Allan Kardec era racista?
Anátemas da politicagem contra a Doutrina
Espírita
Recentemente, foi
publicado no Uol coluna intitulada Grupo
espírita lança versão antirracista das obras de
Allan Kardec de
autoria de Chico Alves.
Segundo o
colunista, o combate ao racismo no Brasil
reforçou-se com as investidas do grupo
progressista Espíritas
à Esquerda,
que lançou no Dia da Consciência Negra a obra O
evangelho segundo o espiritismo - Edição
antirracista.
Citado movimento defende a necessidade de
atualização da forma como os textos espíritas
foram escritos.
Das redes sociais de aludido grupo, depreende-se
o uso da imagem de Jesus Cristo destacada
nas cores vermelha e preta e vestindo uma boina
com os símbolos da foice e do martelo.
Pois bem. Considerando a delicadeza do tema e,
fazendo nossas as palavras de Léon Denis, nos
apressamos em ressaltar que:
“Não foi um sentimento de hostilidade ou de
malevolência que ditou essas páginas. (...)
Quaisquer que sejam os erros ou as faltas dos
que se acobertam com o nome de Jesus e sua
doutrina, pensamento do Cristo em nós não nos
desperta senão um sentimento de profundo
respeito e admiração. Educados na religião
cristã, conhecemos tudo o que ela encerra de
poesia e grandeza.”
Conforme nos foi revelado pelo Evangelho de
Cristo, Deus contemplaria a humanidade com novo
Consolador, o Santo Espírito, o Espírito de
Verdade, enviado em nome do Mestre para nos
ensinar todas as coisas e nos recordar tudo que
o Nazareno nos disse.
No capítulo VI d’ O Evangelho segundo
o Espiritismo, Kardec nos ensina que a
Doutrina Espírita é esse Consolador Prometido,
cujo advento é presidido pelo Espírito de
Verdade:
Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse
do Consolador prometido: conhecimento das
coisas, fazendo que o homem saiba donde vem,
para onde vai e por que está na Terra; atrai
para os verdadeiros princípios da Lei de Deus e
consola pela fé e pela esperança.
Sendo missão do Espiritismo levantar o véu
intencionalmente lançado por Jesus sobre suas
lições morais, não poderia seu conteúdo informar
procedimento discordante da lei de amor.
O ensino evangélico nos concede a firmeza
necessária para concluirmos que a Doutrina
Espírita certamente não conheceria sua
longevidade se procedesse de forma diversa:
“Toda planta que meu Pai celestial não plantou
será arrancada.” (Mt, 15:13)
Ademais, é cediço que a missão do Codificador o
conduziu à máxima cautela na construção das
obras básicas da Doutrina, garantindo sua
excelsa autoridade. Todo ensino transmitido a
Kardec pelos Espíritos foi submetido a rigoroso
controle pela razão humana e ao confronto dos
conteúdos, visando a concordância universal:
O primeiro exame comprobativo é, pois, sem
contradita, o da razão, ao qual cumpre se
submeta, sem exceção, tudo o que venha dos
Espíritos. Toda teoria em manifesta contradição
com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com
os dados positivos já adquiridos, deve ser
rejeitada, por mais respeitável que seja o nome
que traga como assinatura (...)
Uma só garantia séria existe para o ensino dos
Espíritos: a concordância que haja entre as
revelações que eles façam espontaneamente,
servindo-se de grande número de médiuns
estranhos uns aos outros e em vários lugares
Na seara da universalidade do ensino dos
Espíritos, destacamos dois importantes excertos
extraídos da obra O Evangelho segundo o
Espiritismo:
As
instruções que promanam dos Espíritos são
verdadeiramente as vozes do Céu que vêm
esclarecer os homens e convidá-los à prática do
Evangelho.
De
tudo isso ressalta uma verdade capital: a de que
aquele que quisesse opor-se à corrente de ideias
estabelecida e sancionada poderia, é certo,
causar uma pequena perturbação local e
momentânea; nunca, porém, dominar o conjunto,
mesmo no presente, nem, ainda menos, no futuro.
A alteração de forma do conteúdo espírita, com o
intuito de atualizá-lo, não pode conduzir à
reforma de suas características iniciais, muito
menos à edição de nova obra cujo título destaca
escopo diverso do inicialmente aventado.
Isto também se vê no abandono da temperança
quanto ao uso de regras interpretativas mínimas
a considerar o momento histórico, sociológico e
cultural da época da codificação, pela adoção do
discurso da politicagem tão
presente nos dias hodiernos e tão nefasta às
mentes mais frágeis.
A criação do
livro "O evangelho segundo o espiritismo -
Edição antirracista" nos remete inelutavelmente
à lição divina ministrada a Pedro antes do
convite para a casa de Cornélio: “As
{coisas}que Deus purificou não {as tornes} tu
comuns.”
É preciso nos acautelarmos dos nossos interesses
pessoais, deixando de lado caprichos e
melindres, para que disso não resulte prejuízo à
obra divina.
O
orgulho reivindica do homem a aprovação do
outro; a influência sobre o outro e
a condição de sua referência. Distancia-o do
Criador e o transforma em adversário das boas
obras.
O apóstolo da
gentilidade nos alertava a esse respeito: “Não
sabeis que um pouco de fermento leveda a massa
toda?” Paulo (I Coríntios, 5:6)
Kardec não era racista. A Doutrina Espírita não
possui conteúdo racista. Sobre todas essas
coisas o Codificador nos ensinou:
O
homem de bem é bom, humano e benevolente para
com todos, sem distinção de raças, nem de
crenças, porque em todos os homens vê irmãos
seus.
Não é preciso jamais perder de vista, Senhores,
o objetivo essencial do Espiritismo, que é a
destruição do materialismo pela prova
experimental da sobrevivência da alma humana.
(...)
(...) Hoje o Espiritismo penetrou por toda a
parte, tem adeptos em todas as classes da
sociedade; reuniões de grupos mais ou menos
numerosos se organizam em todas as cidades,
grandes ou pequenas, esperando a vez das
aldeias; [...]
(...) Provemo-lhes que, graças aos ensinos
daqueles que chamam Demônios, compreendemos a
moral sublime do Evangelho, que se resume no
amor de Deus e de seus semelhantes, na caridade
universal. Abracemos a Humanidade inteira,
sem distinção de culto, de raça, de origem, e,
com mais forte razão, de família, de fortuna e
de condição social. (...) (KARDEC, 2000a, p.
59-62)
Referências bibliográficas:
DIAS, Haroldo Dutra (Trad.),
1971- O novo testamento, tradução de
Haroldo Dutra Dias. – 1. ed. – 11. imp. –
Brasília: FEB, 2020.
DENIS, Léon. Cristianismo e
Espiritismo. Trad. Leopoldo Cirne. Rio de
Janeiro: FEB, 2010
KARDEC Allan. O Evangelho
segundo o Espiritismo. Trad. Guillon
Ribeiro. Brasília: FEB, 2018.