A bênção de um
companheiro fiel
Na sexta feira, 19 de maio de 2023, acordamos com a
notícia da desencarnação, aos 97 anos, de um grande
amigo e divulgador emérito da Doutrina Espírita, o
professor José Passini.
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Passini nasceu em 11 de abril de 1926 no distrito
de Nova Itapirema, do município de Nova Aliança, no
interior de São Paulo. |
De nova Aliança, sua família foi para Lins,
também no interior de São Paulo. Seus pais eram
Edmondo Passini e Vitória Monesso. |
Diz sua biógrafa, Flávia Halfeld, que a vida da família
de Passini não era um mar de rosas. Diz ainda que ele e
seus irmãos andavam descalços e só calçavam sapatos
quando iam à escola. Ao completar doze anos tornou-se
atendente de um bar que pertencia ao seu pai.
Posteriormente trabalhou em outras atividades de
atendente em papelaria, armarinho, secos e molhados e
ferro-velho. Também trabalhou em livraria e este foi o
seu primeiro e grande encontro com a cultura em geral.
Sua mãe, Da. Vitória, era médium psicofônica, de tal
forma que seus filhos tiveram orientação espírita desde
cedo. A família realizava reuniões em casa ou
encaminhavam-se para o Centro Espírita mais próximo. À
época, as Escolas de Evangelização eram chamadas de
Catecismo Espírita. Assim, desde criança ele teve
contato com o Espiritismo, vindo mais tarde a dedicar-se
ao Esperanto, tornando-se também professor dessa língua.
Passini, como era conhecido, viveu a maior parte de sua
vida na cidade de Juiz de Fora-MG, procedente da cidade
de São Paulo. Antes, porém, viveu no município de
Olaria, próximo de Juiz de Fora, para trabalhar na
construção da ferrovia que ligaria as cidades mineiras
de Lima Duarte e Bom Jardim de Minas. Essa rodovia
acabou não saindo. Trabalhou também como mecânico e
eletricista de automóveis.
Em Juiz de Fora esteve todo o tempo ligado ao Grupo de
Estudos Espíritas Garcia.
Nós o conhecemos pessoalmente e por várias vezes
conversamos e nos foi possível reconhecer seu caráter
humanitário e de total dedicação à estruturação do novo
homem.
Passini sempre nos dizia sobre a necessidade de
preservarmos os fundamentos espíritas, tendo em vista
que alguns escritores, talvez afoitos, tentavam incutir
nos leitores ideias controversas aos que nos ensina o
emérito Allan Kardec.
Foi um defensor ferrenho das Codificação, sendo por
isso, muitas vezes, criticado por tal atitude. Mas ele
permanecia firme e fiel, divulgando sem cessar e
incansavelmente os estudos doutrinários. Não há por aqui
e na região alguém que não conheça sua atitude sóbria
nas tribunas espíritas, exemplificando o comportamento
ideal do espírita sincero.
Diz Flávia Halfeld no seu livro Do Zero ao Infinito –
A Trajetória de um Determinado:
“Passini era encantado com o Esperanto e com o seu ideal
de ser a segunda língua dos povos. Claro que a AME local
naquele tempo não viu isso com bons olhos, mas ele
continuou destemido e viajou para outras nações
divulgando e aprendendo sempre a língua criada pelo médico judeu Ludwik
Lejzer Zamenhof. O primeiro livro sobre essa língua foi
lançado pelo seu idealizador em 26
de julho de 1887. Da. Norma, como é conhecida a segunda
esposa de José Passini, também é professora. Foi ela,
como ele mesmo disse, o grande amor de sua vida. José
Passini foi pai e um dos seus filhos, Marcos Passini,
também é expositor espírita com um vasto legado de
conhecimentos adquiridos do pai e de seus estudos.”
O que nos fica desse grande amigo é a certeza de que
vale lutar por um ideal. Desencarnou com 97 anos e bem
pouco tempo antes era solicitado a ministrar palestras e
seminários.
Sua vida acadêmica foi profícua, tendo sido professor de
Letras. Devido ao seu temperamento austero, foi muitas
vezes considerado como sisudo, mas quem o conheceu viu
nele um homem de bem e determinado a cumprir os
desígnios de sua vida, que era o de ser um professor
universitário e divulgar o Evangelho de Jesus à Luz da
Doutrina Espírita. E, por isso, era firme no que dizia e
fazia, sem meios termos e sem avanços desnecessários,
demonstrando sempre ser uma pessoa extremamente
criteriosa e justa.
Passini foi professor e reitor da Universidade Federal
de Juiz de Fora. Doutor em Linguística, ocasião em que
defendeu tese sobre o Esperanto, foi homenageado com a
Medalha JK, a maior honraria da Universidade, em 2010, e
também com a Medalha Mérito Comendador Henrique
Guilherme Fernando Halfeld, conferida pela Prefeitura de
Juiz de Fora.
Nas lides espíritas, tornou-se um palestrante espírita
bastante requisitado e respeitado pela comunidade
espírita e ocupou diversos cargos em diferentes casas
espíritas. Dirigiu a AME de Juiz de Fora em dois
mandatos e colaborou na revista O Médium.
Esperantista conhecido internacionalmente, divulgou o
Espiritismo em vários congressos mundiais de Esperanto.
Fez parte da equipe do programa Opinião Espírita (rádio
e TV) e do Departamento de Evangelização da Criança da
Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora.
Foi membro do Conselho Editorial e articulista da
revista O Consolador, desde a sua fundação em
18/4/2007.
Pela EVOC, a editora da
revista, publicou dois livros no formato digital: Livros
que, propositadamente ou não, denigrem o Espiritismo e Apontamentos
Espíritas, que podem ser baixados gratuitamente,
bastando acessar o site da editora; para fazê-lo, clique
aqui
O corpo do estimado professor foi velado na sexta-feira
19, das 14h às 18h, na Capela 1 do Cemitério Parque da
Saudade. Em seguida, foi cremado em uma cerimônia
restrita aos familiares.
Damos ao grande Prof. José Passini um até breve. Vamos
nos reencontrar um dia e com certeza ele terá muito mais
a nos ensinar. Sua estada na espiritualidade o
capacitará ainda mais a ser o grande homem e professor
que foi. Gratidão a ele pelo que nos deixou. O movimento
espírita e acadêmico de Juiz de Fora reconheceu e
reconhece seus esforços.
A Universidade decretou luto oficial de três dias e os
espíritas oraram e oram por aquele Espírito, companheiro
fiel, que esteve conosco ensinando e amando.