Internacional
por Thiago Bernardes

Ano 17 - N° 818 - 9 de Abril de 2023

 

 

Sir William Crookes e sua contribuição às pesquisas espíritas


Registrou-se nesta semana mais um aniversário da morte do sábio inglês Sir William Crookes, ocorrida no dia 4 de abril de 1919.


Quem foi William Crookes

Além de cientista de renome no campo da química e da física, Crookes dedicou-se também à investigação dos fenômenos espíritas,
e suas pesquisas nos anos de 1870 a 1874 constituem um dos mais significativos incidentes na história do Espiritismo, como mostra Arthur Conan Doyle no cap. 11 de seu livro História do Espiritismo.

Nascido em 1832, Crookes tornou-se figura preeminente no mundo científico. Eleito Membro da Sociedade Real (F.R.S.) em 1863, recebeu dessa organização, em 1875, a Royal Gold Medal, por suas várias pesquisas no campo da química e da física, a Davy Medal em 1888, e a Sir Joseph Copley Medal em 1904. Nomeado Cavaleiro pela Rainha Vitória em 1897, recebeu a Ordem do Mérito em 1910, tendo ocupado diversas vezes a cadeira de presidente da Royal Society, da Chemical Society, da Institution of Electrical Engineers, da British Association e da Society for Psychical Research.

Sua descoberta do novo elemento químico a que deu o nome de “thallium” e suas invenções do radiômetro e do tubo de Crookes representam apenas uma pequena parte de suas pesquisas.

Em 1859 fundou o Chemical News, que editou, e em 1864 tornou-se redator do Quarterley Journal of Science. No ano de 1880 a Academia de Ciências da França lhe concedeu uma medalha de ouro e um prêmio de 3.000 francos, em reconhecimento por seu importante trabalho.


Investigações dos fenômenos psíquicos

Disse Crookes que iniciou as investigações sobre fenômenos psíquicos pensando que tudo fosse truque. Seus colegas sustentavam o mesmo ponto de vista e ficaram satisfeitos com a atitude que ele havia adotado. Foi manifestada, então, profunda satisfação porque a investigação ia ser conduzida por um homem tão altamente qualificado. Em verdade, ninguém duvidava de que aquilo que consideravam as falsas pretensões do Espiritismo fosse desmascarado.

Crookes entendia que era dever dos cientistas fazer tal investigação. E escreveu: “Tem-se lançado em rosto dos homens de ciência a sua pretensa liberdade de opinião, quando sistematicamente se recusam a fazer uma investigação científica sobre a existência e a natureza de fatos sustentados por tantos testemunhos competentes e fidedignos, e os convidam a um exame livre, onde e quando quiserem. Por minha parte dou muito valor à pesquisa da verdade e à descoberta de qualquer fato novo na Natureza, para me insurgir contra a investigação apenas por parecer que ela se choca com as opiniões predominantes”.

Foi assim, com esse propósito, que ele iniciou suas investigações, que, segundo alguns, teriam começado no verão de 1869, quando participou de sessões com o conhecido médium Mrs. Marshall e em dezembro com outro médium famoso, J. J. Morse.


Os fenômenos de materialização

Mais tarde ele conheceu a médium Florence Cook, uma jovem de quinze anos, com a qual realizou a sua série clássica de experiências em que o Espírito de Katie King, em inúmeras ocasiões e por longo período, apresentava-se materializado.

Um relatório completo de seus métodos foi por ele publicado no Quarterly Journal of Science, do qual era então redator. Em sua casa em Mornington Road, um pequeno gabinete se abria para o laboratório, por uma porta com uma cortina. A médium Florence Cook jazia em transe num divã no quarto interno; no externo, com luz reduzida, ficava Crookes com as pessoas que houvesse convidado. No fim de um período de vinte minutos a uma hora estava completa a figura com o ectoplasma da médium. A existência dessa substância e o seu método de produção eram então desconhecidos. Pesquisas posteriores lançaram muita luz sobre o assunto, razão por que foram incorporadas no capítulo sobre o ectoplasma.

Completada a operação, abria-se a cortina e entrava no laboratório uma figura feminina, geralmente tão diferente da médium quanto duas pessoas podem sê-lo. Essa aparição, que se movia, falava e agia em todos os sentidos como uma entidade independente, é conhecida pelo nome que ela própria adotou: Katie King.

Katie King e a médium Florence distinguiam-se em inúmeros aspectos, como Crookes observou e descreveu:

“A altura de Katie varia; em minha casa eu a vi quinze centímetros mais alta que Miss Cook. Na noite passada estando descalça e sem pisar na ponta dos pés, ela era doze centímetros mais alta que Miss Cook. O pescoço de Katie estava nu; a pele era perfeitamente lisa à vista quanto ao tato, enquanto o de Miss Cook é uma grande escara que, nas mesmas condições, é distintamente visível e áspera ao tato. As orelhas de Katie não são furadas, enquanto que Miss Cook habitualmente usa brincos. A compleição de Katie é muito alva, enquanto a de Miss Cook é muito morena. Os dedos de Katie são muito mais longos do que os de Miss Cook e seu rosto também é maior. Há também marcadas diferenças nos modos e nos ademanes”.

E mais: “Uma noite contei o pulso de Katie. Tinha 75 pulsações, enquanto que o de Miss Cook pouco depois marcava 90 pulsações. Aplicando o ouvido ao peito de Katie, pude ouvir o coração a bater ritmado e pulsando mais firmemente que o de Miss Cook, quando esta me permitiu que a auscultasse depois da sessão. Examinados do mesmo modo, os pulmões de Katie pareceram mais fortes que os da médium, pois ao tempo em que a examinei, Miss Cook estava sob tratamento médico de uma tosse rebelde.”

Para provar documentalmente a realidade das aparições tangíveis de Katie King, Crookes tirou quarenta e quatro fotografias dela, empregando a luz elétrica.


Os métodos adotados por Crookes

Escrevendo em The Spiritualist, em 1874, à página 270, ele assim descreveu os métodos adotados:

“Durante a semana anterior à partida de Katie, ela fez sessões quase que todas as noites em minha casa, a fim de me permitir fotografá-la à luz artificial. Cinco aparelhos completos foram dispostos para esse fim; consistiam de câmaras, umas chapas completas, outra de metade de chapas, uma terceira de quartos de chapas e duas câmaras estereoscópicas binoculares, preparadas para fotografarem Katie ao mesmo tempo, cada vez que ela posasse. Cinco banhos reveladores e de fixagem foram usados e bom número de chapas foi preparado antecipadamente, de modo que não houvesse complicações ou demoras durante a operação de fotografia que foi realizada por mim mesmo, com o auxílio de um assistente. Minha biblioteca foi usada como câmara escura. Tem portas de sanfona, que abrem para o laboratório; uma dessas portas foi tirada das dobradiças, e uma cortina foi colocada em seu lugar, de modo a permitir que Katie passasse para um lado e para o outro facilmente. Os nossos amigos presentes ficaram sentados no laboratório, em frente à cortina e as câmaras foram colocadas um pouco atrás deles, prontas para fotografarem Katie quando ela saísse e fotografar também qualquer coisa na cabine, quando a cortina fosse levantada para isso. Cada noite havia três ou quatro tomadas de fotografias em cada uma das cinco máquinas, obtendo-se pelo menos quinze fotografias separadas em cada sessão. Algumas se estragaram ao serem reveladas, outras na regulagem da luz. Ao todo tenho quarenta e quatro negativos, alguns inferiores, outros sofríveis, e alguns excelentes.”

Alguém indagou se Crookes alguma vez teria visto ao mesmo tempo o médium e Katie. Ele respondeu a isso afirmativamente, relatando que frequentemente acompanhou Katie até a cabine “e algumas vezes as via juntas, ela e a sua médium, mas na maioria das vezes não vi ninguém, a não ser a médium em transe, caída no chão, pois Katie e seus vestidos brancos tinham desaparecido instantaneamente”.

Numa carta que ele dirigiu a Banner of Light, USA, reproduzida em The Spiritualist, de Londres, em 17 de julho de 1874, página 29, Crookes escreveu:

“Em resposta a sua pergunta quero afirmar que vi Miss Cook e Katie juntas, no mesmo momento, sob a luz de uma lâmpada de fósforo, que era suficiente para que visse distintamente aquilo que descrevi. O olho humano tem naturalmente um grande ângulo de horizonte, de modo que as duas figuras eram abarcadas ao mesmo tempo no meu campo visual; mas como a luz era fraca, e os dois rostos por vezes estavam distanciados alguns pés um do outro, naturalmente eu movia a luz e meu olhar fixava alternadamente uma e outra, quando queria trazer o rosto de Miss Cook ou de Katie para aquela parte do campo visual onde a visão é mais nítida. Desde que a ocorrência acima referida foi verificada, Katie e Miss Cook foram vistas juntas por mim e por oito outras pessoas, em minha casa, iluminada fartamente por lâmpadas elétricas. Nessa ocasião o rosto de Miss Cook não era visível, pois sua cabeça ficava envolta num xale grosso, mas eu, principalmente, tinha a satisfação de verificar que ela lá estava.”


O que disse Crookes trinta anos depois

Em seu relatório presidencial perante a Associação Britânica, em Bristol, trinta anos depois de suas investigações, Crookes se referiu ligeiramente às suas primeiras pesquisas: “Ainda não toquei num outro interesse — para mim o mais sério e o de maior alcance. Nenhum incidente em minha carreira científica é mais conhecido do que a parte que tomei durante anos em certas pesquisas psíquicas. Já se passaram trinta anos desde que publiquei um relatório das experiências tendentes a mostrar que fora do nosso conhecimento científico existe uma força utilizada por inteligências que diferem da comum inteligência dos mortais... Nada tenho de que me retratar. Confirmo minhas declarações já publicadas. Na verdade, muito teria que acrescentar a isto.”

Cerca de vinte anos mais tarde sua crença era ainda mais forte. Durante uma entrevista disse ele: “Jamais tive que mudar de ideia a tal respeito. Estou perfeitamente satisfeito do que disse nos primeiros dias. É muito certo que um contato foi estabelecido entre este mundo e o outro.”

Além das informações sobre as investigações de William Crookes, reunidas no livro História do Espiritismo, de Arthur Conan Doyle, o leitor pode
saber mais sobre os trabalhos do sábio inglês no livro Fatos Espíritas, traduzido da obra Researches in the phenomena of the spiritualism, de William Crookes, publicado em 1874.



 
  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita