pelo Espiritismo e simpatizantes, o grupo se consolidou e alugou uma sede provisória, até a aquisição do terreno e a construção da sede própria, onde atualmente se localiza. Alguns moradores de Tabatinga e de Letícia – cidade colombiana, que conheciam o Espiritismo, se juntaram ao grupo para estudar o ensinamento espírita. Quanto à difusão, por ocasião de sua divulgação, houve uma procura gradativa de diversas pessoas que logo se juntaram ao grupo inicial para a realização de estudos dos ensinamentos de Jesus e para a realização da prática da caridade.

Inteligência é rica em méritos para o futuro, mas com a condição de ser bem empregada.”

Em 1987, ano em que o Brasil passava por diversos conflitos político-econômicos ou por conquistas marcantes na história como o tricampeonato mundial de Nelson Piquet na Fórmula 1, o Sr. José Fernandes de Oliveira, militar do Exército Brasileiro, foi transferido da cidade do Rio de Janeiro para o município de Tabatinga (AM), cidade onde permaneceu por oito anos com sua esposa, a Sra. Evenilda Braga Fernandes de Oliveira e seus três filhos menores. A família, ao chegar às longínquas terras amazonenses, percebeu que naquela região do Alto Solimões inexistia a representatividade do Espiritismo, por ausência de casas espíritas.

Com o objetivo de dar continuidade ao estudo doutrinário e prestar assistência espiritual domiciliar, o casal José e Evenilda manteve a habitual realização do Culto Evangélico no Lar. Após breve período, as portas de casa se abriram para receber novos amigos de trabalho profissional e simpatizantes do Espiritismo que já residiam no município, transformando aquele lar em templo doméstico destinado aos estudos.

O Culto no Lar paulatinamente acolhia mais participantes, inclusive irmãos colombianos. Por limitação do espaço, a reunião de amigos se transformou no Grupo de Estudos Doutrinários (GED), vinculado à Cruzada dos Militares Espíritas. O GED passou a se reunir semanalmente, em um tapiri de palha, situado nas instalações do quartel do Comando de Fronteira Solimões / 8º Batalhão de Infantaria de Selva, local onde foram iniciadas as primeiras aulas de Evangelização Infantil, coordenadas pela Sra. Evenilda, destinada aos filhos dos participantes do Grupo de Estudos. Os trabalhos permaneceram nesse local por um tempo, até que surgiu a necessidade e oportunidade de transferi-lo para o Oratório do Soldado de Tabatinga, também situado nas instalações do 8º Batalhão de Infantaria de Selva, próximo do aeroporto de Tabatinga. Nessa ocasião surge o Centro Espírita Vianna de Carvalho (CEVIC), cujo estatuto inicial é datado de 20 de março 1988.

A denominação da Casa Espírita foi escolhida pelo grupo, em referência ao grande divulgador da Doutrina Espírita Manoel Vianna de Carvalho, por sua característica ímpar de divulgador da doutrina e por sua dedicação aos centros espíritas por onde passou. Com a fundação do CEVIC, a diretoria nascente resolveu alugar uma sede provisória situada na Av. da Amizade, principal via pública de Tabatinga, que liga o município à cidade de Letícia, situada na Colômbia. No ano de 1989, com muito esforço e com o auxílio do Plano Espiritual, a diretoria do CEVIC delibera pela aquisição de um terreno situado na Rua Santos Dumont, nº 603, Bairro Dom Pedro I, para a construção de sua sede própria, materializando a primeira instalação do CEVIC.

Trabalhando em prol da caridade material e principalmente moral, o

Centro Espírita Vianna de Carvalho atualmente conta com 15
trabalhadores ativos e 10 colaboradores que se dividem para acolher mais de 200 pessoas distribuídas em diversos trabalhos como: Estudo do Evangelho segundo o Espiritismo; Estudo sistematizado da Doutrina Espírita; Estudo e prática da Mediunidade; Evangelização Infantil; Juventude Espírita; Reunião da Família; Reuniões públicas; Sopa Fraterna e a Caravana Amazonense da Fraternidade.

Além do trabalho doutrinário, desenvolvem a Sopa Fraterna (distribuída no último sábado de cada mês no Aterro Sanitário de Tabatinga), Cesta Básica Fraterna (entrega de cestas básicas às famílias assistidas da Instituição e famílias carentes cadastradas), Atendimento Fraterno (conversa fraterna à luz da doutrina espírita visando auxiliar e identificar dificuldades nos campos material e espiritual) e Ação Social (atendimento com profissionais de saúde para atendimento do público interno) e Bazar do bem (doação e venda simbólica de roupas e utensílios domésticos).

O CEVIC possui capacidade para abrigar 130 pessoas simultaneamente e sua estrutura conta com salão principal para palestras públicas e estudo do Evangelho; livraria espírita composta de stand localizado no salão principal; biblioteca de livros espíritas com espaço para estudos e leitura; sala mediúnica; cozinha; varanda interna onde são realizados cafés da manhã dos trabalhadores antes das tarefas da AIJ e AFam; 2 salas de Evangelização Infantil (1º e 2º ciclos) e uma sala destinada à Juventude, além de banheiros e secretaria.

Ao ser questionado sobre que lições os trabalhadores da casa poderiam “tirar” na contribuição de sua evolução moral, Emerson Cosme Silva de Oliveira, trabalhador e ex-presidente do CEVIC na última gestão, diz que “a maior mensagem que o CEVIC, por intermédio da Doutrina Espírita, nos ensina é a da família universal, pois a oportunidade de trabalhar com tantas diferenças, desafios e limitações, ao cabo dessa ‘expedição do Amor’, nasce a certeza de que cada momento foi único, uma oportunidade dos céus que se materializa com os laços fraternos de tantos irmãos espalhados por todos os rincões do nosso amado Brasil e que faz desabrochar a semente de amor que foi plantada no interior da nossa Floresta Amazônica”.

O dever, de acordo com O Evangelho segundo o Espiritismo“é a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo, e depois para com os outros. O dever é a lei da vida: encontramo-lo nos mínimos detalhes, como nos atos mais elevados. Quero falar aqui somente do dever moral, e não do que se refere às profissões. O dever é o resumo prático de todas as especulações morais. É uma intrepidez da alma, que enfrenta as angústias da luta. É austero e dócil, pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, mas permanecendo inflexível diante de suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais que às criaturas, e as criaturas mais que a si mesmo; é a um só tempo juiz e escravo na sua própria causa.”

Gerações passarão e as dificuldades sempre estarão presentes, colocando à prova o que, nós seres humanos, aprendemos durante nossa passagem terrena. O CEVIC, como instituição, busca desenvolver suas atividades com base nas orientações da Federação Espírita Brasileira e da Federação Espírita Amazonense, instituições fundamentais para o Movimento Espírita no Brasil e para o Movimento de Unificação, e seu maior desafio é a continuidade de trabalhadores, visto que a cidade de Tabatinga está a 1.200 km de distância da capital amazonense em linha reta e seu acesso se limita por voo ou navegação fluvial pelo rio Solimões. A população, em sua grande maioria, é composta de indígenas da etnia Tikuna, da população mestiça, composta de pequenos agricultores, comerciantes e trabalhadores autônomos e estrangeiros, enquanto a outra parcela da população é composta por militares, funcionários públicos federais e professores universitários que são designados para exercício profissional por tempo determinado, o que caracteriza Tabatinga como uma cidade de “passagem” com alto índice de rotatividade.

Essa rotatividade acaba influenciando no maior desafio do CEVIC e das casas espíritas do Interior do Amazonas, que é a deficiência de continuidade de trabalhadores capacitados com experiência e conteúdo doutrinário para a condução das tarefas da Casa Espírita.

Há 5 anos, a diretoria atual, com apoio da Federação Espírita Amazonense, busca meios de envolver os nativos para o exercício de funções-chaves da casa, e tem dado certo. A presidente Suzy Elen, a secretária Flaviane Maia, a diretora administrativa Gleice dos Santos e Raquel Oliveira (conselheira fiscal e coordenadora da ASPE) são naturais e/ou habitantes fixos da cidade.

Sabemos, diz Emerson, “que o desafio da Federação Espírita Brasileira, como Instituição Máter do Espiritismo no Brasil, para conduzir o Consolador Prometido nas terras do Cruzeiro, é enorme. Devido a esta complexidade e à atual conjuntura, por nossa simples lente, percebemos que é preciso manter um olhar especial aos jovens, que muito necessitam de atenção. Não podemos olvidar o trabalho do Codificador, relatado na obra Viagem Espírita em 1862, e do nosso Vianna de Carvalho, que percorria centros espíritas, buscando amparar, orientar e esclarecer a célula do Movimento Espírita. Portanto, a prática nos comprova que ao caminhar juntos, no mesmo ideal, respeitando a cultura, os hábitos e principalmente o ser humano, a trajetória se torna muito mais agradável e inspiradora. Por isso o lema da nossa Caravana é ‘Juntos somos mais fortes’.”

Certo de que cabe a cada um de nós o esforço necessário para o progresso espiritual na marcha ascensional ao Cristo, todos os desafios para a divulgação do Cristianismo Redivivo no interior do Amazonas e, sobretudo, da prática da caridade – o amor em ação – proporcionada pelo CEVIC, por meio de suas diversas atividades ao longo de 34 anos, nos trazem a lucidez de que essas casas longínquas são as novas casas do caminho a iluminar e regenerar corações sedentos do amor celestial.

 

Nota do Autor:

A produção desta matéria contou com a colaboração inestimável do amigo e irmão Emerson Cosme Silva de Oliveira, ex-presidente do CEVIC.  


 
  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita