Pedestais vazios
Aqueles que acompanham notícias pela internet,
constantemente são assombrados por revelações
provenientes de religiosos e intelectuais.
Recentemente, o líder espiritual do Tibete, chefe de
estado, a figura religiosa mais proeminente na cultura
oriental, denominada Dalai Lama, conhecido como Gyalwa
Rinpoche entre o povo tibetano, nascido Lhamo Thondup,
envolveu-se em um gesto que pode ser comum entre os
orientais praticantes de rituais esotéricos, mas é
afrontoso e anti-higiênico em todos os sentidos.
Padres envolvem-se em diversos escândalos vinculados ao
celibato. Pastores não ficam atrás, envolvidos em
escândalos de ordem econômica, vinculados ao poder da
religião perante a opinião pública, e até espíritas,
médiuns e oradores volta e meia envolvem-se em polêmicas
que poderiam ser evitadas se mantivessem o seu
compromisso de trabalho em projeção maior do que os
mandos e desmandos de suas vaidades.
Não escapam aqueles intelectuais e acadêmicos que, de
alguma forma, exerceram suas pesquisas com maestria, se
notabilizaram por suas produções científicas, mas que,
de alguma forma, não trabalharam aspectos sexuais de
suas personalidades, levando-os a comportamentos de
assédio sexual reiterados, como aconteceu com um ilustre
acadêmico de Coimbra, Portugal. Infelizmente não é um
fato isolado.
Fala-se pouco sobre sexo no movimento espírita, porque
talvez seja um assunto dos mais espinhosos e raros são
aqueles que mantiveram, ao longo de sua vida, uma
conduta ilibada a esse respeito, seja para o próprio bem
ou do próximo. Mas é algo que, se tratado como um ponto
importante e que exerce influência sobre desejos e
vontades que atropelam a razão, acho que poderia deixar
de ser “tabu”, e passar a ser um dos temas que
precisamos refletir e aperfeiçoar, dentre tantos outros
para nos tornarmos realmente “homens de bem”.
E sempre que se aborda temas polêmicos (sexo, dinheiro,
poder), quando “autoridades” ou "eleitos" escorregam e
fogem ao “padrão” da sociedade (hipócrita, em muitas
convenções, diga-se de passagem), começam as discussões
inócuas sobre as figuras proeminentes. “Mas o Dalai Lama
possui 16 prêmios, incluindo o Nobel da Paz em 1989...”;
“mas o médium e orador possui uma obra assistencial
maravilhosa, belíssima, ele também possui méritos”; “mas
o expositor e escritor precisa de dinheiro para custear
as próprias despesas de produção do seu trabalho”; “mas
as alunas assediadas interpretaram errado a abordagem do
mestre, ele apenas quis ser carinhoso, já que o ambiente
acadêmico é solitário e a caminhada é árdua...” e assim
avançam as críticas e defesas a respeito das autoridades
que são colocadas em pedestais pelos homens.
Algum proveito de tudo isso é possível extrair, para se
começar a deixar os pedestais vazios.
Para o espírita, a questão 625 de O Livro dos
Espíritos continua atual, como toda a obra de Allan
Kardec. O modelo e o guia, aquele que é considerado o
tipo mais perfeito que Deus ofereceu aos homens,
continua sendo Jesus. Ele é a referência máxima para se
estribar.
Seguir intelectual, médium, palestrante, orador,
dirigente, é incorrer no erro de perpetuar a construção
de pedestais para seres humanos tão falíveis quanto
qualquer um de nós. Não obstante, de fato, cabe refletir
nos esforços, fruto da produção de cada um,
naquilo em que se destaca, seja no desenvolvimento da
inteligência, no trato com as pessoas, nas obras
assistenciais, na condução e liderança dos trabalhos de
quaisquer ordens, sem, porém, perder de vista O
modelo e Guia.