Brasil
por Guaraci de Lima Silveira

Ano 17 - N° 825 - 28 de Maio de 2023

 

 

A bênção de um companheiro fiel


Na sexta feira, 19 de maio de 2023, acordamos com a notícia da desencarnação, aos 97 anos, de um grande amigo e divulgador emérito da Doutrina Espírita, o professor José Passini.

Passini nasceu em 11 de abril de 1926 no distrito de Nova Itapirema, do município de Nova Aliança, no interior de São Paulo.
De nova Aliança, sua família foi para Lins, também no interior de São Paulo. Seus pais eram Edmondo Passini e Vitória Monesso.

Diz sua biógrafa, Flávia Halfeld, que a vida da família de Passini não era um mar de rosas. Diz ainda que ele e seus irmãos andavam descalços e só calçavam sapatos quando iam à escola. Ao completar doze anos tornou-se atendente de um bar que pertencia ao seu pai. Posteriormente trabalhou em outras atividades de atendente em papelaria, armarinho, secos e molhados e ferro-velho. Também trabalhou em livraria e este foi o seu primeiro e grande encontro com a cultura em geral.  

Sua mãe, Da. Vitória, era médium psicofônica, de tal forma que seus filhos tiveram orientação espírita desde cedo. A família realizava reuniões em casa ou encaminhavam-se para o Centro Espírita mais próximo. À época, as Escolas de Evangelização eram chamadas de Catecismo Espírita. Assim, desde criança ele teve contato com o Espiritismo, vindo mais tarde a dedicar-se ao Esperanto, tornando-se também professor dessa língua.

Passini, como era conhecido, viveu a maior parte de sua vida na cidade de Juiz de Fora-MG, procedente da cidade de São Paulo. Antes, porém, viveu no município de Olaria, próximo de Juiz de Fora, para trabalhar na construção da ferrovia que ligaria as cidades mineiras de Lima Duarte e Bom Jardim de Minas. Essa rodovia acabou não saindo. Trabalhou também como mecânico e eletricista de automóveis.

Em Juiz de Fora esteve todo o tempo ligado ao Grupo de Estudos Espíritas Garcia.

Nós o conhecemos pessoalmente e por várias vezes conversamos e nos foi possível reconhecer seu caráter humanitário e de total dedicação à estruturação do novo homem.

Passini sempre nos dizia sobre a necessidade de preservarmos os fundamentos espíritas, tendo em vista que alguns escritores, talvez afoitos, tentavam incutir nos leitores ideias controversas aos que nos ensina o emérito Allan Kardec.

Foi um defensor ferrenho das Codificação, sendo por isso, muitas vezes, criticado por tal atitude. Mas ele permanecia firme e fiel, divulgando sem cessar e incansavelmente os estudos doutrinários. Não há por aqui e na região alguém que não conheça sua atitude sóbria nas tribunas espíritas, exemplificando o comportamento ideal do espírita sincero.

Diz Flávia Halfeld no seu livro Do Zero ao Infinito – A Trajetória de um Determinado:

“Passini era encantado com o Esperanto e com o seu ideal de ser a segunda língua dos povos. Claro que a AME local naquele tempo não viu isso com bons olhos, mas ele continuou destemido e viajou para outras nações divulgando e aprendendo sempre a língua criada pelo médico judeu Ludwik Lejzer Zamenhof. O primeiro livro sobre essa língua foi lançado pelo seu idealizador em 26 de julho de 1887. Da. Norma, como é conhecida a segunda esposa de José Passini, também é professora. Foi ela, como ele mesmo disse, o grande amor de sua vida. José Passini foi pai e um dos seus filhos, Marcos Passini, também é expositor espírita com um vasto legado de conhecimentos adquiridos do pai e de seus estudos.”

O que nos fica desse grande amigo é a certeza de que vale lutar por um ideal. Desencarnou com 97 anos e bem pouco tempo antes era solicitado a ministrar palestras e seminários.

Livros de José Passini

Sua vida acadêmica foi profícua, tendo sido professor de Letras. Devido ao seu temperamento austero, foi muitas vezes considerado como sisudo, mas quem o conheceu viu nele um homem de bem e determinado a cumprir os desígnios de sua vida, que era o de ser um professor universitário e divulgar o Evangelho de Jesus à Luz da Doutrina Espírita. E, por isso, era firme no que dizia e fazia, sem meios termos e sem avanços desnecessários, demonstrando sempre ser uma pessoa extremamente criteriosa e justa.

Passini foi professor e reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora. Doutor em Linguística, ocasião em que defendeu tese sobre o Esperanto, foi homenageado com a Medalha JK, a maior honraria da Universidade, em 2010, e também com a Medalha Mérito Comendador Henrique Guilherme Fernando Halfeld, conferida pela Prefeitura de Juiz de Fora.

Nas lides espíritas, tornou-se um palestrante espírita bastante requisitado e respeitado pela comunidade espírita e ocupou diversos cargos em diferentes casas espíritas. Dirigiu a AME de Juiz de Fora em dois mandatos e colaborou na revista O Médium.

Esperantista conhecido internacionalmente, divulgou o Espiritismo em vários congressos mundiais de Esperanto.

Fez parte da equipe do programa Opinião Espírita (rádio e TV) e do Departamento de Evangelização da Criança da Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora.

Foi membro do Conselho Editorial e articulista da revista O Consolador, desde a sua fundação em 18/4/2007.

Pela EVOC, a editora da revista, publicou dois livros no formato digital: Livros que, propositadamente ou não, denigrem o Espiritismo e Apontamentos Espíritas, que podem ser baixados gratuitamente, bastando acessar o site da editora; para fazê-lo, clique aqui

O corpo do estimado professor foi velado na sexta-feira 19, das 14h às 18h, na Capela 1 do Cemitério Parque da Saudade. Em seguida, foi cremado em uma cerimônia restrita aos familiares.

Damos ao grande Prof. José Passini um até breve. Vamos nos reencontrar um dia e com certeza ele terá muito mais a nos ensinar. Sua estada na espiritualidade o capacitará ainda mais a ser o grande homem e professor que foi. Gratidão a ele pelo que nos deixou. O movimento espírita e acadêmico de Juiz de Fora reconheceu e reconhece seus esforços.

A Universidade decretou luto oficial de três dias e os espíritas oraram e oram por aquele Espírito, companheiro fiel, que esteve conosco ensinando e amando.

 
  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita