Suicídio inconsciente
A intemperança e o abandono voluntário dos
princípios da fraternidade é suicídio também
“(...) O Espiritismo apresenta-nos os próprios
suicidas a informar-nos da situação desgraçada
em que se encontram e a provar que ninguém viola
impunemente a Lei de Deus.” - Allan
Kardec
Com Kardec
aprendemos que
são chamados “suicídios inconscientes” aqueles
que se dão em estado de loucura ou de
embriaguez... Informa-nos André Luiz que
existe um terceiro tipo de suicídio
inconsciente: é aquele motivado por nossa
intemperança e pelo abandono voluntário dos
princípios da fraternidade.
Foi com grande
perplexidade que André Luiz ouviu3 do
enfermeiro Henrique de Luna, do Serviço de
Assistência Médica de Nosso Lar, a trágica
notícia de seu suicídio que, aliás, ratificava
os gritos e impropérios das Entidades umbralinas
que o martirizaram por quase oito anos, quando
vociferavam, acusadores: “suicida!
criminoso! infame!...”
“Suicídio?! Creio haja engano” – asseverei
melindrado –
“meu regresso do mundo não teve essa causa...
Lutei mais de quarenta dias, na Casa de Saúde,
tentando vencer a morte. Sofri duas operações
graves, devido a oclusão intestinal”.
— “Sim” —
esclareceu o médico, demonstrando a mesma
serenidade superior —, e inclinando-se,
atencioso, indicava determinados pontos do meu
corpo: “mas
a oclusão radicava-se em causas profundas.
Talvez o amigo não tenha ponderado bastante... O
organismo espiritual apresenta em si mesmo a
história completa das ações praticadas no
mundo”.
— “Vejamos
a zona intestinal” — exclamou. —
“a oclusão derivava de elementos cancerosos, e
estes, por sua vez, de algumas leviandades do
meu estimado irmão, no campo da sífilis. A
moléstia talvez não assumisse características
tão graves, se o seu procedimento mental no
planeta estivesse enquadrado nos princípios da
fraternidade e da temperança. Entretanto, seu
modo especial de conviver, muita vez exasperado
e sombrio, captava destruidoras vibrações
naqueles que o ouviam. Nunca imaginou que a
cólera fosse manancial de forças negativas para
nós mesmos? A ausência de autodomínio, a
inadvertência no trato com os semelhantes, aos
quais muitas vezes ofendeu sem refletir,
conduziam-no frequentemente à esfera dos seres
doentes e inferiores. Tal circunstância agravou,
de muito, o seu estado físico...”
Singular
desapontamento invadira-me o coração. Parecendo
desconhecer a angústia que me oprimia,
continuava o médico, esclarecendo: “os
órgãos do corpo somático possuem incalculáveis
reservas, segundo os desígnios do Senhor. O meu
amigo, no entanto, iludiu excelentes
oportunidades, esperdiçando patrimônios
preciosos da experiência física. Todo o aparelho
gástrico foi destruído à custa de excessos de
alimentação e bebidas alcoólicas, aparentemente
sem importância. Como vê, o suicídio é
incontestável”.
Meditei nos problemas dos caminhos humanos,
refletindo nas oportunidades perdidas.
Conceituara, até ali, os erros humanos, segundo
os preceitos da criminologia. Deparava-se-me,
porém, agora, outro sistema de verificação das
faltas cometidas: não me defrontavam tribunais
de tortura, nem me surpreendiam abismos
infernais; contudo, Benfeitores sorridentes
comentavam-me as fraquezas como quem cuida de
uma criança desorientada, longe das vistas
paternas. A bondade exuberante de Clarêncio, a
inflexão de ternura do médico, a calma fraternal
do enfermeiro, penetravam-me fundo o Espírito.
Não me dilacerava o desejo de reação; doía-me a
vergonha... Reconheci a extensão de minhas
leviandades de outros tempos. A falsa noção da
dignidade pessoal cedia terreno à justiça.
Perante minha visão espiritual só existia,
agora, uma realidade torturante: era
verdadeiramente um suicida!”
Entendemos, assim, com a dolorosa saga de André
Luiz, que os órgãos de nosso corpo físico têm “prazo
de validade”, que poderá ser cumprido, desde
que não os sobrecarreguemos com libações
alcoólicas, excessos gastronômicos e muito menos
os bombardeemos com intemperanças de vária
ordem... O fígado e os rins, por exemplo, não
foram feitos para filtrar álcool, os pulmões não
têm como função suportar o ataque da nicotina e
quejandos, o estômago responde com úlceras ao
comportamento atrabiliário... Não fica difícil
entender e concluir que os nossos
variegadíssimos descalabros psicofisiobiológicos,
encurtam o “prazo de validade” de nossos
órgãos somáticos, fazendo-nos aportar no Mundo
Espiritual antes da hora, portanto, na condição
de suicidas inconscientes ou indiretos.
Emmanuel,
afirma que “(...) todas as criaturas humanas
adoecem, todavia, são
raras aquelas que cogitam de cura real. Se te
encontras enfermo, não acredites que ação
medicamentosa, através da boca ou dos poros, te
possa restaurar integralmente. O comprimido
ajuda, a injeção melhora, entretanto, nunca te
esqueças de que os verdadeiros males procedem do
coração. A mente é fonte criadora. De
que vale a medicação exterior, se prossegues,
triste, acabrunhado ou
insubmisso?! Como regenerar a saúde se perdes
longas horas na posição da cólera ou do
desânimo? A indignação rara, quando justa e
construtiva no interesse geral, é sempre um bem,
se sabemos orientá-la em serviços de elevação,
contudo, a indignação diária, a propósito de
tudo, de todos e de nós mesmos, é um hábito
pernicioso, de consequências imprevisíveis. O
desalento, por sua vez, é clima anestesiante;
que entorpece e destrói. E que falar da
maledicência ou da inutilidade, com as quais
despendes tempo valioso e longo em conversação
infrutífera, extinguindo as próprias forças?
Que gênio milagroso te doará o equilíbrio
orgânico, se não sabes calar, nem desculpar, se
não ajudas nem compreendes, se não te humilhas
para os desígnios superiores, nem procuras
harmonia com os homens?!...
“Se estás doente, meu amigo, acima de qualquer
medicação, aprende a orar e a entender, a
auxiliar e a preparar o coração para a Grande
Mudança. Desapega-te de bens transitórios que te
foram emprestados pelo Poder Divino, de acordo
com a lei do uso, e lembra-te de que serás,
agora ou depois, reconduzido à Vida Maior, onde
encontramos sempre a própria consciência.
“Foge, portanto, à brutalidade; enriquece os
teus fatores de simpatia pessoal pela prática do
amor fraterno; busca a intimidade com a
sabedoria, pelo estudo e pela meditação; não
manches teu caminho; serve sempre; trabalha na
extensão do bem; guarda lealdade ao ideal
superior que te ilumina o coração e permanece
convicto de que se cultivas a oração da fé viva,
em todos os teus passos, aqui ou além o Senhor
te levantará”.
Ainda há tempo, pois está em nossas mãos mudar o
nosso destino, e a Doutrina Espírita,
revivescendo e completando os ensinamentos do
Cristo, é poderosa auxiliar de quem deseja
abandonar as vestes apodrecidas e fétidas do “homem
velho”, conquistando a tão sonhada e
almejada “veste nupcial” tecida com os
fios do amor, do conhecimento, da renúncia e da
abnegação...
Joanna de Ângelis,
mostra nossa destinação para as faixas
superiores do bem: "(...)
Por maior que seja esse período de dominação
negativa, cessará, ao impositivo da evolução que
jamais será detida. Portanto, é
conveniente utilizar-se, desde logo, dos
antídotos poderosos para as paixões que
desgovernam os homens e a época, e de que nos
dão conta e excelentes provas a química do amor
e a dinâmica da Caridade de que o Cristo Se fez
paradigma excelente. Pequenos esforços
somam resultados expressivos; migalhas
reunidas formam volume respeitável; átomos
agregados constituem forças atuantes e vivas...
Pequeno empenho agora contra a ira, uma migalha
de caridade logo mais, um átomo de amor que se
dilata, e será formado o condicionamento para as
arrancadas exitosas”.
Quando os seres cultivarem o Amor segundo os
parâmetros ofertados por Jesus, compreenderão,
finalmente, ser ele a argamassa que ligará toda
a humanidade sob o seu pálio, e todos se
desprendendo das constringentes peias do egoísmo
e do orgulho, passarão a buscar os suavíssimos
gozos da alma em prelúdios das celestes e
imarcescíveis alegrias.
-
Idem, ibidem, cap. V, item 15.