Alcoolomania e as justificativas
esfarrapadas
A questão da ingestão de alcoólicos é uma preocupação
antiga. No Evangelho de Lucas lemos que "Ele [João
Batista] será grande diante do Senhor, e não beberá
vinho, nem bebida forte."(2)
O alcoolismo é um dos mais sérios problemas
médico-sociais do mundo contemporâneo. Os especialistas
se esforçam em buscar as matrizes cáusicas da questão, e
dentre muitos outros fatores destacam a gigantesca
influência da propaganda bem produzida, veiculada pela
mídia, especialmente na televisão.
As mensagens são fortíssimos apelos para a ingestão da
bebida, que ficam impregnadas no subconsciente de
telespectador desatento aos preceitos do equilíbrio.
Lembra Victor Hugo que "no estado de alcoolismo faz-se
muito difícil a recomposição do paciente, dele exigindo
um esforço muito grande para a recuperação da sanidade.
A obsessão, através do alcoolismo, é mais generalizada
do que parece. Num contexto social permissivo, o vício
da ingestão de alcoólicos torna-se expressão de
‘status’, atestando a decadência de um período histórico
que passa lento e doído."(3)
Conforme registra Mundo Espírita a propósito da
alcoolomania no meio espírita, há certos "líderes"
espíritas que costumam justificar suas tragadinhas na
vil taça com "infundados argumentos, como: todo mundo
bebe; uns poucos goles não fazem mal; só bebo em
ocasiões sociais; (...) beber moderadamente é até bom
para a saúde..."(4)
Apesar dos danos que o álcool provoca na estrutura
fisiopsicossomática, existem aqueles especialistas que
alegam que o corpo físico necessita de pequenas
quantidades dele. Ledo engano! isso é veementemente
contestado pelos Drs. Edgar Berger e Oldmar Beskow, no
livro intitulado Escravos do século XX. O
alcoolista não é somente um destruidor de si mesmo, é
também um veículo das trevas, ponte viva para as pontes
arrasadoras do mal. Joanna de Ângelis nos ensina que a
"pretexto de comemorações, festas e decisões, não nos
comprometamos com o hábito da bebida. O oceano é
constituído de gotículas, e as praias, de inumeráveis
grãos. Libertemo-nos do chavão "HOJE SÓ", e quando
impelidos a comprometimentos nocivos, não encampemos o
célebre desculpismo “SÓ UM POUQUINHO", porquanto uma
picada que injeta veneno letal, não obstante em pequena
dose, produz morte imediata."(5)
A retórica permissiva do "inofensivo" drinque deve ser
enterrada e jamais, sob nenhuma alegação, deveria ser
exumada. Posto que tudo comece com o primeiro gole,
depois vem a necessidade do segundo, do terceiro e assim
por diante.
Ainda sobre o editorial de Mundo Espírita, se o
espírita "conhece e faz-se de desentendido, é
irresponsável que sofrerá as consequências da omissão em
sua consciência profunda."(6)
Para o psicanalista Luis Alberto Pinheiro de Freitas,
autor de "Adolescência, família e drogas" (Editora Mauad),
a liberalidade de muitas famílias com o álcool é um dos
maiores problemas para a prevenção: - Há o mito de que a
maconha leva os jovens a outras drogas. Mas é o álcool
que faz esse papel. E a própria família incentiva o
consumo. Tenho pacientes que começaram a beber quando o
pai, orgulhoso do filho que virava homem, os chamava
para drinques. (7)
Os índices cresceram de 25% a 30% nos últimos cinco
anos, segundo o psiquiatra Frederico Vasconcelos (8),
conforme pesquisa sobre consumo de álcool entre jovens,
pelo Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas
Psicotrópicas (Cebride), da Unifesp. Para ele os jovens
de hoje têm muitas dificuldades com limites e a faixa
etária do abuso de álcool diminuiu.
Há dez anos, o alcoólatra de 40 anos começava a beber
aos 17 ou 18 anos. Hoje, aos 12 ou 13. Isso significa
que, daqui a dez anos, teremos alcoólatras graves de
apenas 35 anos, no auge da vida produtiva. Vasconcelos
atesta que o "álcool gera uma doença de longa evolução
(dez anos em média) e o abuso entre jovens os leva a
drogas maiores. Uma delas é o ecstasy, encontrado em
dois tipos de pastilha: a MAP (meta-anfetamina) e a MDMA
(metil-dietil- MA), esta com propriedades alucinógenas e
ambas vendidas a R$ 80 cada nalgumas casas noturnas do
Brasil. O adolescente se expõe hoje muito mais ao
álcool. Está-se formando uma geração de dependência de
álcool. Além dos riscos à saúde, há os perigos de
dirigir embriagado, da violência e de traumatismos
decorrentes do abuso de álcool.” (9)
Lamentavelmente, em nosso País se consomem cerca de dois
bilhões de litros de pinga e mais de cinco bilhões de
litros de cerveja por ano. Segundo o Dr. Josimar França,
membro da Faculdade da Ciência e Saúde da UnB
(Universidade de Brasília), no Distrito Federal existem
mais de cem mil alcoolistas e boa porcentagem desse
universo é constituído de jovens com menos de 17 anos de
idade.
Josimar atesta que o alcoolismo é o mais importante
problema de saúde pública no Brasil. Retornando ao Mundo
Espírita, é muito bem ressaltado que "o espírita
equivocado [esquece] de que nem tudo o que é comum na
sociedade é normal, aconselhável. Para esse, há uma
Doutrina dos Espíritos para o discurso de conveniência e
outra doutrina para sua prática pessoal [espiritismo
particular]. É adepto da aberração: Faça o que eu digo,
mas não faça o que eu faço."(10)
Ante o desculpismo que procura arrazoar o hábito de
beber ouçamos uma lenda que um dia vi num calendário com
frases e pensamentos orientais:
Um homem chega ao líder de sua religião, que proíbe a
bebida e indaga:
- Grande mestre, as uvas são proibidas?
- Não.
- E o suco de uva é contra a nossa religião?
- Absolutamente.
- E se as uvas fermentarem na água, seremos culpados?
- De jeito nenhum.
- Pois, ao fermentar, elas produzem o vinho. Por que é
pecado então bebê-lo?
- Bem, respondeu o Grande mestre, se eu lhe atirar um
punhado de terra à cabeça, não lhe farei mal algum!
- Claro!
- Se lhe jogar água misturada com terra, também não o
ferirei!
- Certo!
- Mas se eu pegar esse punhado de terra misturado com
água e o meter no forno para cozimento, transformando-o
num tijolo e o atirar na sua cabeça que será que pode
acontecer?
Todos os círculos da existência, para se adaptarem aos
processos da educação, necessitam do esforço continuado
(disciplina), porque todas as conquistas do espírito se
efetuam na base de lições recapituladas. Hahnemann
ensina que "homem não se conserva vicioso senão porque
quer permanecer vicioso; aquele que queira corrigir-se
sempre o pode. De outro modo, não existiria para o homem
a lei do progresso."(11)
Referências bibliográficas:
1-Provérbio de Salomão, cap 20:1.
2- Lucas 1:15 e 7:33.
3- Franco, Divaldo Pereira. Calvário
de Libertação - ditado pelo Espírito VICTOR HUGO,
1a. Ed. ALVORADA, 1979.
4- Jornal Mundo Espírita da
Federação Espírita do Paraná, julho/2002, pg.03-
Editorial.
5- Franco, Divaldo Pereira. Estudos
Espíritas, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis
1a. Ed. Ed FEB, RJ: 1983.
6- Cf. Jornal Mundo Espírita da
Federação Espírita do Paraná, julho/2002, pg.03-
Editorial.
7- Revista "Época" de 29 de julho de
2002, (Marcia Cezimbra, jornal O Globo).
8- Frederico Vasconcelos, psiquiatra,
coordenador da Aldeia Clínica e homenageado pelo
presidente Fernando Henrique no mês passado, juntamente
com a autora Glória Perez, por seus trabalhos de
prevenção das drogas.
9- Revista "Época" de 29 de julho de
2002, (Marcia Cezimbra, jornal O Globo)
10- Cf. Jornal Mundo Espírita da
Federação Espírita do Paraná, julho/2002, pg.03-
Editorial.
11- Kardec, Allan, O Evangelho Segundo
o Espiritismo, mensagem de Samuel Hahnemann, Cap 9
Ed. FEB, RJ 2000.
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