Mãe doente, filho pequeno
Toda criança no mundo
deve ser bem protegida
os rigores do tempo
contra os rigores da vida.
Ruth Rocha
João tem 7 anos e soube recentemente que sua mãe está
gravemente doente. Como psicanalista, acompanho a mãe do
menino e a ajudei a encorajar o filho a expressar seus
sentimentos, medos e preocupações.
A doença de um dos pais é um grande desafio para o
próprio casal, em primeiro lugar. E é preciso que eles a
aceitem primeiro, antes de tentar explicá-la aos filhos
de uma maneira adequada. Embora existam muitas maneiras
de contar essa situação às crianças, é importante
encontrar a forma mais apropriada e, na maioria das
vezes, sem esperar a “hora certa”, porque talvez ela não
exista…
As crianças confiam naturalmente que os pais sempre
estarão com elas, nos bons e nos momentos difíceis. A
doença de um dos pais pode ser um dos momentos mais
duros de sua vida. Como explicar que a mãe ou o pai está
doente de uma forma que a criança possa aceitar essa
situação da melhor maneira possível?
De início, é
fundamental sanar com o médico todas as
dúvidas possíveis sobre a doença e suas consequências. Ainda,
o médico pode ajudar a estruturar a explicação que o
casal poderá oferecer aos filhos, bem como sanar as
possíveis dúvidas que possam surgir depois...
Quando um dos pais está enfermo, no geral vivencia
mudanças emocionais e físicas, e que as crianças
certamente notarão. Elas se sentirão mais seguras se
souberem os motivos dessas mudanças. A quantidade de
informações sobre a doença e a
transparência/profundidade sobre o nível de gravidade
dela devem ser adaptadas à idade e maturidade da
criança. Enquanto a maioria das crianças se adapta
rapidamente a essas mudanças, para algumas isso é mais
complicado e os pais necessitam atuar com paciência e
afeto no dia a dia da casa.
O que é essencial? Que sejam os pais que contem às
crianças o que está acontecendo. Atenção e comunicação
honesta tornarão mais fácil a aceitação da notícia. As
explicações dadas às crianças sobre a doença devem ser
adaptadas à sua idade, utilizando linguagem apropriada à
sua maturidade e considerando o fato de que quanto menor
elas são, menos compreensão elas têm. Nesse sentido, o
auxílio do médico (ou de uma pessoa com uma boa
capacidade de comunicação com a criança) será vital para
a construção da explicação dada à criança. Ainda, é
essencial evitar metáforas, pois as crianças costumam
entender as coisas de forma literal…
Por mais que a conversa comece a partir do adulto, é
muito importante dar espaço para a criança falar ou
fazer perguntas. Não existe certo ou errado, mas a ideia
é sempre oferecer a escuta, buscando entender o que a
criança quer saber, do que ela tem medo. E isso mediado
por uma linguagem adequada ao desenvolvimento dela.
Na nossa última sessão, a mãe do João me contou que se
emocionou muito com as palavras escritas no cartão que
foi feito com carinho pelo filho: “mãe, eu te amo e
fique bom logo”.
Notinhas
As crianças de 2 a 3 anos precisam saber apenas que a
mãe ou o pai não está bem, que está doente. Como nesta
idade as crianças ainda não são capazes de expressar
seus sentimentos, é importante tentar notá-los
observando no dia a dia o seu comportamento. As
crianças de 3 a 5 anos temem se separar de seus pais. Se
a mãe ou o pai precisar ser internado em um hospital e
as crianças terão de ser cuidadas por outra pessoa, é
importante que isso seja bem explicado para elas. Embora
nesta idade as crianças já entendam o que é estar
doente, não conseguem compreender ainda a diferença
entre uma doença leve e outra grave. Crianças de 6 a 11
anos podem entender uma explicação simples sobre o que é
a doença e como ela afeta o corpo. Descobrir o que eles
já sabem e, a partir daí, estabelecer a explicação, pode
ser uma alternativa. É importante que os pais incentivem
a expressão de suas emoções, medos e preocupações.
Durante a adolescência (entre os 12 e os 17 anos), os
filhos são capazes de compreender a complexidade da
doença sofrida pelos pais e os tratamentos necessários,
por isso é essencial que os pais sejam honestos e lhes
forneçam informação suficiente, procurando não causar
preocupação excessiva. Nessa fase é difícil para eles
expressarem seus sentimentos, e é por isso que os pais
têm que fazer esforços reiterados para encorajá-los a
desabafar.