Reforma íntima
Cada instante faculta conquistas para quem se interessa
pela reforma íntima.
“(...) O Espiritismo acarretará uma reforma moral.” Fénelon
O caos reinante no mundo atual dá-nos a impressão de que
o nosso planeta é um barco à matroca, e os descalabros
morais de largo porte, os escândalos, as maldades, a
corrupção, o esfacelamento dos valores nobres, o
crescimento do egoísmo, da imoralidade, da violência,
das filosofias chãs, fornecem as cores fortes dos
quadros tristes e deploráveis nesse contexto
particularmente sombrio.
Porém, em todas as épocas da humanidade, no momento em
que os despautérios atingiam níveis exorbitantes, o
próprio mal engendrava uma espécie de vacina que levava
à reversão do estado de coisas; era como se a própria
doença trouxesse o remédio salutar para a cura! E hoje
não é diferente. Nosso Orbe avizinha-se de um tempo novo
no qual os valores nobres vão se impor pela força
natural das coisas. O caos reinante é temporário.
Assemelha-se nossa Casa Planetária a uma construção em
reforma onde à desorganização momentânea sucederá a paz,
a harmonia, a beleza, a tranquilidade...
O grande e definitivo remédio dos tempos
vindouros já se encontra há mais de um século arraigado
no cerne da civilização e, tal medicamento acarretará a
reforma moral necessária: o Espiritismo! Portanto,
nosso mundo não é um barco que navega ao sabor das marés
circunstanciais. Jesus está no leme e a procela, por
certo, haverá de amainar-se sob o influxo de Sua divina
vontade, à semelhança da tempestade amainada por Ele na
Palestina.
Quando a Sua mensagem estiver realmente albergada no
coração humano, o egoísmo e toda a sua coorte de
corolários baterão em retirada, e a Caridade haverá de
encontrar refúgio nos espaços antes ocupados pelos
agentes do mal.
Os agrupamentos e Instituições Espíritas devem,
portanto, ser os primeiros a dar o exemplo das virtudes
cristãs, vez que estão recolhendo, em primeira mão, os
conhecimentos novos e vislumbrando horizontes nunca
dantes desvelados.
Entanto, para que as Casas Espíritas possam ser as
primeiras a exemplificar – em espírito e verdade – os
postulados cristãos, faz-se indispensável que cada um de
seus membros efetue a reforma íntima para expulsar de
seus redutos internos tudo aquilo que interfere
negativamente e colide com os preceitos do Meigo
Pegureiro.
Atentemos nestas lúcidas
orientações da nobre mentora de Divaldo Franco:
“(...) quanto puderes, posterga a prática do mal até o
momento que possas vencer essa força doentia que te
empurra para o abismo.
Provocado pela perversidade que campeia a solta, age em
silêncio, mediante a oração que te resguarda a
tranquilidade; espicaçado pelos desejos inferiores,
estimulados pela onda crescente do erotismo e da
vulgaridade, gasta as tuas energias excedentes na
atividade fraternal; empurrado para o campeonato da
competição, na área da violência, estuga o passo e
reflexiona, assumindo a postura da resistência passiva;
desconsiderado nos anseios nobres do teu sentimento,
cultiva a paciência e aguarda a bênção do tempo que tudo
vence; acoimado pela injustiça ou sitiado pela calúnia,
prossegue no compromisso abraçado, sem desânimo,
confiando no valor do bem; aturdido pela compulsão do
desforço cruel, considera o teu agressor como infeliz
amigo que se compraz na perturbação; desestimulado no
lar e sensibilizado por outros afetos, renova a paisagem
familiar e tenta salvar a construção moral doméstica
abalada.
É muito fácil desistir do esforço nobre, comprazer-se
por um momento, tornar-se igual aos demais, nas suas
manifestações inferiores. Todavia, os estímulos e gozos
de hoje, no campo das paixões desgovernadas,
caracterizam-se pelo sabor dos temperos que se convertem
em ácido e fel, a requeimarem por dentro, passados os
primeiros momentos. Aprende a controlar as tuas más
inclinações e adia o teu momento infeliz. Se
perseveras na luta, vencerás a violência interior que te
propele para o mal.
Sempre que surja oportunidade, faze o bem, por mais
insignificante que te pareça. Gera o momento de ser
útil e aproveita-o, pois para quem está honestamente
interessado na reforma íntima, cada instante lhe faculta
conquistas que investe no futuro, lapidando-se e
melhorando-se sem cansaço.
Toda ascensão exige esforço, adaptação e sacrifício,
enquanto que toda queda resulta em prejuízo, desencanto
e recomeço... Assim, trabalha-te interiormente,
vencendo limites e obstáculos, sem olhar para trás, não
considerando os terrenos vencidos, porém, fixando-te nas
paisagens ainda a percorrer.
Destarte, a tua reforma íntima te concederá a paz pela
qual anelas e também lograrás a felicidade imarcescível
que desejas.”
-
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed.
Rio: FEB, 2003, 2ª parte, cap. XXXI, item XXI.