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Carmine Mirabelli, um
médium extraordinário |
Para escrever esta crônica consultei o “Inventário
sobre a história dos homenageados nas placas da cidade”,
obra em 1ª edição do acadêmico Dr. Olavo Pinheiro Godoy
que, em 2009, registrou para a posteridade RUAS DE
BOTUCATU com dados biográficos de pessoas notáveis da
história brasileira e da história citadina, porém de
Carmine Mirabelli, pela distância no tempo, os
botucatuenses possivelmente nunca ouviram dizer o seu
nome e muito menos conhecem suas realizações no campo da
mediunidade e, assim, não foi contemplado.
Em retrospectiva...
No ano de 1889, no dia 2 de janeiro, na casa da Rua
Amando de Barros com Quintino Bocaiuva, nascia em
Botucatu o homem desta crônica, filho primogênito de
Luigi Mirabelli, pastor luterano italiano e de Christina
Scaccioto Mirabelli, também italiana. O casal teve mais
uma filha de nome Tereza Mirabelli. Para os
pesquisadores botucatuenses, caso procurem nos arquivos
do Grupo Escolar Dr. Cardoso de Almeida, com certeza
irão encontrar registros de suas matrículas nas
primeiras letras.
Para esta despretensiosa crônica encontrei nos escritos
de Lamartine Palhano Jr., farmacêutico, escritor,
romancista e pesquisador da fenomenologia espírita, uma
exposição sobre Mirabelli como “Um Médium
Extraordinário” e nos trabalhos de pesquisas de Eurico
Dória de Araújo Goes, advogado, escritor, político
brasileiro, dissertando sobre Carmine Mirabelli, ele
apresentou um trabalho quando Diretor da Biblioteca
Pública Municipal de São Paulo, em 1937, sobre “
Prodígios da Biopsychica obtidos com o Médium Mirabelli”.
Mais recentemente, Fábio H. Diório fez publicar na
Revista “Espiritismo em Ação” no Canal Youtube extensa
biografia de Mirabelli deixando link à disposição
de interessados.
Para entender melhor o que esse ilustre filho de
Botucatu deixou de importante nos escritos da Doutrina
dos Espíritos, procurei saber também o melhor conceito
de Mediunidade nas palavras de Allan Kardec: “para o
mundo material Deus outorgou ao homem a vista corpórea,
os sentidos e instrumentos especiais. Com o telescópio,
ele mergulha o olhar nas profundezas do espaço, e, com o
microscópio, descobriu o mundo dos infinitamente
pequenos. Para penetrar no mundo invisível, deu-lhe a
mediunidade”.
Allan Kardec em sequência esclarece que “Os médiuns são
os intérpretes incumbidos de transmitir aos homens os
ensinos dos Espíritos; ou melhor, são os órgãos
materiais de que se servem os Espíritos para se
expressarem aos homens por maneira inteligível. Santa é
a missão que desempenham, visto ter por fim rasgar os
horizontes da vida eterna. O médium que compreende o seu
dever, longe de se orgulhar de uma faculdade que não lhe
pertence, visto que lhe pode ser retirada, atribui a
Deus as boas coisas que obtém”. (O Evangelho segundo
o Espiritismo, item 9, pags.451/453, 129ª edição,
FEB/Brasília/Rio de Janeiro).
Ainda aluno do Colégio São Luiz em Itu e no Colégio
Cristóvão Colombo, em São Paulo, dissertando em sala,
impressionou seus professores e colegas quando abordou o
tema “Evolução e Involução”, movimento regressivo em
perfeito latim, embora não tivesse conhecimento do
idioma. Quando em transe comunicava-se em diversos
idiomas, pintava quadros de pintores famosos e tocava
instrumentos musicais como o violino.
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Carmine Mirabelli foi um desses homens que receberam, na
condição de médium, a incumbência de trazer |
para o mundo material aquele mundo invisível dos
Espíritos, portanto, Mirabelli aos 22 anos já era possuidor e portador de um
magnetismo impressionante e, ao mesmo tempo, assustador.
Era dotado de paranormalidade, fenômenos psíquicos não
explicados cientificamente. |
A seu respeito, Palhano em consonância com Eurico Goes
registra que em 1914 Mirabelli trabalhando como
empregado da Companhia Calçados Villaça e posteriormente
na Calçados Clark foi colhido de surpresa por estranhos
fenômenos. Apenas na sua presença, com frequência,
sapatos saltavam por si mesmos das prateleiras ou
moviam-se como se fossem animados. Ele mesmo não
compreendia porque isso acontecia, mas muitos clientes
assustados atribuíam os fenômenos ao ‘diabo’. Sua casa
foi apedrejada por fanáticos religiosos. Internado por
19 dias no Asilo de Alienados do Juqueri, seus médicos
doutores Francisco Franco da Rocha e Felipe Achê em
Hospital deram como diagnóstico ser o mesmo paranormal
com “energia nervosa acima dos parâmetros” atestaram
como fenômenos autênticos e nessas condições ele teve
alta imediata.
Com a ajuda de pesquisadores renomados dos fenômenos
psíquicos, como o médico Dr. Alberto de Melo Seabra,
tomou consciência da importância de seus dons psíquicos
e decidiu submeter-se a sessões espíritas experimentais,
uma vez que podia realizar ampla gama de fenômenos entre
os quais a levitação, materialização e desmaterialização
de objetos, mensagens psicografadas recebidas de
Espíritos. Muitos desses fenômenos ocorriam de suas
próprias forças psíquicas, com ou sem envolvimento de
entidades espirituais.
Em 25 de agosto de 1917 Carmine Mirabelli fundou o
Centro Espírita São Luiz na cidade de São Vicente,
posteriormente transferido para a cidade de Santos, como
uma entidade beneficente, sendo mantida por ele até
1928, quando encerrou suas atividades. Além de ter sido
fundador do Centro Espírita São Luiz, foi membro
integrante do Centro de Estudos Psíquicos César Lombroso,
como “Consagrado Médium Brasileiro”, em São Paulo.
Carmine Mirabelli foi um homem diferente, diziam ser um
“Homem Misterioso” e a partir de 1916 jornais de São
Paulo dedicavam-se a falar dele, mas de uma forma
pejorativa. Sendo médium considerado vidente, tinha no
Espiritismo sua base de sustentação; ocorre, porém, que
nessa época o Código Penal dizia textualmente em seu
art. 157: “Praticar o espiritismo, a magia e seus
sortilégios... - Penas de prisão”. Enquadrado nesse
artigo Mirabelli foi processado e, ao final, inocentado.
Sua contribuição ao Espiritismo é enorme, porque se
colocou à disposição para atender todas necessidades da
divulgação desses fenômenos mediúnicos. Intensa campanha
jornalística contra ele não foram suficientes para
reduzir seus propósitos sérios, que sua mediunidade
proporcionava à orientação criteriosa das equipes que
acompanhavam seu trabalho.
Com o avançar da idade Mirabelli não perdeu seus dons e
que foram observados até 1950, meses antes de sua morte.
Morte já prevista por ele nas condições que ocorreram,
sem precisar a data.
Mirabelli faleceu em 30/4/1951 em São Paulo, vítima de
acidente de trânsito, por atropelamento.
Fontes de consulta:
O Evangelho Segundo o Espiritismo –
Kardec, Allan;
Um Médium Extraordinário –
Palhano Jr, Lamartine;
Prodígios da Biopsychica –
Goes, Eurico Dória de Araújo;
Mirabelli, o Médium de Botucatu –
Fernandes, Renato – Botucatu Online.
A Arte através de Mirabelli –
Lepenisck, Gilberto – Correio Espírita.
Wikipédia -
a enciclopédia livre.
Roque Roberto Pires Carvalho, advogado e
mestre em Educação, reside em Botucatu (SP)