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por Rogério Coelho

 

Reforma íntima

 

Cada instante faculta conquistas para quem se interessa pela reforma íntima.


“(...) O Espiritismo acarretará uma reforma moral.” 
Fénelon[1]

 

O caos reinante no mundo atual dá-nos a impressão de que o nosso planeta é um barco à matroca, e os descalabros morais de largo porte, os escândalos, as maldades, a corrupção, o esfacelamento dos valores nobres, o crescimento do egoísmo, da imoralidade, da violência, das filosofias chãs, fornecem as cores fortes dos quadros tristes e deploráveis nesse contexto particularmente sombrio.

Porém, em todas as épocas da humanidade, no momento em que os despautérios atingiam níveis exorbitantes, o próprio mal engendrava uma espécie de vacina que levava à reversão do estado de coisas; era como se a própria doença trouxesse o remédio salutar para a cura!  E hoje não é diferente. Nosso Orbe avizinha-se de um tempo novo no qual os valores nobres vão se impor pela força natural das coisas. O caos reinante é temporário. Assemelha-se nossa Casa Planetária a uma construção em reforma onde à desorganização momentânea sucederá a paz, a harmonia, a beleza, a tranquilidade...

O grande e definitivo remédio dos tempos vindouros já se encontra há mais de um século arraigado no cerne da civilização e, tal medicamento acarretará a reforma moral necessária: o Espiritismo! Portanto, nosso mundo não é um barco que navega ao sabor das marés circunstanciais.   Jesus está no leme e a procela, por certo, haverá de amainar-se sob o influxo de Sua divina vontade, à semelhança da tempestade amainada por Ele na Palestina.

Quando a Sua mensagem estiver realmente albergada no coração humano, o egoísmo e toda a sua coorte de corolários baterão em retirada, e a Caridade haverá de encontrar refúgio nos espaços antes ocupados pelos agentes do mal.

Os agrupamentos e Instituições Espíritas devem, portanto, ser os primeiros a dar o exemplo das virtudes cristãs, vez que estão recolhendo, em primeira mão, os conhecimentos novos e vislumbrando horizontes nunca dantes desvelados.

Entanto, para que as Casas Espíritas possam ser as primeiras a exemplificar – em espírito e verdade – os postulados cristãos, faz-se indispensável que cada um de seus membros efetue a reforma íntima para expulsar de seus redutos internos tudo aquilo que interfere negativamente e colide com os preceitos do Meigo Pegureiro.

Atentemos nestas lúcidas orientações da nobre mentora de Divaldo Franco[2]: “(...) quanto puderes, posterga a prática do mal até o momento que possas vencer essa força doentia que te empurra para o abismo.

Provocado pela perversidade que campeia a solta, age em silêncio, mediante a oração que te resguarda a tranquilidade; espicaçado pelos desejos inferiores, estimulados pela onda crescente do erotismo e da vulgaridade, gasta as tuas energias excedentes na atividade fraternal; empurrado para o campeonato da competição, na área da violência, estuga o passo e reflexiona, assumindo a postura da resistência passiva; desconsiderado nos anseios nobres do teu sentimento, cultiva a paciência e aguarda a bênção do tempo que tudo vence; acoimado pela injustiça ou sitiado pela calúnia, prossegue no compromisso abraçado, sem desânimo, confiando no valor do bem; aturdido pela compulsão do desforço cruel, considera o teu agressor como infeliz amigo que se compraz na perturbação; desestimulado no lar e sensibilizado por outros afetos, renova a paisagem familiar e tenta salvar a construção moral doméstica abalada.

É muito fácil desistir do esforço nobre, comprazer-se por um momento, tornar-se igual aos demais, nas suas manifestações inferiores. Todavia, os estímulos e gozos de hoje, no campo das paixões desgovernadas, caracterizam-se pelo sabor dos temperos que se convertem em ácido e fel, a requeimarem por dentro, passados os primeiros momentos. Aprende a controlar as tuas más inclinações e adia o teu momento infeliz.   Se perseveras na luta, vencerás a violência interior que te propele para o mal.

Sempre que surja oportunidade, faze o bem, por mais insignificante que te pareça.   Gera o momento de ser útil e aproveita-o, pois para quem está honestamente interessado na reforma íntima, cada instante lhe faculta conquistas que investe no futuro, lapidando-se e melhorando-se sem cansaço.

Toda ascensão exige esforço, adaptação e sacrifício, enquanto que toda queda resulta em prejuízo, desencanto e recomeço...  Assim, trabalha-te interiormente, vencendo limites e obstáculos, sem olhar para trás, não considerando os terrenos vencidos, porém, fixando-te nas paisagens ainda a percorrer.

Destarte, a tua reforma íntima te concederá a paz pela qual anelas e também lograrás a felicidade imarcescível que desejas.”     


 

[1] - KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio: FEB, 2003, 2ª parte, cap. XXXI, item XXI.

[2] - FRANCO, Divaldo. Vigilância. 2.ed. Salvador: LEAL,2000, cap. 11.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita