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por Eder Andrade

 

Kardec e Napoleão


Contam os livros de história que Napoleão Bonaparte ascendeu rapidamente ao poder na França, lutando contra tropas monarquistas, os contrarrevolucionários que desejavam derrubar o novo governo republicano. Devido à fraqueza política, o Diretório foi derrubado através de um golpe de Estado em novembro de 1799 ("o 18 de Brumário" de acordo com o calendário revolucionário), quando Napoleão se tornou "primeiro cônsul".

Pela psicografia de Chico Xavier, o espírito Humberto de Campos, usando o pseudônimo de irmão X, nos ofereceu o livro Cartas e Crônicas (1) e nos conta que em uma noite de dezembro de 1799, em esferas elevadas, ocorreu um encontro espiritual entre Napoleão, em desdobramento durante o sono, e o espírito de Allan Kardec. Este ali se encontrava para ajudar e orientar Napoleão, pois futuramente viria a reencarnar na França, na cidade de Lyon.

Nesse encontro intermediado por mentores, fica claro que Napoleão estava afastando-se da sua programação espiritual preestabelecida, que era propagar os ideais da Revolução Francesa pelos quatro cantos da Europa, estendendo a todos o acesso ao conhecimento do Iluminismo e o compêndio do enciclopedismo.

Napoleão tinha como principal objetivo lutar contra a tirania dos governos absolutistas que se mantinham hereditariamente nas lideranças dos países, através do uso da força, e valorizar o sacrifício que o povo francês vinha fazendo.

Napoleão se deixou arrastar pela vaidade e pelo poder, acabando por reproduzir na França uma forma de governo que ele deveria combater.

Alegando conspiração para assassiná-lo e possivelmente um levante monarquista, promoveu um plebiscito. Com grande apoio popular, acabou coroado Imperador dos Franceses, cerimônia oficiada pelo Papa Pio VII na igreja de Notre Dame em Paris, em dezembro de 1804.

Apesar do desvio da sua programação espiritual inicial, conseguiu a façanha de desdobrar os princípios iluministas dentro e fora da Europa, chegando até o continente americano e influenciando um grande movimento continental de independência política das colônias espanholas e a portuguesa. Essas novas ideias foram extremamente favoráveis para o advento de diversas manifestações espirituais como as Irmãs Fox e os Irmãos Davenport nos Estados Unidos, assim também o fenômeno das mesas girantes na Europa, em particular Paris.

Surgiram grande pesquisadores que, embasados pelos pensamentos visionários do Iluminismo, abriram caminho para as pesquisas de renomados pensadores como William Crookes, um químico e físico britânico; Ernesto Bozzano, professor de Filosofia da Ciência na Universidade de Turim e pesquisador espírita italiano; Alexandre Aksakof, conselheiro de Alexandre III, filósofo e grande pesquisador dos fenômenos espíritas no século XIX.

Todos esses homens eruditos foram grandes colaboradores para a divulgação da Terceira Revelação organizada e codificada por Allan Kardec, na medida em que suas pesquisas legitimaram os argumentos e teorias apresentadas pelo mestre de Lyon na segunda metade do século XIX, não apenas na Europa, mas também nas Américas. Uma boa prova disso foi a grande aceitação popular que ocorreu no Brasil durante o Segundo Reinado, devido à histórica miscigenação das raízes culturais indígenas e africanas. Elas sempre deram ao nosso povo uma visão holística dos fenômenos sobrenaturais, apesar das manifestações contrárias da Igreja.

No ano de 1881, o bispo do Rio de Janeiro Pedro Maria de Lacerda publicou um manifesto que chamava os seguidores de Kardec de "possessos, dementes e alucinados".
O livro A Caminho da Luz (2), psicografado por Chico Xavier e ditado pelo espírito Emmanuel, faz uma correlação entre as novas ideias propagadas pelo Iluminismo, assim como o desdobramento das guerras napoleônicas, procurando mostrar que os acontecimentos científicos e literários ocorridos no século XIX tiveram seu movimento embrionário nos acontecimentos europeus do início da Idade contemporânea. Apesar das grandes perdas humanas, um grande esplendor cultural e muitas transformações estavam prestes a acontecer, que iriam modificar os rumos não só do próprio continente, mas da cultura e economia mundial.

A renovação de pensamento foi tão acentuada, que produziu uma revolução cultural com descobertas que mudaram os rumos da estrutura do pensamento científico, apesar da resistência contrária do conservadorismo religioso, quando o papa Pio IX, percebendo o avanço que o desdobramento dessas novas ideias poderia causar na cristandade, em julho de 1870, decreta por intermédio de uma “bula” um dogma para a Igreja Católica, acerca da infalibilidade papal.

Esses acontecimentos conjugados contribuíram para uma grande mudança de foco da humanidade, não apenas em relação à religião, mas principalmente em relação às ciências, abrindo campo de pesquisa para diversas descobertas que desde a Idade Moderna vinham sendo cerceadas ou freadas por interesses políticos no controle do conhecimento.

Uma nova forma de ver o Universo e os fenômenos naturais, não apenas por uma intervenção divina, mas também como uma combinação de fatores científicos, entre os quais o homem se tornava o arquiteto do seu destino e dono da sua felicidade.

Referências:

1) Xavier, Francisco Cândido; Cartas e Crônicas; Cap. 28 – Kardec e Napoleão; FEB.
2) _____, _______________; A Caminho da Luz; Cap. XXI – Época de Transição;
Cap. XXII – Revolução Francesa; Cap. – XXIII - O Século XIX; FEB.
3) Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro (fonte de consulta da CEERJ).
4) Wikipédia (Enciclopédia livre).



 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita