Virtudes e
pecados
originais
Cada um traz, ao
nascer, os
frutos doces ou
amargos da sua
evolução.
“A cada um será
dado de acordo
com as suas
obras.” Jesus.
(Mt., 16:27.)
No natural rolar
dos evos, fomos
convencidos (e
às vezes
obrigados) a
crer em tantos
absurdos, dentre
eles a
eternidade das
penas, pecado
original,
existência do
demônio,
unicidade da
existência,
etc., que hoje,
do ponto de
vista que o
Espiritismo nos
situa, ficamos
pensando como
foi possível
acreditar em
tanta tolice, em
tantos dogmas
mentirosos e
como ainda é
possível existir
quem os
acoroçoe!...
Kardec é muito
explícito ao
afirmar:
“(...) o
Espiritismo,
ainda que só
fizesse forrar o
homem à dúvida
relativamente à
vida futura,
teria feito mais
pelo seu
aperfeiçoamento
moral do que
todas as leis
disciplinares,
que o detêm
algumas vezes,
mas que o não
transformam.
Sem a
preexistência da
alma, a doutrina
do pecado
original não
seria somente
inconciliável
com a justiça de
Deus, que
tornaria todos
os homens
responsáveis
pela falta de um
só, seria também
um contrassenso,
e tanto menos
justificável
quanto, segundo
essa doutrina, a
alma não existia
na época a que
se pretende
fazer que a sua
responsabilidade
remonte. Com a
preexistência, o
homem traz, ao
renascer, o
gérmen das suas
imperfeições,
dos defeitos de
que se não
corrigiu e que
se traduzem
pelos instintos
naturais e pelos
pendores para
tal ou tal vício.
É esse o seu
verdadeiro
pecado original,
cujas
consequências
naturalmente
sofre, mas com a
diferença
capital de que
sofre a pena das
suas próprias
faltas e não das
de outrem; e com
a outra
diferença, ao
mesmo tempo
consoladora,
animadora e
soberanamente
equitativa, de
que cada
existência lhe
oferece os meios
de se redimir
pela reparação e
de progredir,
quer
despojando-se de
alguma
imperfeição,
quer adquirindo
novos
conhecimentos e,
assim, até que,
suficientemente
purificado, não
necessite mais
da vida corporal
e possa viver
exclusivamente a
vida espiritual,
eterna e
bem-aventurada.
Pela mesma
razão, aquele
que progrediu
moralmente traz,
ao renascer,
qualidades
naturais, como o
que progrediu
intelectualmente
traz ideias
inatas;
identificado com
o bem, pratica-o
sem esforço, sem
cálculo e, por
assim dizer, sem
pensar. Aquele
que é obrigado a
combater as suas
más tendências
vive ainda em
luta; o primeiro
já venceu, o
segundo procura
vencer. Existe,
pois, a virtude
original, como
existe o saber
original, e o
pecado ou,
antes, o vício
original”.
Perfeitamente
sintonizado com
Allan Kardec,
aduz Léon Denis:
“(...) só a lei
dos
renascimentos
poderá fazer-nos
compreender como
certos
Espíritos,
encarnados,
mostram, desde
os primeiros
anos, a
facilidade de
trabalho e a
assimilação que
caracterizam as
crianças-prodígio.
São os
resultados de
imensos labores
que
familiarizaram
esses Espíritos
com as artes ou
as ciências em
que primam,
longas
investigações,
estudos,
exercícios
seculares
deixaram
impressas no seu
invólucro
perispiritual
marcas profundas
que geram uma
espécie de
automatismo
psicológico. Nos
músicos,
notadamente,
essa faculdade
cedo se
manifesta, por
processos de
execução que
espantam os mais
indiferentes e
deixam perplexos
até mesmo os
sábios.
Existem, nesses
jovens, reservas
consideráveis de
conhecimentos
armazenados na
consciência
profunda e que,
daí, transbordam
para a
consciência
física, de modo
que produzem as
manifestações
precoces do
talento e do
gênio. Posto que
parecendo
anormais, não
são,
entretanto,
mais do que
consequência do
labor e dos
esforços continuados
através dos
tempos. É a
essa reserva, a
esse capital indestrutível
do ser, que F.
Myers chama consciência
subliminal e
que se encontra
em cada um de
nós; revela-se
não só no senso
artístico,
científico ou
literário, mas
também por todas
as aquisições
do Espírito,
tanto na ordem
moral, quanto na
ordem
intelectual.
A concepção do
bem, do justo, a
noção do dever
são muito mais
vivas em certos
indivíduos e em
certas raças do
que noutros; não
resultam somente
da educação
atual, como se
pode reconhecer
por uma
observação
atenta dos indivíduos
nas suas
impulsões
espontâneas, mas
também do
cabedal próprio
que trazem ao
nascer. A
educação desenvolve
esses germens
nativos, faz se
expandam e produzam
todos os seus
frutos; mas, por
si só, seria
incapaz de
incubar tão
profundamente
aos recém-vindos
as noções superiores
que lhes dominam
toda a
existência, o
que cotidianamente
é verificado nas
raças
inferiores, refratárias
a certas ideias
morais e sobre
quem a educação pouca
influência tem.
Os antecedentes
explicam,
igualmente, as
anomalias
estranhas de
seres com
caráter
selvagem,
indisciplinado, malfazejo,
que aparecem de
repente em
centros
honestos e
civilizados.
Têm-se visto
filhos de boa
família cometer roubos,
provocar
incêndios,
praticar crimes com
audácia e
habilidade
consumadas,
sofrer condenações
e desonrar o
nome que usavam;
em certas crianças
citam-se atos de
ferocidade
sanguinária que
não encontram
explicação nem
nos seus
próximos
parentes, nem
na sua
ascendência. Já
em sentido
oposto podem
registrar-se
casos de dedicação
extraordinários
pela idade dos
que os praticam;
salvamentos são
efetuados com
reflexão e
decisão por crianças
de dez anos e de
menos idade.
Tais indivíduos como
os precedentes,
parecem trazer
para este mundo
disposições
particulares que
não se encontram
nos parentes.
Assim como se
veem anjos de
pureza e doçura nascerem
e crescerem em
meios grosseiros
e depravados,
assim também
se encontram
ladrões e
assassinos em
famílias
virtuosas, num e
noutro caso em
condições tais
que nenhum
precedente
atávico pode dar
a chave do
enigma. Todos
estes fenômenos,
na sua variedade
infinita, têm
origem no
passado da alma,
nas numerosas
vidas humanas
que ela
percorreu; cada
um traz, ao
nascer, os
frutos da sua
evolução, a
intuição do que
aprendeu, as
aptidões
adquiridas nos
diversos
domínios do
pensamento e da
obra social, na
Ciência, no
comércio, na
indústria, na
navegação, na
guerra, etc.;
traz habilidade
para tal coisa
de preferência a
tal outra,
segundo a sua
atividade se
exercitou num
ou noutro
sentido.
O Espírito tem
capacidade para
os estudos mais
diversos; mas,
no curso
limitado da vida
terrestre, por
efeito das
condições
ambientes, por
causa das
exigências
materiais e
sociais,
geralmente só se
aplica ao estudo
de um número
restrito de
questões e,
desde que sua
vontade se
encaminhou para
qualquer dos
vastos domínios
do saber, em
razão das suas
tendências e das
noções em si
acumuladas, sua
superioridade
neste sentido
declara-se e
define cada vez
mais; repercute
de existência em
existência
revelando-se, em
cada vinda à
arena terrestre,
por
manifestações
cada vez mais
precoces e mais
acentuadas. Daí
as
crianças-prodígio
e, em forma
menos distinta,
as vocações, as
predisposições
nativas; daí, o
talento, o gênio
que são o
resultado de
esforços
perseverantes e
contínuos para
um objetivo
determinado.
Que a alma é
chamada,
todavia, a
entrar na posse
de todas as
formas do saber
e não a
restringir-se a
algumas
necessidades de
estágios
sucessivos,
demonstra-se simples
fato da lei de
um
desenvolvimento
sem limites. Do
mesmo modo que a
prova das vidas
anteriores é
estabelecida
pelas aquisições
realizadas antes
do nascimento, a
necessidade das
vidas futuras
impõe-se com consequência
dos nossos atos
atuais,
consequência
que, para
campo de ação,
exige condições
e meios em
harmonia
com o estado das
almas.
Atrás de nós
temos um infinito
de promessas e
esperanças; mas,
de todo esse esplendor
de vida, a maior
parte dos homens
só vê e só quer
ver o mesquinho
fragmento da
existência
atual, existência
de um dia, que
eles creem sem
véspera e sem amanhã.
Daí a fraqueza
do pensamento
filosófico e da ação
moral na nossa
época.
O trabalho
anterior que
cada Espírito
efetua pode ser facilmente
calculado,
medido pela
rapidez com que
ele executa
de novo um
trabalho
semelhante,
sobre um mesmo
assunto, ou
também pela
prontidão com
que assimila
os elementos de
uma ciência
qualquer. Deste
ponto de vista,
é de tal modo
considerável a
diferença entre
os indivíduos,
que seria
incompreensível
sem a noção das existências
anteriores”.
-
KARDEC,
Allan. A
Gênese. 43.ed.
Rio [de
Janeiro]:
FEB,
2003,
cap. I,
itens
37-38.