Natural de Araraquara, no interior paulista,
onde também reside, Marco Antonio Mazzeu (foto) é
formado em Engenharia e Direito. Funcionário
público estadual da Secretaria da Fazenda e
Planejamento de São Paulo, vincula-se à
Sociedade Espírita Kardecista O Consolador, na
mesma cidade, atuando como colaborador.
Entrevistamo-lo sobre sua vivência espírita, que
do estudo à divulgação lhe trouxe nova visão de
vida:
Como se tornou espírita? E quando?
Sou de família católica. Afastei-me do
catolicismo por não encontrar respostas
racionais sobre as questões da vida. Em agosto
de 1981, fui convidado a assistir a uma palestra
na Sociedade Beneficente Obreiros do Bem, em
Araraquara-SP. Na época estava com o ombro
imobilizado e irritado pelas dificuldades que a
situação impunha. O palestrante era o Sr.
Antonio Cassaut, que abordava a lei de ação e
reação com maestria. O mais importante, porém,
foi que ele também estava com seu ombro
imobilizado. Após a palestra conversei com o Sr.
Cassaut, que demonstrava total aceitação pelo
ombro imobilizado e justificou: podia ser pior!
Surgiu uma grande amizade. Continuei a
frequentar aquela Casa Espírita por longos anos.
O que mais lhe chama atenção na Doutrina
Espírita?
A forma simples, direta e racional com que foram
abordados os temas nas obras básicas, tanto pelo
Espírito da Verdade como por Allan Kardec. Não
há floreios ou exposições longas e cansativas,
nem exemplos que exigem compreensão profunda.
Esta diretriz estrutural foi, inclusive,
ressaltada na resposta à pergunta 627 de O
Livro dos Espíritos. Explicar assuntos de
importância vital utilizando linguagem e
exemplos simplificados e claros exige capacidade
evolutiva muito superior aos padrões existentes
ou imaginados na Terra.
Com a explosão dos conteúdos virtuais, maiores
benefícios foram distribuídos pela divulgação
espírita. O que se destaca aos seus olhos?
É positiva a massificação da visão espírita
sobre vários temas realizada pela internet ou
pelas redes sociais. Novos divulgadores surgiram
abordando diversificados assuntos e com
diferentes graus de profundidade, permitindo
ampliar a compreensão das matérias tratadas.
Assistir ou ouvir palestras em seu lar, no
horário que desejar, constitui comodidade
incontestável e permite a popularização da
doutrina. Todavia, devemos estar atentos à
qualidade dos assuntos expostos e sua
conformidade com as obras básicas, para que
abordagens equivocadas ou desprovidas de
racionalidade não causem prejuízo à doutrina. Em
tempos de fake news é imprescindível
filtrar e comparar o conteúdo disponibilizado.
Considera que isso atraiu mais pessoas ou
despertou mais interesse pelo conhecimento
espírita? Como percebeu isso?
Sem dúvida, a facilidade no acesso às abordagens
espíritas sobre variados temas permitiu maior
penetração da doutrina na sociedade, inclusive
aos adeptos de outras religiões que não precisam
mais enfrentar o constrangimento de serem vistos
adentrando a Casa Espírita para assistirem às
palestras. Esta difusão pode ser percebida nos
grupos de WhatsApp, e-mails e nas redes sociais
que registram significativo envio de palestras,
seminários ou mensagens com conteúdo espírita.
Também nas conversas com companheiros de nosso
trabalho profissional, amigos e até mesmo
familiares constatamos que a visão espírita
sobre os acontecimentos da vida está mais
difundida e aceita.
Como sentiu a influência dessa ocorrência no
movimento espírita de sua cidade?
As lives, os cursos e os seminários
enfrentando temas sob a ótica espírita
ampliaram-se exponencialmente e passaram a estar
frequentemente presentes em nossos WhatsApp,
e-mails e nas redes sociais. Esta proliferação
traz o benefício de permitir que cada pessoa
assista ao tema de seu interesse, com o
expositor que possui maior simpatia. Trago minha
experiência sobre a questão: até o ano passado
ministrava curso de doutrina espírita utilizando
o Google Meet e constatamos a quantidade
crescente de participantes, inclusive residentes
em outras cidades e que não frequentavam nenhuma
Casa Espírita. Estavam, por assim dizer,
“descobrindo” a doutrina espírita. Esta
participação não aconteceria se o curso fosse
presencial.
Em termos de seus estudos e pesquisas, qual
aspecto, dos 3 presentes no Espiritismo, mais
lhe atrai? Por quê?
Tenho grande apreço pela Filosofia Espírita,
originada, segundo o saudoso Herculano Pires
(“Introdução à Filosofia Espírita”), a partir da
interpretação dos resultados da pesquisa
científica dos fenômenos supranormais. Meditar
sobre as origens e consequências dos fatos sob a
ótica espírita é buscar o aprendizado que
liberta o espírito da cômoda posição de esperar,
e o põe em marcha para sua caminhada evolutiva.
De suas vivências espíritas, olhando no tempo, o
que se destaca para você como marcante ou
inesquecível?
Ter participado de reunião mediúnica em que
recebi mensagem de minha filha, desencarnada
havia alguns anos. Nesse momento sentimos quanto
estamos próximos, ainda que em planos diferentes
da vida. Dificilmente as palavras conseguem
reproduzir os sentimentos que temos diante de
felicidade tão grandiosa.
Interiormente, em você mesmo, como sente a
influência do conhecimento espírita?
A certeza da existência da vida após a morte e
que nossos atos repercutem na vida presente e
futura passa a interferir na vida do
reencarnado, limitando sua liberdade de ação com
vistas a um futuro melhor. O conhecimento e
adoção desse ensinamento trouxe consequências
marcantes em minha existência. Nos momentos de
decisão, lembro-me da frase de Paulo: “tudo me é
lícito, mas nem tudo me convém” (1 Coríntios
6:12). Outro ensinamento que adoto provém das
respostas às questões 132 e 932 d’O Livro dos
Espíritos, que advertem sobre as
consequências de nossas omissões diante das
situações da vida.
Em suas palestras, como sente a repercussão
junto ao público?
Conforme o Espírito da Verdade ensina, somos
“espíritos criados simples e ignorantes”, mas
com imensas possibilidades de conhecermos as
Leis Divinas e de saber como agem em nossas
vidas. Chega um momento que o espírito se
encontra cansado de sofrer e deseja encontrar
esperança para continuar. É a situação do Filho
Pródigo quando “cai em si” e decide retornar ao
Reino do Pai. Nas Casas Espíritas a que
comparecemos, percebemos uma maior preocupação
dos irmãos em também “retornar” ao convívio com
Deus e Jesus, e que, por isso, passam a
importar-se mais com os ensinamentos evangélicos
e doutrinários.
Algo mais que gostaria de acrescentar?
Se para viver em sociedade precisamos conhecer,
entender e cumprir as leis humanas, com muito
maior razão devemos conhecer, entender e cumprir
as Leis Divinas que regem as relações no
Universo. A doutrina espírita constitui-se em
repositório único que aclara a compreensão sobre
as Leis Divinas e sua ação em nossas
existências. Estudar, divulgar e aplicar seu
conteúdo é dever de todo aquele que pretende
caminhar por sua evolução.
Suas palavras finais.
Nosso agradecimento pela oportunidade de
participar deste respeitado veículo de
divulgação. Desejamos que nossas singelas
colocações possam despertar a análise dos
leitores sobre os pontos aqui abordados.
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