Contou-nos Chico Xavier que nos arredores de Pedro
Leopoldo, alguns anos atrás, certa viúva viu o corpo de
seu filho assassinado quando ela chegava a casa. Desde
então, chorava sem consolo. O irmão homicida fugira logo
após o delito, e a sofredora senhora ignorava até mesmo
por que o rapaz perdera tão desastradamente a vida.
Agravando-se-lhe os padecimentos morais, uma amiga do médium, D.
Joaninha Gomes, convidou-o a ir em sua companhia partilhar um
ligeiro culto do Evangelho com a viúva enlutada. A desditosa mãe
acolheu-os com bondade e, logo após, em círculo de cinco
pessoas, eles oraram.
Aberto em seguida O Evangelho segundo o Espiritismo, ao
acaso, caiu-lhes sob os olhos o item 14 do capítulo X,
intitulado “Perdão das Ofensas". Chico ia começar a leitura
quando alguém bateu à porta. Deram uma pausa na atividade
espiritual, enquanto a dona da casa foi atender. Tratava-se de
um viajante maltrapilho, positivamente um mendigo, alegando fome
e cansaço. Pedia um prato de alimento e um cobertor. A viúva
fê-lo entrar com gentileza, a pedir-lhe alguns momentos de
espera. O homem acomodou-se num banco e iniciou-se a leitura.
Imediatamente depois disso, passou-se aos comentários em torno
da lição escolhida, quando um dos presentes perguntou à dona da
casa se ela havia desculpado o infeliz que lhe havia morto o
filho querido, cujo nome passou, na conversação, a ser, por
várias vezes, pronunciado.
A viúva disse que o Evangelho, pelo menos, lhe determinava
perdoar. Foi então que o recém-chegado e desconhecido exclamou
para a anfitriã:
– Pois a senhora é a mãe do morto?
E, trêmulo, acrescentou que ele mesmo era o assassino, passando
a chorar e a pedir-lhe perdão de joelhos. A viúva, igualmente em
pranto, avançou maternalmente para ele e falou:
– Não me peça perdão, meu filho, que eu também sou uma pobre
pecadora... Roguemos a Deus para que Ele nos perdoe!...
Em seguida, trouxe-lhe um prato bem feito e o agasalho de que o
desconhecido necessitava. Ele, no entanto, transformado, saiu do
culto do Evangelho com o grupo e foi entregar-se à Justiça. No
dia imediato, Joaninha Gomes e Chico voltaram ao lar da generosa
senhora e ela lhes contou, edificada, que durante a noite
sonhara com o filho a dizer-lhe que ele mesmo, a vítima,
trouxera o ofensor ao seu regaço de mãe, para que ela o
auxiliasse com bondade e socorro, entendimento e perdão.
Do livro Entrevistas, de Francisco Cândido Xavier e
Emmanuel.
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