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por Martha Triandafelides Capelotto

 

Construir um novo olhar sobre a vida


“E Jesus, parando, chamou-os e disse: Que quereis que vos faça? Disseram-lhe eles: Senhor, que os nossos olhos sejam abertos.” (Mateus 20: 32-33)


Parece banal e repetitivo quando dizemos que mais um ano está se findando. Na verdade, todos os dias, esperamos que o seguinte seja melhor; que os projetos se cumpram; que as mudanças ocorram; que algo, indefinível, aconteça, como se a nossa vida dependesse da ocorrência de um novo amanhecer, onde tudo seria diferente.

A que podemos atribuir essa expectativa de que se encontra no futuro a nossa felicidade?  Por que não hoje? Afinal, só podemos contar com o dia presente, pois do amanhã, nada sabemos.

As oportunidades que a vida oferece para a solução dos problemas pessoais surgem para todos, no entanto, por sermos acomodados ou orgulhosos, preferimos as mudanças exteriores, esperando de forma ilusória, que os outros façam aquilo que nos compete realizar.

Observando as ocorrências diárias, a todo o momento aparece uma ocasião de renovação. Aqui, um teste para provar a paciência, e, ao invés disso, a pretexto de sinceridade, escolhe-se a agressividade, envenenando o próprio coração; ali, um convite para o aprimoramento e abona-se a recusa com cansaço e alegando cansaço, espera caminhos ilusórios de facilidade; acolá, chamados a servir, foge-se para os braços da preguiça, alegando falta de tempo. Entregando-se à preguiça, entorpece-se com o conceito falso da sorte a respeito de suas realizações: o famoso “Não sei o que fiz para Deus... Não sei por que tudo dá errado em minha vida... Oh céus! Oh Vida!...Quanta injustiça!...

E assim, prosseguimos diariamente, nos distanciando das bênçãos divinas em nossos caminhos.

A cada desatenção, adiamos oportunidades benditas para a construção de um estado de paz permanente. Sim, permanente, pois precisamos aprender a conviver com nossos problemas e ainda assim, sentirmos alegria, pois esta não é ausência de contratempos ou a certeza de ter todos os sonhos realizados. Essas definições estão conectadas com uma visão materialista do mundo, que define o prazer e o bem-estar como satisfação plena de interesses pessoais. Essa conduta é responsável pela cultura do menor esforço, cuja proposta central é a eliminação do sofrimento, das frustrações e das contrariedades da nossa vida, como se fosse a única condição para a conquista da felicidade e da paz.

Quando Jesus pergunta aos cegos o que eles queriam que Ele fizesse, eles responderam objetivamente: “Que os nossos olhos sejam abertos”. Abertos os olhos, estariam curados da cegueira espiritual, aquela que é capaz de vendar os olhos com espessas camadas de ignorância e fuga a respeito de sua parcela de responsabilidade na mudança desejada? Transferir essa responsabilidade aos outros é menos penoso que reconhecer nossas necessidades.

Assim, não percamos energias preciosas esperando um novo dia, um novo ano, jogando nos ombros dos outros, que já têm carga suficiente para carregar, as nossas esperanças, as nossas expectativas.

Equivocam-se aqueles que desejam melhorar interiormente esperando que os fatos e as pessoas mudem. Um canteiro sem adubo e sem sementes não dá flores e nem frutos.

Abrir os olhos e “ter olhos de ver” é enxergar com nitidez as nossas necessidades individuais, únicas e intransferíveis.

Toda colheita pede a plantação.

Todo efeito desejado pede o movimento e a ação correta dos objetivos.

Assim, não esperemos pelo amanhã, mas, façamos hoje tudo o que está ao nosso alcance e, certamente, haveremos de experimentar a paz que tanto ansiamos.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita