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por Vladimir Alexei

 

Dentro de ti mesmo


Em Minas Gerais há uma característica peculiar na divulgação da Doutrina Espírita. Trata-se do estudo minucioso do Evangelho, prática que ganhou o país nos últimos tempos, de forma sistematizada, e que carinhosamente é chamada de “miudinho”.

Essa mesma virtude de difundir o estudo minucioso do Evangelho fez com que autores espirituais, sobretudo Emmanuel, ganhassem uma notoriedade, talvez, um pouco diferente da proposta de seu conteúdo, assim entendemos. De fato, a notoriedade é tanta que muitos nem simpatizam com os trabalhos do autor espiritual tendo, inclusive, divergências. Mas não são divergências com as ideias e nem com a forma enérgica e austera com que trabalhou com Chico Xavier. Nem diferenças por aquilo que se denomina no movimento espírita como “erro doutrinário” atribuído a pensamentos e ideias sobre a “alma gêmea”, por exemplo. Nada disso. É mais por causa dos “emmanuelistas”, que alimentam um “cheiro de sacristia” muito diferente da filosofia trazida pelo autor espiritual.

Uma prova disso pode ser extraída da série “Fonte Viva”. Um conjunto de livros com diversas interpretações do Evangelho, que mais poderia se chamar “Fonte de Luz” do que “Fonte Viva” (quiçá são sinônimos!). São interpretações profundas, contribuições honestas, conexões de ideias que favorecem uma pessoa comum a extrair da letra o espírito que vivifica do Evangelho.

A série “Fonte Viva” é um excelente recurso para se utiliza no Evangelho no Lar, para harmonização ambiente, colocando “todos” na “mesma página” em busca de sintonia e inspiração superior. Não se limita ao Evangelho no Lar. Serve para ser aberto ao acaso quando se acorda, ao deitar, durante o dia, em diversos momentos da vida e são reflexões que nem sempre são compreendidas em sua essência, ainda mais quando a mesma lição surge durante um período maior.

A mensagem de número 147, por exemplo, do livro que deu nome à série, Fonte Viva, é de uma beleza ímpar. Seu título é “Refugia-te em paz”. Emmanuel interpreta a passagem narrada pelo Apóstolo Marcos, no capítulo 6, versículo 31 (“Havia muitos que iam e vinham e não tinham tempo para comer”), com riqueza de detalhes e uma abordagem muito atual. A obra foi escrita em 1956!

Logo no primeiro parágrafo, o autor espiritual diz do que se trata a mensagem: “O convite do Mestre para que os discípulos procurem lugar à parte, a fim de repousarem a mente e o coração na prece, é cada vez mais oportuno”. A prece é o “alimento” é o ato de “comer”.

De fato, sua atualidade corrobora com a oportunidade: os dias atuais exigem, cada vez mais, o repouso para a mente e o coração na prece, na tentativa de vencer os obstáculos diários que nos afligem.

Mas não entendemos o repouso da mente e do coração na prece como uma proposta dogmática, religiosa, como faz crer alguns “emmanuelistas”. O recolhimento proposto é subjetivo e trata de voltar o olhar para dentro de si mesmo para compreender melhor o que move o indivíduo.

Com tantas lutas fratricidas do lado de fora, como o indivíduo tem-se comportado do lado de dentro? “As estradas terrestres estão cheias dos que vão e vêm, atormentados pelos interesses imediatistas...”, e assim Emmanuel desenvolve seu raciocínio em um convite individual, que pode abarcar a todos, sem melindres, porque é destituído de aparências exteriores. “Nunca houve no mundo tantos templos de pedra...”, quem busca refugiar-se em paz em templos de pedra, não encontra conforto e calor. Poderia, mas não tem encontrado. O refúgio é interior.

Em outro momento, o autor espiritual segue com reflexões atuais e edificantes, como “aprimoraram-se as teorias sociais de solidariedade e nunca houve tanta discórdia”. A necessidade da fraternidade social está cada vez mais evidente. As casas espíritas continuam vazias após a pandemia, com os frequentadores descrentes daquele modelo de reunião automatizada de “prece – palestra – passe – prece”, com algumas alterações na ordem dos fatores.

Esse desconforto é um indicativo de que as casas espíritas podem rever seu modelo, sem alterar a forma de funcionamento, ou seja, é preciso convencer aqueles que “vão e vem” na casa espírita, que, mesmo que o modelo seja esse em grande parte das casas (“prece-palestra-passe-prece”), as reuniões públicas têm o objetivo de proporcionar conexões com o universo “de dentro”, para fazer luzir esperança, conforto e fortalecimento mental para o cansaço que sobrevém àqueles que frequentam a casa. Por quê?

Na interpretação de Emmanuel, “a maioria dos homens permanece no vai e vem dos caminhos, entre a procura desorientada e o achado falso, entre a mocidade leviana e a velhice desiludida, entre a saúde menosprezada e a moléstia sem proveito, entre a encarnação perdida e a desencarnação em desespero”. Que reflexão maravilhosa e atual!

Essa mensagem nos faz lembrar o pensamento de Léon Denis, na pequena obra, porém gigante em ensinamentos também, O porquê da vida: conforme for o ideal, assim é o homem.

Que possamos renovar as esperanças dentro de nós mesmos, perseguindo “devagar, mas sempre” os propósitos superiores e do além, como continuidade da vida. Emmanuel, em outra mensagem na mesma obra, nos convida a voltarmos o olhar para dentro de nós mesmos e perseverarmos com vigilância: “não abandones o teu grande sonho de conhecer e fazer, nos domínios da inteligência e do sentimento, mas não te esqueças do trabalho pequenino, dia a dia”.

 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita