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por Paulo Hayashi Jr.

 

Comportamento, atitudes do indivíduo e saúde: algumas observações iniciais


Desde tempos imemoriais o indivíduo busca satisfazer suas necessidades. Alguns mais precavidos sabem da prudência de frear suas paixões e necessidades inferiores, outros buscam se afogar em seu proveito. Os primeiros evitam problemas, enquanto que os últimos usufruem da vida como se “não existisse” o amanhã. É a rota da loucura e da perdição e que um dia apresenta a “conta”. O que pode implicar em ajustes mais ou menos demorados e dolorosos. Assim, a palavra saúde é complexa e exige um entendimento multidimensional, uma vez que ela pode sofrer influências de diferentes aspectos desta ou de outra vida. Desde a necessidade de reaprendizagem em algum ponto falho na existência passada, ou então, situação de desafio e provação atual. Todavia, a saúde tem uma implicância com a questão mental e até mesmo com o perispírito que representa a vestimenta etérea que auxilia na adaptação do ser as condições do planeta. Como modelo organizador biológico, o perispírito plasma na matéria o que já está existe no espírito e na mente[1]. O que se pode destacar a seguinte frase: Mens sana in corpore sano[2]. Tal expressão foi cunhada pelo poeta romano Juvenal no século I a.D. e representa uma passagem de um trabalho de sátiras. Essas mesmas representam formas de combater a decadência da sociedade da época e guarda preciosas indicações de uma vida digna. Observe a Sátira X de onde se retira a conhecida passagem[3]:

 

Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são.

Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte,

que ponha a longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza,

que suporte qualquer tipo de labores,

desconheça a ira, nada cobice e creia mais

nos labores selvagens de Hércules do que

nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental.

Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio;

Certamente, o único caminho de uma vida tranquila passa pela virtude.

 

O caminho da virtude como elemento essencial de uma vida digna.  De certo modo, é a indicação do espírito de Bezerra: “Cura-te a ti mesmo, mudando a tua vida e servindo mais[4]”. Agir de modo virtuoso pode implicar em uma condição melhor de saúde, em especial por alinhar o pensamento e as ações do ser humano com a realização do bem. Em outras palavras, de se aproximar de Deus e do cumprimento de suas leis. Agir no bem é fazer bem para si, em especial para sua própria saúde d'alma. Mais importante que o corpo físico da vestimenta carnal é o progresso do ser imortal. 

Na origem etimológica da palavra saúde, pode-se destacar que ela vem do latim salus, e significa, salvo, salvação. Em outras palavras, agir com vistas à salvação da alma pode então implicar em manutenção do corpo também. O que corrobora que o corpo físico é apenas o reflexo, seja do aparelho mental, seja do próprio perispírito. Ou seja, a pátria espiritual é a primordial. Além disso, nem toda ausência de saúde pode significar perdição, mas purificação ou remissão.

Neste sentido, destacam-se então algumas características comportamentais do indivíduo para o processo de recuperação que auxiliam na questão da saúde de modo amplo: esperança, confiança, merecimento, vontade, trabalho, perdão e gratidão. Apesar da complexidade do assunto, tais elementos foram selecionados como os principais, mas pode haver outros que complementam. O artigo não tem a pretensão de exaurir o assunto, tampouco de tornar exclusivo que apenas estas dimensões importam. Menos ainda de desprezar os tratamentos convencionais. A abordagem multidisciplinar permite a complementação das abordagens tradicionais com a questão da postura mental e das atitudes dos indivíduos frente à sua recuperação. Neste caso, a doença pode ser um chamamento para que a pessoa desperte para o que realmente importa. Nas palavras de Paulo de Tarso: “Desperta, ó tu que dormes” (Efésios 5:14).

A esperança é a espera de que tudo acabe bem. Como expressa Shakespeare em título de uma de suas obras, “Bem está o que bem acaba”. Quem detém esperança consegue apresentar a crença de que tudo acabará bem com o tempo. A passagem das horas é benéfica e o importante são as consequências finais. A esperança pode otimizar todo o ser, em especial seu aparelho mental e suas vibrações. Vibrar de modo positivo, como um diapasão, pode auxiliar na afinidade e na atração dos resultados desejados. O ser humano pode ser visto como legítima antena captadora do ambiente que vai sintonizar, construir e se adaptar. É como o bicho da seda que expele suas construções mentais e que a moldará no futuro.

Já a confiança em si mesmo, nos recursos terapêuticos, no próprio médico ou terapeuta influencia a condição geral. Confiar é ter fé na mudança benéfica. Também é ter confiança em Deus. “Confiemos constantemente em Deus, para que tenhamos a paz do filho que não se esquece de seu Pai[5]”. Assim, é questão de tempo até que as transformações desejadas apareçam. Além da confiança, também o sentimento de merecimento. Estar com méritos e da posse sincera de que faz parte da justiça maior o processo de purificação e cura. Ter méritos e estar na posse de tais sentimentos representa elemento potencializador da fé. A fé raciocinada exige respaldo, não apenas sentimentais, mas em especial da razão. Com confiança e os méritos racionalizados faz com que a pedra do moinho consiga se mover ainda mais rápido. Sobre os dois elementos, pode-se destacar a observação de André Luiz: a pessoa que deseja ser curada, “na pauta da confiança e do merecimento de que dá testemunho, emite ondas mentais características, assimilando os recursos vitais que recebe, retendo-os na própria constituição fisiopsicossomática[6]”.

Já em relação à vontade, este gerente geral que possibilita mobilizar diferentes recursos do ser, André Luiz é enfático: “a vontade do paciente, erguida ao limite máximo de aceitação, determina sobre si mesmo mais elevados potenciais de cura[7]”.

Assim, a saúde e seu restabelecimento quando abalada passa pela confiança, merecimento e vontade. Todavia, somente com o trabalho santificante é possível fazer com que o óleo diminua o atrito dos problemas. Trabalhar com vistas a uma vida digna é dignificar-se e dar provas de que o beneficiado pode ter a conspiração favorável do universo para aqueles que fazem o bem. Com a ocupação, há o fortalecimento dos méritos, bem como o sentimento de que sua vida faz sentido. Quem tem propósito nobre e trabalho para acordar todos os dias sabe que está fazendo a diferença no mundo e que por ter ofício a executar, necessita cuidar e respeitar o corpo carnal como instrumento valioso.

Já o perdão representa a condição de abandonar sentimentos negativos e atitudes mentais que podem atrapalhar o processo geral de ficar bem. Quem perdoa abandona projetos de vingança, ou de sentimentos baixos. O que auxilia na afinidade da vibração com o positivo, os espíritos superiores, o evitamento de obsessões, etc. Quem perdoa acaba mostrando seu valor, em especial quando esquece de “dar o troco“. Todavia, não adianta apenas esquecer, é necessário ungir com amor. É transformar o sebo em sabão, a farinha moída em pão. Somente com a gratidão o ciclo se completa através da postura mental não negativa para afirmativa. É consolidar, com o agradecimento, as lições e provações que nos tornam maiores. Quando se está em paz com sua consciência e em uma condição de harmonia, há então uma sustentação dinâmica da saúde. A saúde não é eterna para qualquer encarnado, uma vez que o desencarne é condição obrigatória. Todavia, em termos de purificação do ser e a graciosidade do perispírito, o que pode levar o ser à uma condição de espírito puro, estar de bem com a consciência é progredir na existência com harmonia.

Portanto, mais do que a autocura do corpo, o desenvolvimento das luzes e do conhecimento permitirão um dia ascender aos céus sem mais necessitar voltar para provas na carne. Também haverá momentos em que teremos condições de perceber a função purificadora das doenças, das dores e de seus motivos, mesmo que de passados longínquos. Com isso, a saúde da alma se faz pelo madeiro dos erros de outrora. Passar neste ou em outro momento são escolhas a serem feitas, mas que representam o alívio de nossas necessidades de reparação e liberdade. Com isso, ter atitudes e ações virtuosas podem nos levar a condições mais primorosas do que uma simples vida tranquila, mas nos aproximarmos ainda mais do Criador. Sejamos então como aqueles sedentos de saúde e salvação, não para desperdiçar a vida, mas para ganhá-la para a vida eterna. E, em todos os momentos, que seja feita sempre a Vontade do Pai, não a nossa.
 


[1] Emmanuel. Roteiro. Cap. 6. Brasília: FEB, 2013.

[2] Mente sã em corpo são.

[3] Wiki - 1

[4] Espírito Miramez.  Prefácio, Bezerra, p. 11.

[5] Miramez. Cura-te a ti mesmo. Belo Horizonte: Editora Fonte Viva:p. 101.

[6] André Luiz. Mecanismos da Mediunidade. Cap. XXII.

[7] André Luiz. Mecanismos da Mediunidade. Cap. XXII.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita