Criança precisa de natureza
“Que a importância de uma coisa não se mede com fita
métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a
importância de uma coisa há que ser medida pelo
encantamento que a coisa produza em nós.” Manoel
de Barros
Há inúmeros benefícios causados pela exposição a
entornos naturais durante a infância, e que, no geral,
se manifestarão com uma saúde mais consistente durante a
vida adulta.
Para a criança, o contato com a natureza está largamente
associado a uma melhor autoestima, influência
qualitativa no bem-estar, uma maior disposição física,
incentivando curiosidade e o espírito criativo.
O acesso à natureza desencadeia para as crianças um
melhor desenvolvimento cognitivo, um estímulo das
habilidades sociais, a gestão de riscos, uma melhor
autorregulação emocional, o que fortalece a resiliência.
Por sua vez, crianças que levam uma vida sedentária e
que apenas saem de casa para atividades ou passeios em
ambientes fechados ou artificiais, geralmente estão mais
sujeitas à falta de concentração e a uma saúde física e
emocional mais frágil. Além disso, esta carência de
natureza na infância tende a derivar na vida adulta em
um agravamento crônico da saúde mental e psicológica,
atingindo as perspectivas de uma vida com mais
qualidade.
Saber que a criança precisa de natureza significa que
devemos fazer as malas e nos mudar para o campo ou
lugares cercados de florestas para assegurar a saúde de
nossos filhos pequenos? Nada disso. Ainda que viver nas
zonas rurais, nas serras, facilita muito as coisas, o
contato com entornos naturais pode ser feito igualmente
nos espaços urbanos. Pois basta levar a criança à praça,
ao parque, ao jardim botânico. Mesmo os pátios das
escolas, desde que arborizados e ajardinados, podem
afetar positivamente as crianças em suas atividades
livres de brincar, imaginar, explorar...
Diversos estudos, em várias partes do mundo, atestam
cada vez mais que a criança que desfruta regularmente de
ambientes naturais tem uma melhor saúde, uma melhor
resposta imunológica, vivem mais confiantes e menos
estressados. Obviamente, isto não quer dizer que se uma
criança vive a dez minutos de um parque e enfrenta um
evento difícil em casa como a separação dos pais, por
exemplo, não se sinta mal. Está infeliz, mas se tem a
natureza perto, dispõe de mais recursos para superar
esse evento estressante.
Em razão da hipótese biofílica, para nossas crianças é
essencial avaliarmos a agenda infantil da vida
cotidiana, permitindo que haja tempo suficiente para a
criança desfrutar da natureza e seus inúmeros encantos.
Notinha
Temos uma preferência geral por paisagens com vegetais,
pois estas foram elementos cruciais para a nossa
sobrevivência – e isso diz respeito à hipótese
biofílica, segundo a qual há em nós um registro estético
que nos leva a sentir necessidade de natureza. Assim,
contemplar vistas panorâmicas, por exemplo, desperta em
nós uma sensação de plenitude, de paz, algo desencadeado
pelas experiências passadas da espécie humana em relação
à sua sobrevivência. Ou seja, crianças, adultos, todos
nós precisamos de ambientes naturais, tomados por
plantas, árvores, para nos sentirmos saudáveis,
resilientes e felizes. Por isso, privadas do contato
direto com a natureza e de seus benefícios para a saúde
física e psíquica, as crianças podem apresentar sintomas
do que o escritor americano Louv denomina como Transtorno
do Déficit de Natureza.