Sir William Crookes e sua contribuição às pesquisas
espíritas
Registrou-se nesta semana mais um aniversário da morte
do sábio inglês Sir William Crookes, ocorrida no dia 4
de abril de 1919.
Quem foi William Crookes
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Além de cientista de renome no campo da química e da
física, Crookes dedicou-se também à investigação dos
fenômenos espíritas, |
e suas pesquisas nos anos de 1870 a 1874
constituem um dos mais significativos incidentes
na história do Espiritismo, como mostra Arthur Conan Doyle
no cap. 11 de seu livro História do Espiritismo. |
Nascido em 1832, Crookes tornou-se figura preeminente no
mundo científico. Eleito Membro da Sociedade Real (F.R.S.)
em 1863, recebeu dessa organização, em 1875, a Royal
Gold Medal, por suas várias pesquisas no campo da
química e da física, a Davy Medal em 1888, e a Sir
Joseph Copley Medal em 1904. Nomeado Cavaleiro pela
Rainha Vitória em 1897, recebeu a Ordem do Mérito em
1910, tendo ocupado diversas vezes a cadeira de
presidente da Royal Society, da Chemical Society, da
Institution of Electrical Engineers, da British
Association e da Society for Psychical Research.
Sua
descoberta do novo elemento químico a que deu o nome de
“thallium” e suas invenções do radiômetro e do tubo de
Crookes representam apenas uma pequena parte de suas
pesquisas.
Em
1859 fundou o Chemical News, que editou, e em
1864 tornou-se redator do Quarterley Journal of
Science. No ano de 1880 a Academia de Ciências da
França lhe concedeu uma medalha de ouro e um prêmio de
3.000 francos, em reconhecimento por seu importante
trabalho.
Investigações dos fenômenos psíquicos
Disse Crookes que iniciou as investigações sobre
fenômenos psíquicos pensando que tudo fosse truque. Seus
colegas sustentavam o mesmo ponto de vista e ficaram
satisfeitos com a atitude que ele havia adotado. Foi
manifestada, então, profunda satisfação porque a
investigação ia ser conduzida por um homem tão altamente
qualificado. Em verdade, ninguém duvidava de que aquilo
que consideravam as falsas pretensões do Espiritismo
fosse desmascarado.
Crookes entendia que era dever dos cientistas fazer tal
investigação. E escreveu: “Tem-se lançado em rosto dos
homens de ciência a sua pretensa liberdade de opinião,
quando sistematicamente se recusam a fazer uma
investigação científica sobre a existência e a natureza
de fatos sustentados por tantos testemunhos competentes
e fidedignos, e os convidam a um exame livre, onde e
quando quiserem. Por minha parte dou muito valor à
pesquisa da verdade e à descoberta de qualquer fato novo
na Natureza, para me insurgir contra a investigação
apenas por parecer que ela se choca com as opiniões
predominantes”.
Foi
assim, com esse propósito, que ele iniciou suas
investigações, que, segundo alguns, teriam começado no
verão de 1869, quando participou de sessões com o
conhecido médium Mrs. Marshall e em dezembro com outro
médium famoso, J. J. Morse.
Os
fenômenos de materialização
Mais tarde ele conheceu a médium Florence Cook, uma
jovem de quinze anos, com a qual realizou a sua série
clássica de experiências em que o Espírito de Katie
King, em inúmeras ocasiões e por longo período,
apresentava-se materializado.
Um
relatório completo de seus métodos foi por ele publicado
no Quarterly Journal of Science, do qual era
então redator. Em sua casa em Mornington Road, um
pequeno gabinete se abria para o laboratório, por uma
porta com uma cortina. A médium Florence Cook jazia em
transe num divã no quarto interno; no externo, com luz
reduzida, ficava Crookes com as pessoas que houvesse
convidado. No fim de um período de vinte minutos a uma
hora estava completa a figura com o ectoplasma da
médium. A existência dessa substância e o seu método de
produção eram então desconhecidos. Pesquisas posteriores
lançaram muita luz sobre o assunto, razão por que foram
incorporadas no capítulo sobre o ectoplasma.
Completada a operação, abria-se a cortina e entrava no
laboratório uma figura feminina, geralmente tão
diferente da médium quanto duas pessoas podem sê-lo.
Essa aparição, que se movia, falava e agia em todos os
sentidos como uma entidade independente, é conhecida
pelo nome que ela própria adotou: Katie King.
Katie King e a médium Florence distinguiam-se em
inúmeros aspectos, como Crookes observou e descreveu:
“A
altura de Katie varia; em minha casa eu a vi quinze
centímetros mais alta que Miss Cook. Na noite passada
estando descalça e sem pisar na ponta dos pés, ela era
doze centímetros mais alta que Miss Cook. O pescoço de
Katie estava nu; a pele era perfeitamente lisa à vista
quanto ao tato, enquanto o de Miss Cook é uma grande
escara que, nas mesmas condições, é distintamente
visível e áspera ao tato. As orelhas de Katie não são
furadas, enquanto que Miss Cook habitualmente usa
brincos. A compleição de Katie é muito alva, enquanto a
de Miss Cook é muito morena. Os dedos de Katie são muito
mais longos do que os de Miss Cook e seu rosto também é
maior. Há também marcadas diferenças nos modos e nos
ademanes”.
E
mais: “Uma noite contei o pulso de Katie. Tinha 75
pulsações, enquanto que o de Miss Cook pouco depois
marcava 90 pulsações. Aplicando o ouvido ao peito de
Katie, pude ouvir o coração a bater ritmado e pulsando
mais firmemente que o de Miss Cook, quando esta me
permitiu que a auscultasse depois da sessão. Examinados
do mesmo modo, os pulmões de Katie pareceram mais fortes
que os da médium, pois ao tempo em que a examinei, Miss
Cook estava sob tratamento médico de uma tosse rebelde.”
Para provar documentalmente a realidade das aparições
tangíveis de Katie King, Crookes tirou quarenta e quatro
fotografias dela, empregando a luz elétrica.
Os
métodos adotados por Crookes
Escrevendo em The Spiritualist, em 1874, à página
270, ele assim descreveu os métodos adotados:
“Durante a semana anterior à partida de Katie, ela fez
sessões quase que todas as noites em minha casa, a fim
de me permitir fotografá-la à luz artificial. Cinco
aparelhos completos foram dispostos para esse fim;
consistiam de câmaras, umas chapas completas, outra de
metade de chapas, uma terceira de quartos de chapas e
duas câmaras estereoscópicas binoculares, preparadas
para fotografarem Katie ao mesmo tempo, cada vez que ela
posasse. Cinco banhos reveladores e de fixagem foram
usados e bom número de chapas foi preparado
antecipadamente, de modo que não houvesse complicações
ou demoras durante a operação de fotografia que foi
realizada por mim mesmo, com o auxílio de um assistente.
Minha biblioteca foi usada como câmara escura. Tem
portas de sanfona, que abrem para o laboratório; uma
dessas portas foi tirada das dobradiças, e uma cortina
foi colocada em seu lugar, de modo a permitir que Katie
passasse para um lado e para o outro facilmente. Os
nossos amigos presentes ficaram sentados no laboratório,
em frente à cortina e as câmaras foram colocadas um
pouco atrás deles, prontas para fotografarem Katie
quando ela saísse e fotografar também qualquer coisa na
cabine, quando a cortina fosse levantada para isso. Cada
noite havia três ou quatro tomadas de fotografias em
cada uma das cinco máquinas, obtendo-se pelo menos
quinze fotografias separadas em cada sessão. Algumas se
estragaram ao serem reveladas, outras na regulagem da
luz. Ao todo tenho quarenta e quatro negativos, alguns
inferiores, outros sofríveis, e alguns excelentes.”
Alguém indagou se Crookes alguma vez teria visto ao
mesmo tempo o médium e Katie. Ele respondeu a isso
afirmativamente, relatando que frequentemente acompanhou
Katie até a cabine “e algumas vezes as via juntas, ela e
a sua médium, mas na maioria das vezes não vi ninguém, a
não ser a médium em transe, caída no chão, pois Katie e
seus vestidos brancos tinham desaparecido
instantaneamente”.
Numa carta que ele dirigiu a Banner of Light,
USA, reproduzida em The Spiritualist, de Londres,
em 17 de julho de 1874, página 29, Crookes escreveu:
“Em
resposta a sua pergunta quero afirmar que vi Miss Cook e
Katie juntas, no mesmo momento, sob a luz de uma lâmpada
de fósforo, que era suficiente para que visse
distintamente aquilo que descrevi. O olho humano tem
naturalmente um grande ângulo de horizonte, de modo que
as duas figuras eram abarcadas ao mesmo tempo no meu
campo visual; mas como a luz era fraca, e os dois rostos
por vezes estavam distanciados alguns pés um do outro,
naturalmente eu movia a luz e meu olhar fixava
alternadamente uma e outra, quando queria trazer o rosto
de Miss Cook ou de Katie para aquela parte do campo
visual onde a visão é mais nítida. Desde que a
ocorrência acima referida foi verificada, Katie e Miss
Cook foram vistas juntas por mim e por oito outras
pessoas, em minha casa, iluminada fartamente por
lâmpadas elétricas. Nessa ocasião o rosto de Miss Cook
não era visível, pois sua cabeça ficava envolta num xale
grosso, mas eu, principalmente, tinha a satisfação de
verificar que ela lá estava.”
O
que disse Crookes trinta anos depois
Em
seu relatório presidencial perante a Associação
Britânica, em Bristol, trinta anos depois de suas
investigações, Crookes se referiu ligeiramente às suas
primeiras pesquisas: “Ainda não toquei num outro
interesse — para mim o mais sério e o de maior alcance.
Nenhum incidente em minha carreira científica é mais
conhecido do que a parte que tomei durante anos em
certas pesquisas psíquicas. Já se passaram trinta anos
desde que publiquei um relatório das experiências
tendentes a mostrar que fora do nosso conhecimento
científico existe uma força utilizada por inteligências
que diferem da comum inteligência dos mortais... Nada
tenho de que me retratar. Confirmo minhas declarações já
publicadas. Na verdade, muito teria que acrescentar a
isto.”
Cerca de vinte anos mais tarde sua crença era ainda mais
forte. Durante uma entrevista disse ele: “Jamais tive
que mudar de ideia a tal respeito. Estou perfeitamente
satisfeito do que disse nos primeiros dias. É muito
certo que um contato foi estabelecido entre este mundo e
o outro.”
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Além das informações sobre as investigações de William
Crookes, reunidas no livro História do Espiritismo,
de Arthur Conan Doyle, o leitor pode |
saber mais sobre os trabalhos do sábio inglês no
livro Fatos Espíritas, traduzido da obra Researches
in the phenomena of the spiritualism, de
William Crookes, publicado em 1874. |