Natural de São Paulo, capital paulista, Juan
Carlos Orozco (foto), graduado, mestre,
doutor e pós-doutor em Ciências Militares,
morou, por decorrência de sua profissão, em
diversas cidades do país, estabelecendo-se por
definitivo em 2014 na Capital Federal, Brasília.
Além de palestrante em três instituições
espíritas sediadas no Distrito Federal, é
articulista nos periódicos Brasília Espírita, O
Consolador e jornal “O Imortal”. Nesta
entrevista, ele nos fala sobre as boas práticas
espíritas e diz quão importante é a doutrina
espírita para a evolução da humanidade e a
transformação dos mundos:
Em que momento teve contato com a Doutrina
Espírita?
Em 2014, no antigo Grupo Espírita Fraternidade
de Maria (GEFRAMA), hoje Obras Sociais
Fraternidade de Maria (OSFRAMA), em Brasília/DF,
durante um atendimento fraterno, uma entidade
espiritual havia- me dito para ler O
Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan
Kardec, o que tentei, mas não compreendia bem os
seus textos. Depois daquele conselho, um amigo e
trabalhador da Casa convidou-me para fazer uma
palestra acerca de um capítulo da mesma obra. O
desafio foi grande, mas a superação
proporcionou-me o início da caminhada
doutrinária. Dessa experiência, tomado por uma
imensa vontade de ler todo o Evangelho, como
querendo recuperar o tempo perdido, nunca mais
parei de ler, ler e ler.
Houve algum acontecimento especial que propiciou
este contato inicial?
Dizem no nosso meio que você procura a Casa
Espírita pelo amor ou pela dor. Eu fui pela dor.
Procurei o GEFRAMA para pedir a intercessão
espiritual a um membro da minha família que
necessitava urgente de auxílio do mundo
espiritual. Esse fato conduziu-me para a
Doutrina Espírita.
Qual a reação de sua família ante sua adesão à
Doutrina?
A adesão à Doutrina Espírita ocorreu
progressivamente, conforme ia aprofundando os
estudos e as reflexões a respeito do
Espiritismo, pois tudo na vida tem o seu tempo
de: semear, desenvolver, crescer, amadurecer,
preparar e servir. Apesar da conversão ao
Espiritismo, não abandonei a origem católica,
que me iniciou na religiosidade cristã. Assim, a
minha adesão ao Espiritismo não trouxe qualquer
reação por parte da família, pois cada um tem a
sua convicção e crença. Na verdade, há um
respeito mútuo por parte de todos os familiares,
inclusive dos ateus.
Dos três aspectos do Espiritismo - científico,
filosófico e religioso -, qual é o que mais o
atrai?
O que mais me atrai é o aspecto religioso do
Espiritismo, o qual se preocupa com as
consequências morais do ensino
científico-filosófico, buscando na ética e na
moral pregadas por Jesus os elementos que
deverão nortear a conduta do ser humano em
direção ao Criador. Embora o Espiritismo não
seja uma religião constituída, tradicional,
estruturada com base em rituais, sacramentos,
dogmas e classes sacerdotais, ele se preocupa
com a atitude de vida e o proceder, buscando uma
identificação com Deus, por meio de uma vida
reta, digna e fraterna, e não através de
atitudes exteriores, artificiais e mecanizadas.
O Espírito Emmanuel, no livro “Verdade e amor”,
na psicografia de Francisco Cândido Xavier, no
texto “Amor e verdade”, sintetiza: “A Verdade
é Luz. Entretanto, o Amor é a própria Vida.” Em
tão poucas palavras, Emmanuel resume as nossas
tarefas na busca da perfeição, tendo o Mestre
Jesus como modelo, guia e roteiro de vida a
caminho do Pai. Esse texto coloca verdade e amor
lado a lado, como essenciais e complementares
para se empreender caminhadas de sublimes
aprendizados, serviços e progressos. A
libertação pela verdade é longo processo pelo
trabalho incessante na prática do amor ao
próximo como a si mesmo. Assim, os aspectos
científico e filosófico da Doutrina Espírita são
de suma importância para iluminar o nosso
interior com as verdades eternas para purificar
os nossos corações e nos conduzir para o caminho
do bem. Mas é o amor em ação, a lei do amor na
sua prática, que verdadeiramente nos
impulsionarão para a tão almejada evolução moral
e espiritual, fazendo-nos agir de acordo com os
ensinamentos e os exemplos do Mestre Jesus,
tendo eles como roteiro de vida. Esse aspecto
religioso da Doutrina Espírita é que impulsiona
a prática do amor divino que o Cristo nos
ensinou.
Que livros espíritas que tenha lido você
considera indispensáveis aos irmãos que estão
iniciando sua jornada?
Primeiramente, recomendaria a leitura da
Codificação Espírita, de Allan Kardec, começando
por “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, depois
“O Livro dos Espíritos”. Outro livro que dá uma
noção geral da Doutrina é “O que é o
Espiritismo”. Esses livros são básicos e
essenciais para servir de referência quando da
literatura complementar. A Doutrina Espírita é
dinâmica e progressiva, pois não foi ditada
completa, nem imposta à crença cega, porque é
deduzida, pelo trabalho do homem, da observação
dos fatos que os Espíritos põem sob os olhos e
das instruções que dão. Assim, as revelações são
incessantes, complementares e acumulativas de
conhecimentos, sendo transmitidas por diversos
meios e médiuns. Por isso, o Espiritismo
continua a ser complementado por novas
revelações, conforme a nossa evolução
intelectual, moral e espiritual, que
impulsionarão a capacidade de assimilação de
novos conhecimentos que suportarão o apropriado
progresso rumo à perfeição relativa à qual a
Humanidade está destinada. Assim sendo, diversas
coleções da literatura complementar devem ser
objeto de leitura por quem está começando a sua
caminhada, em especial aquelas já consagradas
pelas diversas instituições e editoras
espíritas.
As divergências doutrinárias em nosso meio
reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz
respeito ao Espiritismo laico. Para você o
Espiritismo é religião?
Com toda a certeza o Espiritismo é religião, mas
não aos moldes de outras crenças: é religião na
sua essência de praticar o que prega. Todo
conhecimento sem a prática é inútil, seria a
mesma coisa que a fé sem obras. Allan Kardec, em
“O Livro dos Médiuns”, Primeira Parte, Capítulo
III, item 24, esclarece: “... o Espiritismo
repousa sobre as bases fundamentais da Religião
e respeita todas as crenças; que um de seus
efeitos é incutir sentimentos religiosos nos que
os não possuem, fortalecê-los nos que os tenham
vacilantes.” Ainda Kardec, na Revista
espírita, de dezembro de 1868, no discurso de
abertura, disse: “No sentido filosófico, o
Espiritismo é uma religião, e nós nos
vangloriamos por isto, porque é a Doutrina que
funda os vínculos da fraternidade e da comunhão
de pensamentos, não sobre uma simples convenção,
mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis
da natureza”.
O Espírito Emmanuel, no livro “O Consolador”, em
“Definição”, na psicografia de Francisco Cândido
Xavier, ensina: “Podemos tomar o Espiritismo,
simbolizado (...) como um triângulo de forças
espirituais. A Ciência e a Filosofia vinculam à
Terra essa figura simbólica, porém, a Religião é
o ângulo divino que a liga ao céu. No seu
aspecto científico e filosófico, a doutrina será
sempre um campo nobre de investigações humanas,
como outros movimentos coletivos, de natureza
intelectual que visam ao aperfeiçoamento da
Humanidade. No aspecto religioso, todavia,
repousa a sua grandeza divina, por constituir a
restauração do Evangelho de Jesus Cristo,
estabelecendo a renovação definitiva do homem,
para a grandeza do seu imenso futuro
espiritual.” Por tudo isso, o caráter
religioso do Espiritismo é o amor em ação, o
amor na prática, o amor decorrente da luz que
ilumina o coração, sem ritos, dogmas ou práticas
formais.
O movimento espírita em nosso País lhe agrada ou
falta algo nele que favoreça uma melhor
divulgação da Doutrina Espírita?
O Espiritismo nasceu na França, criando as suas
raízes no Brasil, a Pátria do Evangelho,
denominação dada pelo Espírito Humberto de
Campos, considerando-se vários fatores de
formação da nacionalidade brasileira que
contribuem para uma maior evangelização de seu
povo, os quais também favorecem a divulgação da
Doutrina Espírita. A expansão do Espiritismo no
Brasil superou vários obstáculos e desafios para
acolher a nova Doutrina e atingir o estágio
atual. A exemplo dos primeiros profetas e
mensageiros divinos, tudo foi com muito
sacrifício, perseverança e determinação de
propósitos. Não foi tarefa fácil, envolvendo o
esforço de todos aqueles que aceitaram seguir as
pegadas do Mestre Jesus: ser o sal da Terra e a
luz do mundo para os seus semelhantes. Na minha
percepção, o movimento espírita no Brasil está
em expansão e seguindo o seu rumo traçado pelo
Mentor Espiritual Ismael. Contudo, como todo
movimento que cresce, não se pode perder o seu
controle, principalmente para se manter fiel aos
preceitos que deram a sua origem no caminho do
bem e da caridade, sem se desviar do caminho da
verdade e da vida em direção ao Pai,
principalmente diante de circunstâncias que
possam abalar a lei maior do amor e honrar o seu
lema: Fora da caridade não tem salvação! Nesse
contexto, o mais importante do que favorecer uma
melhor divulgação da Doutrina é dar o exemplo,
confiabilidade e autoridade àquilo que prega e
difunde. Se não faço o que prego, dificilmente
alguém acreditará na sua divulgação. O momento
atual exige perseverança e vigilância por parte
dos trabalhadores espíritas. A retidão de
comportamentos, atitudes e procedimentos no
caminho do bem e da caridade terá um efeito
aglutinador pela fé e confiança, valendo mais do
que mil palavras. Devido à expansão do
movimento, cresce de importância a vigilância e
a dedicação aos estudos, para se obter os
verdadeiros entendimentos doutrinários
espíritas, mediante a correta assimilação dos
princípios do Espiritismo, estimulando a prática
das verdades que libertam a alma.
A preparação do advento do mundo de regeneração
em nosso planeta já deu, como sabemos, seus
primeiros passos. Daqui a quantos anos você
acredita que a Terra deixará de ser um mundo de
provas e expiações, passando plenamente à
condição de um mundo de regeneração, em que,
segundo Santo Agostinho, a palavra amor estará
escrita em todas as frontes e uma equidade
perfeita regulará as relações sociais?
O atual momento de transição planetária já
começou, mas não há como se precisar quando isso
se consolidará. Não estamos falando de dia,
hora, minutos e segundos, mas sim de um período
determinado por Deus. Quando fiz uma palestra
sobre os sinais dos tempos, comentei que muitos
se assustam com o Apocalipse escrito por João
Evangelista por meio de simbolismos e alegorias,
fazendo relação dessa revelação com o fim do
mundo. O Apocalipse, revelação de Jesus Cristo,
que foi dada por Deus, ao invés de anunciar o
fim do mundo, narra o início de uma Nova Era da
Humanidade. Outra questão que deixa a muitos
receosos e com medo: Tem hora e data marcadas
para tudo isso ocorrer? Vários textos
evangélicos respondem a essa indagação: “Quanto
ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos
céus, nem o Filho, senão somente o Pai”.
(Mateus, 24: 36) “Portanto, vigiai, porque
não sabeis em qual dia vem o vosso Senhor”.
(Mateus, 24: 42) “Senhor, Senhor, abre-nos a
porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo
que não vos conheço. Portanto, vigiai, porque
não sabeis nem o dia, nem a hora”. (Mateus,
25: 13)
Pela Parábola das dez virgens (Mateus, 25:
1-13), aqueles que não se prepararem para esses
tempos perderão o início das bodas, quando se
fecharem as portas de um momento para outro. Daí
a importância de se perseverar na vigilância
necessária, porque não se pode precisar o
momento em que ocorrerá a transição da
Humanidade, por isso o alerta: “Portanto,
vigiai, porque não sabeis nem o dia, nem a hora”.
Logo, tenhamos a devida cautela quando nos
apresentarem uma data para essas coisas
ocorrerem. A transição planetária trata do fim
de um ciclo evolutivo da Humanidade, dos tempos
de um mundo velho, com o desaparecimento de tudo
que é contrário à moral, à justiça e à lei de
Deus, com o surgimento de um mundo novo sob a
égide da verdade, do bom entendimento, da lisura
de caráter, da equidade, do amor, da paz e da
fraternidade universal. É preciso agir com
cuidado para não sermos envolvidos e enganados
pelos falsos profetas, porque, submetidos ao
peso das provações, estaremos mais expostos e
fragilizados. Assim, surgirão aproveitadores que
se alimentarão do sofrimento no Planeta,
representados por Espíritos inescrupulosos e
mentirosos, que nos apresentarão certas datas ou
determinados momentos para o tal “fim do mundo”
ou “fim da transição planetária”.
Em face dos problemas que a sociedade terrena
está enfrentando, qual deve ser a prioridade
máxima dos que dirigem atualmente o movimento
espírita no Brasil e no mundo?
Vários livros do Espírito Manoel Philomeno de
Miranda, na psicografia de Divaldo Pereira
Franco, trazem alertas direcionados a dirigentes
e trabalhadores espíritas. Nas revelações desses
livros, inescrupulosa coletividade de Espíritos
do mal tem agido ardilosamente, explorando as
vulnerabilidades e fragilidades de muitos
trabalhadores da última hora invigilantes,
minando as suas condutas. Inclusive atrevem-se a
dar nova interpretação às obras da Codificação,
que alguns simpatizantes acreditam como
“verdade” e procuram difundir. Diante dessa
situação, vozes do mundo espiritual conclamam os
trabalhadores do bem à vigilância e à oração,
como forma de se neutralizar essas incursões do
mal. Por exemplo, o livro “Perturbações
Espirituais”, em diversos capítulos, descreve
ataques a núcleos espíritas e a seus servidores,
conduzindo-nos para reflexões de vigilância,
autocrítica, autoconhecimento, reforma íntima e
de rever as nossas condutas ética e moral para
não cair em tentações que produzem severas
quedas. As forças do mal de outras eras,
verdadeiros anticristos, uniram-se em batalha
com inimigos comuns. Na impossibilidade de
atingir o Cristo, desenharam plano hábil para
desviar os novos cristãos dos seus caminhos da
verdade e da vida em direção ao Pai.
Utilizando-se do vampirismo e da obsessão,
procuram dominar a Terra como nas épocas
tenebrosas das Cruzadas e da Inquisição.
Permanecendo na Palavra e conhecendo a verdade
divina, na busca da transformação moral
libertadora, a perseverança e a vigilância
surgem como essenciais preceitos de conduta nas
lutas renovadoras, das quais somos convocados a
fazer as escolhas mais acertadas em prol dos
mais elevados sentimentos de fraternidade
universal, pela prática da caridade para com nós
mesmos e aos nossos semelhantes. Por tudo isso,
vejo como prioridade para os dirigentes
espíritas a observação desses alertas advindos
do mundo espiritual para que os trabalhadores
espíritas não se deixem cair em tentação e
desviem do caminho reto do amor, do bem e da
caridade.
Suas palavras finais.
Em nossas jornadas, encontramos pedras no
caminho representadas pelas dificuldades de
qualquer natureza, podendo asfixiar a fé, a
confiança, os talentos que Deus nos deu e a
esperança em dias melhores na busca dos nossos
objetivos, ideais e perspectivas de servir. Elas
podem, também, ser vistas como condicionamentos
ou reflexos dominantes da personalidade que se
expressam sob a forma de interesses passageiros,
superficiais e que não cedem espaço a
entendimentos mais profundos. Podemos removê-las
pelo conhecimento das verdades que libertam,
aproveitando-as para edificar a morada interior
em alicerces celestes. Do entendimento e da
conduta de cada um de nós, dependerá a
felicidade ou o infortúnio. Tropeçando, pisando,
caindo, removendo ou construindo com as pedras
do caminho, temos valiosas oportunidades de
aprendizado e crescimento. Os tropeços virão,
mas a diferença está em como compreendemos as
lições que deles soubermos tirar. Muitas vezes,
pensamos nas dificuldades e nos esforços
necessários para se alcançar algo na vida,
imaginando os grandes obstáculos que possam
surgir e impedir o prosseguimento no caminho
anteriormente traçado. Semeamos a dúvida sobre a
capacidade de buscar os nossos objetivos e de
superar os desafios da vida, sentindo-nos
inseguros e incrédulos, dificultando buscar os
cumes mais elevados de evolução espiritual. As
pessoas com essas pedras interiores, ante os
menores obstáculos que surgem no exercício do
bem, não conseguem se manter fiéis aos
ensinamentos de Jesus, Dele se afastando.
Visualizamos os grandes obstáculos, mas
tropeçamos nas pequenas pedras do dia a dia. Na
verdade, as maiores pedras a serem removidas
estão dentro de nós mesmos, para que consigamos
alcançar a tão almejada edificação do reino de
Deus. Considerando os diferentes estágios
evolutivos, cada qual ao seu tempo, o Espírito
haverá de despertar a consciência para passar a
compreender melhor os mecanismos que regem o
Universo e as reais razões de ser de nossa
existência. Tal transformação somente se dará
mediante uma reforma íntima pelo
autodescobrimento e autoconhecimento, com
trabalho, esforço e mérito. Compreenderá que as
pedras do caminho são necessárias para os
devidos ensinamentos, reflexões e aprendizados
para seguir a trajetória evolutiva na busca da
perfeição relativa à Humanidade, tendo Jesus
como modelo e guia, e os seus ensinamentos e
exemplos como roteiros de vida, porquanto
ninguém chega ao Pai senão por Ele. Assim, as
pedras no caminho poderão atrasar, estacionar ou
acelerar o nosso progresso, dependendo de como
as visualizamos e utilizamos. Remova as pedras
do seu caminho e construa o seu futuro com elas.
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