Construir um novo olhar sobre a vida
“E Jesus, parando, chamou-os e disse: Que quereis que
vos faça? Disseram-lhe eles: Senhor, que os nossos olhos
sejam abertos.” (Mateus 20: 32-33)
Parece banal e repetitivo quando dizemos que mais um ano
está se findando. Na verdade, todos os dias, esperamos
que o seguinte seja melhor; que os projetos se cumpram;
que as mudanças ocorram; que algo, indefinível,
aconteça, como se a nossa vida dependesse da ocorrência
de um novo amanhecer, onde tudo seria diferente.
A que podemos atribuir essa expectativa de que se
encontra no futuro a nossa felicidade? Por que não
hoje? Afinal, só podemos contar com o dia presente, pois
do amanhã, nada sabemos.
As oportunidades que a vida oferece para a solução dos
problemas pessoais surgem para todos, no entanto, por
sermos acomodados ou orgulhosos, preferimos as mudanças
exteriores, esperando de forma ilusória, que os outros
façam aquilo que nos compete realizar.
Observando as ocorrências diárias, a todo o momento
aparece uma ocasião de renovação. Aqui, um teste para
provar a paciência, e, ao invés disso, a pretexto de
sinceridade, escolhe-se a agressividade, envenenando o
próprio coração; ali, um convite para o aprimoramento e
abona-se a recusa com cansaço e alegando cansaço, espera
caminhos ilusórios de facilidade; acolá, chamados a
servir, foge-se para os braços da preguiça, alegando
falta de tempo. Entregando-se à preguiça, entorpece-se
com o conceito falso da sorte a respeito de suas
realizações: o famoso “Não sei o que fiz para Deus...
Não sei por que tudo dá errado em minha vida... Oh céus!
Oh Vida!...Quanta injustiça!...
E assim, prosseguimos diariamente, nos distanciando das
bênçãos divinas em nossos caminhos.
A cada desatenção, adiamos oportunidades benditas para a
construção de um estado de paz permanente. Sim,
permanente, pois precisamos aprender a conviver com
nossos problemas e ainda assim, sentirmos alegria, pois
esta não é ausência de contratempos ou a certeza de ter
todos os sonhos realizados. Essas definições estão
conectadas com uma visão materialista do mundo, que
define o prazer e o bem-estar como satisfação plena de
interesses pessoais. Essa conduta é responsável pela
cultura do menor esforço, cuja proposta central é a
eliminação do sofrimento, das frustrações e das
contrariedades da nossa vida, como se fosse a única
condição para a conquista da felicidade e da paz.
Quando Jesus pergunta aos cegos o que eles queriam que
Ele fizesse, eles responderam objetivamente: “Que os
nossos olhos sejam abertos”. Abertos os olhos, estariam
curados da cegueira espiritual, aquela que é capaz de
vendar os olhos com espessas camadas de ignorância e
fuga a respeito de sua parcela de responsabilidade na
mudança desejada? Transferir essa responsabilidade aos
outros é menos penoso que reconhecer nossas
necessidades.
Assim, não percamos energias preciosas esperando um novo
dia, um novo ano, jogando nos ombros dos outros, que já
têm carga suficiente para carregar, as nossas
esperanças, as nossas expectativas.
Equivocam-se aqueles que desejam melhorar interiormente
esperando que os fatos e as pessoas mudem. Um canteiro
sem adubo e sem sementes não dá flores e nem frutos.
Abrir os olhos e “ter olhos de ver” é enxergar com
nitidez as nossas necessidades individuais, únicas e
intransferíveis.
Toda colheita pede a plantação.
Todo efeito desejado pede o movimento e a ação correta
dos objetivos.
Assim, não esperemos pelo amanhã, mas, façamos hoje tudo
o que está ao nosso alcance e, certamente, haveremos de
experimentar a paz que tanto ansiamos.