Bem que nos falta
No estudo da perfeição, comecemos por vigiar a nós
mesmos, corrigindo-nos em tudo aquilo que nos desagrada
nos semelhantes.
Muitos pregam contra o desperdício dos administradores
da causa pública e instalam-se, entre as paredes
domésticas, como se devessem atravessar a existência
numa carruagem de luxo, sobre lixo dourado.
Outros criticam autoridades, apontando-as por verdugos
do povo, e tiranizam, no lar, as mãos obscuras e
generosas que lhes amassam o pão.
Vemos os que amaldiçoam a guerra entre os povos, e
vivem, no aprisco familiar, com a truculência da fera
solta.
Há os que indicam a pena de morte para os irmãos que
enlouqueceram na delinquência, e manejam, em casa, o
punhal invisível da ingratidão.
Muitos lideram primorosas campanhas de socorro à
infância desprotegida, e enxotam, por vagabundo, o
primeiro menino infortunado que lhes roga um vintém.
Outros guardam a enciclopédia na cabeça e jamais se
lembram de estender o alfabeto ao companheiro atrelado à
ignorância.
Vemos os que cantam hosanas à virtude e encastelam-se no
conforto individual, afirmando que a caridade é fábrica
de preguiça.
E há os que ensinam sabiamente, quanto à bondade e à
simpatia, a se movimentarem, na senda particular,
despedindo farpas magnéticas, entre melindres e
aversões.
Nestes apontamentos humildes, a ninguém censuramos, de
vez que, com evidentes exceções, até ontem éramos todos
nós igualmente assim. Hoje, porém, com a Doutrina
Espírita no comando da fé, sabemos todos que a lei do
progresso confere a cada Espírito a possibilidade de
adquirir o bem que lhe falta, a fim de que a justiça
estabeleça o merecimento de cada um, na pauta das
próprias obras.
Conjuguemos, assim, conselho e ação, palavra e conduta,
na mesma onda de serviço renovador, compreendendo, por
fim, que o bem que nos falta nem sempre é o bem que
ainda não desfrutamos, mas sim o bem dos outros que, em
nosso próprio benefício, nos cabe fazer.
Do livro Justiça Divina, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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