Eram escassas, e discretas, as curas promovidas por
Chico Xavier. E eram ainda mais raras as previsões
feitas por ele. Ele evitava profecias, temia ser
enganado por espíritos mal-intencionados. Uma vez
quebrou o protocolo e garantiu ao amigo Ranieri: se ele
segurasse uma lâmpada com força, ela acenderia. A
energia do delegado seria suficiente para gerar luz.
Ranieri quase ficou com os dedos roxos. Tudo em vão. Não
tinha vocação para bocal. Muita gente duvidava dos
superpoderes de Chico Xavier. O coro dos desconfiados
seria engrossado até pelo oftalmologista do vidente, o
Dr. Nadir Sáfadi, de São Paulo. Numa das consultas,
enquanto examinava a catarata e a miopia do paciente,
ele não resistiu e perguntou:
- Você vê mesmo os espíritos?
Chico deu a resposta de sempre e recebeu de volta outra dúvida:
- Mas como você enxerga os espíritos com olhos tão debilitados?
O doente recorreu a um discurso kardecista:
- A mediunidade vidente independe dos olhos do corpo físico. O
assunto exige muito estudo.
- Você está vendo algum espírito aqui no consultório?
Chico Xavier respondeu com um "sim" desconcertante e lacônico. O
silêncio foi quebrado pela ansiedade do médico:
- Quem está aqui? Como ele se chama?
O paciente engoliu em seco. Sentiu medo de dizer nome tão
inusitado e ridículo. Podia estar sendo vítima de alguma chacota
espiritual.
Diante da insistência do médico, ele tomou coragem e revelou:
- Ele está me dizendo chamar-se Senobelino Serra. Diz ter sido
natural de São José do Rio Preto.
O Dr. Sáfadi ficou pasmo.
- Dr. Senobelino foi meu professor, foi muito amigo meu.
Chico Xavier respirou aliviado e foi adiante:
- O Dr. Senobelino está me dizendo ter sido designado pela
Espiritualidade Maior para ajudar o senhor na profissão de
médico oftalmologista, juntamente com outros amigos, porque o
senhor ajuda muita gente aqui no consultório.
Histórias mirabolantes como esta se espalhavam, e o protegido de
Emmanuel recebia a visita de céticos dispostos a desmascará-lo
de uma vez por todas. A cada semana, cerca de duzentos novos
curiosos chegavam à cidade. Chico calculava em um terço desse
número a quantidade de desconfiados.
Do livro As vidas de Chico Xavier,
de Marcel Souto Maior.
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