Brasil
por Ana Moraes

Ano 16 - N° 807 - 22 de Janeiro de 2023

 

 

Há 140 anos circulou pela primeira vez o Reformador


Ontem, dia 21, registrou-se mais um aniversário da fundação no mês de janeiro de 1883 – 140 anos atrás – da revista Reformador, que se tornou no ano seguinte o órgão de divulgação da Federação Espírita Brasileira.

Augusto Elias da Silva, seu fundador, foi um dos pioneiros da divulgação espírita em nosso país.

No texto abaixo, publicado sob a

responsabilidade da FEB, com o título “Renovando costumes há 140 anos” - clique aqui - lê-se:

 

Aqueles eram dias difíceis para os espíritas da primeira hora no Brasil, principalmente no que respeita à divulgação doutrinária, que encontrava no Catolicismo o seu grande opositor. Foi nesse contexto que, em junho de 1882, Augusto Elias da Silva resolveu escrever uma réplica a uma Pastoral da Igreja, em que o Chefe desta, no Rio de Janeiro, declarava: “Devemos odiar [o Espiritismo] pelo dever de consciência”.

Como não conseguiu espaço para inserir o artigo em nenhum meio de comunicação, foi tomado do desejo de possuir um jornal próprio, a serviço das ideias liberais. E, quase sozinho, fazendo sacrifício acima de suas possibilidades, veio a concretizar a ideia seis meses após, ao editar a revista Reformador em 21 de janeiro de 1883, com o propósito de renovar os costumes com base nos postulados do Espiritismo.

Coube a Augusto Elias da Silva a iniciativa de fundar a Federação Espírita Brasileira (FEB), em 2 de janeiro de 1884, e uma de suas primeiras resoluções foi a incorporação do órgão Reformador à nova Sociedade.

Desde então, sem jamais interromper suas edições, Reformador vem, ao longo dos seus 140 anos, difundindo o Evangelho de Jesus à luz da Doutrina Espírita, registrando a História do Espiritismo no Brasil, esclarecendo dúvidas e consolando corações aflitos e sedentos de paz.

 

Lançado inicialmente como um jornal, com quatro páginas de texto, formato que conservou até dezembro de 1902, o periódico, então com modesta tiragem, circulava quinzenalmente. Uma boa quantidade de cada edição era despachada via marítima para Lisboa, Portugal, onde cumpria idêntica função de divulgação da doutrina no país onde, à época, as mensagens recebidas pelo médium Fernando de Lacerda suscitavam vivos debates.

Sobre essa fase e as dificuldades enfrentadas, Zêus Wantuil escreveu em seu livro Grandes Espíritas do Brasil:

 

Elias da Silva, porém, era de vontade tenaz e inquebrantável, e não seriam as dificuldades de toda ordem, as oposições sectaristas e os sarcasmos de todos os lados que o desencorajariam no empreendimento que lhe dominou o cérebro (...). Elias lançou o Reformador em 21 de janeiro de 1883 (...) com os recursos tirados do seu próprio bolso, situando a redação e oficinas em seu atelier fotográfico (...) onde também residia com sua família.

 

Até 1º de fevereiro de 1888, o Reformador teve as suas Secretaria e Tesouraria à rua da Carioca, 120/2º andar, local de residência e de trabalho de Elias da Silva. Havendo, por essa época, necessidade de mais espaço para o desenvolvimento daquela publicação, a Diretoria decidiu instalá-lo no prédio nº 17 (depois nº 25) da rua do Clube Ginástico (atual rua Silva Jardim), para onde também se transferiu a sede da Federação Espírita Brasileira, que então se achava à rua do Hospício (atual rua Buenos Aires), nº 102.

 

Quem foi Augusto Elias da Silva

 

Augusto Elias da Silva nasceu em Portugal no ano de 1848, mas viveu a maior parte de sua existência na cidade do Rio de Janeiro, onde exerceu a profissão de fotógrafo profissional, vindo a desencarnar aos 55 anos de idade no dia 18 de dezembro de 1903.

Sobre sua adesão ao Espiritismo, ele próprio assim escreveu:

 

Em 1881, fui convidado a assistir a uma sessão na sala da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, à rua da Alfândega n.º 120. As minhas convicções nesta época eram as do mais lato indiferentismo religioso, não tendo a menor parcela de dúvida sobre a não existência da alma. Não admitindo os fenômenos das diversas religiões, só via nelas agrupamentos de ociosos e amigos de dominar, explorando a ignorância das massas, geralmente  supersticiosas e inclinadas ao sobrenatural.

Foi-me aconselhada a leitura das obras do imortal Kardec. Pela leitura, despertou-se-me o desejo de verificar experimentalmente as teorias que ia bebendo, e comecei a frequentar as sessões dos grupos e sociedades então existentes, onde gradativamente fui recebendo as provas mais robustas da manifestação dos que eu chamava mortos. (Reformador de 1º de setembro de 1891.)

 

Estudando com ardor as obras de Kardec e todas as demais que adquiria para aumentar seus conhecimentos acerca da Doutrina, em pouco tempo Elias traduzia seu entusiasmo e sua vontade de servir à Causa, tornando-se ativo membro da Comissão Confraternizadora da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade.

Fundou, a seguir, o Grupo Espírita Menezes, nome dado em homenagem a Antônio Carlos de Mendonça Furtado de Menezes, que fora diretor da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, e cujo bondoso Espírito, desencarnado em 11 de dezembro de 1879, dirigia então os trabalhos do referido Grupo. Essa Sociedade muitos benefícios espalhou e em 1885 fundiu-se à Federação Espírita Brasileira, para a qual se transferiram seus sócios.

Fundar e conservar um órgão de propaganda espírita no Brasil imperial, que tinha o Catolicismo como religião oficial, era tarefa das mais árduas, visto que todas as baterias do Catolicismo estavam assestadas contra o Espiritismo.

Dos púlpitos brasileiros, principalmente na Capital, choviam anátemas sobre os espíritas, os novos hereges que cumpria abater. Datada de 15 de junho de 1882, fora distribuída ao Episcopado brasileiro uma Pastoral do Bispo da Diocese de S. Sebastião do Rio de Janeiro, na qual o Antigo Testamento era astuciosamente citado para contraditar as comunicações mediúnicas.

Amparado e incentivado dentro do lar por duas almas boas e valorosas, sua sogra, D. Maria Baldina da Conceição Batista, e sua esposa, D. Matilde Elias da Silva, de quem teve um filho também chamado Augusto, ambas espíritas convictas, Elias lançou o periódico Reformador em 21 de janeiro de 1883, situando a redação e as oficinas em seu atelier fotográfico, situado na rua da Carioca, 120 - 2º andar, onde também residia com sua família.

A partir daí, os espíritas brasileiros conhecem a história. Reformador passou à propriedade da Federação Espírita Brasileira, da qual é seu órgão oficial, cujo acervo digital – desde a fundação do periódico em 1883 até os nossos dias - pode ser consultado por todos aqueles que se interessam pela história do movimento espírita em nosso país. Para acessar o acervo, clique aqui


 
  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita