Comportamento, atitudes do indivíduo e
saúde: algumas observações iniciais
Desde tempos imemoriais o
indivíduo busca satisfazer suas necessidades. Alguns
mais precavidos sabem da prudência de frear suas paixões
e necessidades inferiores, outros buscam se afogar em
seu proveito. Os primeiros evitam problemas, enquanto
que os últimos usufruem da vida como se “não existisse”
o amanhã. É a rota da loucura e da perdição e que um dia
apresenta a “conta”. O que pode implicar em ajustes mais
ou menos demorados e dolorosos. Assim, a palavra saúde é
complexa e exige um entendimento multidimensional, uma
vez que ela pode sofrer influências de diferentes
aspectos desta ou de outra vida. Desde a necessidade de
reaprendizagem em algum ponto falho na existência
passada, ou então, situação de desafio e provação atual.
Todavia, a saúde tem uma implicância com a questão
mental e até mesmo com o perispírito que representa a
vestimenta etérea que auxilia na adaptação do ser as
condições do planeta. Como modelo organizador biológico,
o perispírito plasma na matéria o que já está existe no
espírito e na mente[1].
O que se pode destacar a seguinte frase: Mens
sana in corpore sano[2].
Tal expressão foi cunhada pelo poeta romano Juvenal no
século I a.D. e representa uma passagem de um trabalho
de sátiras. Essas mesmas representam formas de combater
a decadência da sociedade da época e guarda preciosas
indicações de uma vida digna. Observe a Sátira X de onde
se retira a conhecida passagem[3]:
Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo
são.
Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte,
que ponha a longevidade em último lugar entre as bênçãos
da natureza,
que suporte qualquer tipo de labores,
desconheça a ira, nada cobice e creia mais
nos labores selvagens de Hércules do que
nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um
rei oriental.
Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio;
Certamente, o único caminho de uma vida tranquila passa
pela virtude.
O caminho da virtude como
elemento essencial de uma vida digna. De certo modo, é
a indicação do espírito de Bezerra: “Cura-te a ti mesmo,
mudando a tua vida e servindo mais[4]”.
Agir de modo virtuoso pode implicar em uma condição
melhor de saúde, em especial por alinhar o pensamento e
as ações do ser humano com a realização do bem. Em
outras palavras, de se aproximar de Deus e do
cumprimento de suas leis. Agir no bem é fazer bem para
si, em especial para sua própria saúde d'alma. Mais
importante que o corpo físico da vestimenta carnal é o
progresso do ser imortal.
Na origem etimológica da palavra saúde, pode-se destacar
que ela vem do latim salus, e significa, salvo,
salvação. Em outras palavras, agir com vistas à salvação
da alma pode então implicar em manutenção do corpo
também. O que corrobora que o corpo físico é apenas o
reflexo, seja do aparelho mental, seja do próprio
perispírito. Ou seja, a pátria espiritual é a
primordial. Além disso, nem toda ausência de saúde pode
significar perdição, mas purificação ou remissão.
Neste sentido, destacam-se então algumas características
comportamentais do indivíduo para o processo de
recuperação que auxiliam na questão da saúde de modo
amplo: esperança, confiança, merecimento, vontade,
trabalho, perdão e gratidão. Apesar da complexidade do
assunto, tais elementos foram selecionados como os
principais, mas pode haver outros que complementam. O
artigo não tem a pretensão de exaurir o assunto,
tampouco de tornar exclusivo que apenas estas dimensões
importam. Menos ainda de desprezar os tratamentos
convencionais. A abordagem multidisciplinar permite a
complementação das abordagens tradicionais com a questão
da postura mental e das atitudes dos indivíduos frente à
sua recuperação. Neste caso, a doença pode ser um
chamamento para que a pessoa desperte para o que
realmente importa. Nas palavras de Paulo de Tarso:
“Desperta, ó tu que dormes” (Efésios 5:14).
A esperança é a espera de que tudo acabe bem. Como
expressa Shakespeare em título de uma de suas obras,
“Bem está o que bem acaba”. Quem detém esperança
consegue apresentar a crença de que tudo acabará bem com
o tempo. A passagem das horas é benéfica e o importante
são as consequências finais. A esperança pode otimizar
todo o ser, em especial seu aparelho mental e suas
vibrações. Vibrar de modo positivo, como um diapasão,
pode auxiliar na afinidade e na atração dos resultados
desejados. O ser humano pode ser visto como legítima
antena captadora do ambiente que vai sintonizar,
construir e se adaptar. É como o bicho da seda que
expele suas construções mentais e que a moldará no
futuro.
Já a confiança em si
mesmo, nos recursos terapêuticos, no próprio médico ou
terapeuta influencia a condição geral. Confiar é ter fé
na mudança benéfica. Também é ter confiança em Deus.
“Confiemos constantemente em Deus, para que tenhamos a
paz do filho que não se esquece de seu Pai[5]”.
Assim, é questão de tempo até que as transformações
desejadas apareçam. Além da confiança, também o
sentimento de merecimento. Estar com méritos e da posse
sincera de que faz parte da justiça maior o processo de
purificação e cura. Ter méritos e estar na posse de tais
sentimentos representa elemento potencializador da fé. A
fé raciocinada exige respaldo, não apenas sentimentais,
mas em especial da razão. Com confiança e os méritos
racionalizados faz com que a pedra do moinho consiga se
mover ainda mais rápido. Sobre os dois elementos,
pode-se destacar a observação de André Luiz: a pessoa
que deseja ser curada, “na pauta da confiança e do
merecimento de que dá testemunho, emite ondas mentais
características, assimilando os recursos vitais que
recebe, retendo-os na própria constituição
fisiopsicossomática[6]”.
Já em relação à vontade,
este gerente geral que possibilita mobilizar diferentes
recursos do ser, André Luiz é enfático: “a vontade do
paciente, erguida ao limite máximo de aceitação,
determina sobre si mesmo mais elevados potenciais de
cura[7]”.
Assim, a saúde e seu restabelecimento quando abalada
passa pela confiança, merecimento e vontade. Todavia,
somente com o trabalho santificante é possível fazer com
que o óleo diminua o atrito dos problemas. Trabalhar com
vistas a uma vida digna é dignificar-se e dar provas de
que o beneficiado pode ter a conspiração favorável do
universo para aqueles que fazem o bem. Com a ocupação,
há o fortalecimento dos méritos, bem como o sentimento
de que sua vida faz sentido. Quem tem propósito nobre e
trabalho para acordar todos os dias sabe que está
fazendo a diferença no mundo e que por ter ofício a
executar, necessita cuidar e respeitar o corpo carnal
como instrumento valioso.
Já o perdão representa a condição de abandonar
sentimentos negativos e atitudes mentais que podem
atrapalhar o processo geral de ficar bem. Quem perdoa
abandona projetos de vingança, ou de sentimentos baixos.
O que auxilia na afinidade da vibração com o positivo,
os espíritos superiores, o evitamento de obsessões, etc.
Quem perdoa acaba mostrando seu valor, em especial
quando esquece de “dar o troco“. Todavia, não adianta
apenas esquecer, é necessário ungir com amor. É
transformar o sebo em sabão, a farinha moída em pão.
Somente com a gratidão o ciclo se completa através da
postura mental não negativa para afirmativa. É
consolidar, com o agradecimento, as lições e provações
que nos tornam maiores. Quando se está em paz com sua
consciência e em uma condição de harmonia, há então uma
sustentação dinâmica da saúde. A saúde não é eterna para
qualquer encarnado, uma vez que o desencarne é condição
obrigatória. Todavia, em termos de purificação do ser e
a graciosidade do perispírito, o que pode levar o ser à
uma condição de espírito puro, estar de bem com a
consciência é progredir na existência com harmonia.
Portanto, mais do que a autocura do corpo, o
desenvolvimento das luzes e do conhecimento permitirão
um dia ascender aos céus sem mais necessitar voltar para
provas na carne. Também haverá momentos em que teremos
condições de perceber a função purificadora das doenças,
das dores e de seus motivos, mesmo que de passados
longínquos. Com isso, a saúde da alma se faz pelo
madeiro dos erros de outrora. Passar neste ou em outro
momento são escolhas a serem feitas, mas que representam
o alívio de nossas necessidades de reparação e
liberdade. Com isso, ter atitudes e ações virtuosas
podem nos levar a condições mais primorosas do que uma
simples vida tranquila, mas nos aproximarmos ainda mais
do Criador. Sejamos então como aqueles sedentos de saúde
e salvação, não para desperdiçar a vida, mas para
ganhá-la para a vida eterna. E, em todos os momentos,
que seja feita sempre a Vontade do Pai, não a nossa.
[1] Emmanuel. Roteiro.
Cap. 6. Brasília: FEB, 2013.
[2] Mente
sã em corpo são.
[5] Miramez. Cura-te
a ti mesmo. Belo Horizonte: Editora Fonte
Viva:p. 101.
[6] André
Luiz. Mecanismos da Mediunidade. Cap.
XXII.
[7] André
Luiz. Mecanismos da Mediunidade. Cap.
XXII.