Conta Arnaldo Rocha que Chico Xavier havia comprado uma
vitrola e, ao chegar o Natal, resolveu presentear a Alma
Querida. Sendo assim, rumou à loja de um amigo, situada
na Rua Espírito Santo, e escolheu um disco – que,
naquela época, pesava uma “tonelada” e rodava em 78
rotações por minuto, as famosas rpm – de canções
natalinas, gravado por cantores brasileiros. Chegou a
Pedro Leopoldo por volta das vinte horas, debaixo de um
temporal (de novo!). Estava difícil enxergar as poucas
luzes da cidade. Assim que entregou o presente ao Chico,
depois de agradecer, ele pediu que colocasse o disco na
vitrola. Depois de algumas canções, Chico começou a
chorar copiosamente. Ele tirou os óculos e ficou por
longo tempo chorando, sem expressão. Como já se havia
habituado a esperar, respeitosamente, o que vinha do
Chico, ficou aguardando. Vez por outra, ia até a vitrola
e virava o disco. Depois de algum tempo, Chico se voltou
para Arnaldo e falou: “Arnaldo, algumas dessas canções
minha mãezinha me ensinou a cantar”. Arnaldo nunca tinha
presenciado o Chico tão nostálgico. De repente, ele se
levantou e lhe deu um longo abraço. Ele sentiu uma
sensação indescritível de carinho paterno pela Alma
Amiga que bradava por arrimo e consolo. Arnaldo disse
que sentiu o lado humano e frágil do seu amigo Chico.
Ele, então, falou: “Acabo de receber o presente mais
bonito de minha vida”. Em seguida, saíram para a casa de
André, Lucila e Luiza para fazerem a prece, falar de
Jesus, comerem algumas guloseimas e esperar o dia
seguinte, no qual fariam a tarefa de distribuição do
“óbolo da viúva”.
Do livro Chico – Diálogos e Recordações, de Carlos
Alberto Braga Costa.
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