Um minuto
com Chico Xavier

por Regina Stella Spagnuolo

   

Voltando aos nossos diálogos e recordações, reencontramos o querido amigo Arnaldo Rocha, cujos cabelos brancos ora apontam um ancião no esplendor da sabedoria, ora escondem o eterno jovem dos Amigos para Sempre.

– Como vai? – inquiri com a alegria de sempre. Vamos ao trabalho?

Resposta de soslaio:

– O tempo urge. Não percamos as oportunidades nas esquinas de pedra.

– Arnaldo, hoje estávamos relembrando a viagem a Angra dos Reis, realizada por você, Chico e o Ennio Santos, em 1954.

– Bela lembrança! Quando relatei essa passagem no livro Mandato de Amor, acabei deixando um detalhe que pode ser apontado como mais um grande ensinamento em torno da mediunidade de Chico. Em um dos passeios que fizéramos, com muita alegria, passamos por uma grande dificuldade. Contratamos um barco que, na época, levava os turistas para conhecer uma parte do arquipélago de Angra dos Reis. E aqui transcreveremos o trecho do livro Mandato de Amor com a finalidade de sermos fiéis à primeira amostra: “A lancha levou-nos velozmente até a pequenina porção de terra macia. O azul do céu resplandecia nas águas cristalinas, o sol refletia seus raios quentes e estes pareciam milhares de diamantezinhos flutuantes. Despedimo-nos do condutor, obtendo dele a promessa de nos buscar algumas horas mais tarde. Enquanto nadava, exercitando o meu corpo nas ondas espumantes, Chico e Ennio conversavam alegremente, com as calças dobradas até os joelhos, como duas crianças, patinando nas marolas. Foi uma tarde memorável, pois pude ver Chico descansado e feliz, como há muito não via. Por volta das dezesseis horas, fomos surpreendidos por uma repentina mudança de tempo. Céu e mar confundiam-se num negrume assustador! O barqueiro demorava e as ondas gigantescas e espessas invadiam com fúria a pequena praia, antes tão serena. Um temporal desabou do mar querendo nos engolir e, ao longe, o som abafado do barco que tentava aproximar-se. Tive a impressão de ter vivido meio século, tamanha a demora, tamanho o esforço do homem para nos salvar de tão horrível situação. Com muito custo, embarcamos. O barqueiro, aturdido, rezava. Desesperado, perdera o rumo, temia os recifes, as ondas, o vento! A pequena embarcação, frágil ante ao tormento, adernava violentamente, para todos os lados. O motor apresentou problemas, parando subitamente. Chico, Ennio e eu, assentados juntos, os três, estávamos encharcados e nada dizíamos. O vento ululava freneticamente e só a nossa fé inabalável em Deus poderia ser o corolário de nossa salvação.”

Tendo relembrado o incidente, Arnaldo continua sua narrativa dizendo que, no instante em que o barco dançava para todos os lados em um ritmo alucinante, Chico solicitou que ficássemos em prece, pois a situação espiritual era complicada.

Arnaldo prosseguiu:

– Conseguindo chegar ao destino, o marinheiro nos relatou que aquele era o ponto mais crítico da viagem, lugar cheio de recifes. Muitos acidentes aconteciam pelas circunstâncias adversas do tempo e, como consequência, muitas vidas eram ceifadas. Em função daquilo, Chico temeu por todos nós. Este episódio fez com que uma cena ficasse gravada na tela mental de Arnaldo: os Amigos para Sempre, reunidos na praia, no continente, ensopados, assustados; no entanto, salvos. Não perdendo o bom humor, nosso amigo conta que deu logo uma de esperto, falando para o Chico e Ennio: “Os Benfeitores devem ter tido muito trabalho conosco!”.

 

Do livro Chico, diálogos e recordações, de Carlos Alberto Braga Costa.


 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita