A saga da enfermeira Aparecida, que mais tarde fundaria o
Hospital do Fogo Selvagem de Uberaba, prosseguia.
Em 1960, 187 doentes se amontoavam na enfermaria por ela
mantida. Em 1961, o número subiu para 363. O pavilhão do São
Vicente de Paulo ficou pequeno demais. A enfermeira pôs na
cabeça uma ideia fixa: iria construir um hospital. Um conhecido
lhe ofereceu um terreno por 300 mil. Aparecida nem pensou duas
vezes. Saiu às ruas, com seus doentes, para pedir ajuda. Muita
gente se apressava em lavar e desinfetar o chão por onde eles
passavam e, mesmo diante deles, esfregavam com álcool as grades
tocadas pelas vítimas do fogo-selvagem.
Apesar da resistência geral, Aparecida conseguiu juntar o
dinheiro. Comprou o terreno, abriu uma cisterna, cortou árvores
e lançou a pedra fundamental. Estava pronta para começar a obra.
Nem imaginava, mas tinha caído numa armadilha: comprara os lotes
da pessoa errada. Os proprietários eram outros e estavam
dispostos a processá-la por invasão de propriedade alheia. Pior:
ela não tinha um documento para provar o pagamento do terreno.
Voltou à estaca zero. E pediu socorro a Chico Xavier. Bem
relacionado, o espírita a encaminhou a um corretor de imóveis,
que negociou a compra com os proprietários de verdade. Tudo
sairia por 260 mil cruzeiros. Mais calma, ela voltou até Chico e
comunicou: - Vou a São Paulo porque, dizem, lá é só estender a
mão que o povo dá.
Chico perguntou se ela conhecia a cidade e ouviu a resposta: -
Só sei que fica para lá. E apontou a direção. Chico lhe deu um
cartão endereçado a um radialista. Aparecida foi à procura dele
e tropeçou no dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand.
Teve muita sorte. O empresário colocou à sua disposição suas
emissoras de rádio. A campanha beneficente arrecadou 720 mil
cruzeiros. Aparecida tomou fôlego e avisou a Chico que iria
iniciar as obras. Desta vez, ele foi desanimador. Virá muita
tempestade, ainda não é o momento. Aguardemos a hora para
iniciar a construção. Aparecida perdeu a paciência. Não iria
aguardar hora alguma. Comprou 22 mil tijolos e começou a
acumular o material. Na semana seguinte, vizinhos pediram
tijolos emprestados. Nunca mais devolveram. A ex-enfermeira se
lembrou do conselho de Chico e sossegou.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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