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por Wellington Balbo

 

Kardec para além das superficialidades


O pensamento de Allan Kardec traz sempre algo bom para reflexão.

Uma das críticas que faziam a ele – Kardec – era de que não se empenhava, em nada, para recuperar a estima daqueles que se afastavam. E proporcionava, a quem o censurava por isso, uma lógica explicação: aqueles que dele se afastavam o faziam por livre e espontânea vontade.

Ora, sendo vontade, por qual razão deveria ele, Kardec, impor-se a eles?

Mais inteligente respeitar a decisão da pessoa em afastar-se e seguir caminho diferente. Seria até uma prova para o amor-próprio entender que, para muitos, não somos criaturas adoráveis como julgam nossas mães.

Entender essa simples lógica ajuda-nos a desenvolver a humildade e, com isso, damos um chega pra lá na arrogância, aliás, que tanto mal nos causa.

Uma boa sensação para a alma, creio, é sentir-se livre de ser “obrigada” a ter a aprovação de todos a fim de seguir na companhia de muita gente, enfim, fazer parte da turma, ou, como se diz hoje em dia, estar numa bolha.

Mas, quantas vezes, por exemplo, deixamos nossos valores de lado, marginalizando o que há de mais sagrado em nós porque queríamos a aprovação de A, B ou C?

Não é fato incomum essa traição íntima para ter a estima alheia, e o que isso gera em nós a longo prazo se não apenas a insatisfação por termos abandonado as diretrizes da consciência?

Naturalmente não me refiro às concessões que a vida de relação pede que façamos com maior ou menos constância, porquanto conviver é aprender a conceder, flexibilizar, negociar...

Já ensinavam os Espíritos que os bons seres não se impõem, ao contrário, respeitam nossa forma de ser, entendem-nos tal qual estamos nos caminhos do progresso e, se possível, ajudam-nos a avançar, mas jamais colocam condicionantes para estar ou não conosco.

Aliás, se alguém faz isso, tenhamos a certeza de que, quase sempre, não o faz por nós, mas apenas por si mesmo, para ter seus desejos atendidos, pegando em nosso ponto fraco, a vaidade, que nos deixa reféns do agrado constante e contínuo para que não nos vejamos juntos à solidão.

Sei que há fases na vida em que estamos realmente mais frágeis e, portanto, suscetíveis a cair nessas armadilhas da autotraição, contudo, vale a pena refletir com seriedade nas razões pelas quais alguém decidiu afastar-se de nós e se compensa o esforço para reaver aquela companhia. Claro que cada caso é um caso e não vamos esgotar a complexidade das relações humanas em um texto curto, aliás, nem temos esta pretensão, contudo, fica como um ponto para pensarmos com carinho.

E também não quero aqui malbaratar a dor de uma separação ou rompimento abrupto de laços, sei que isso dói um bocado, até porque todos nós já passamos por isso e sabemos bem como é complicada esta questão. Nem sempre é tão simples abrir mão de uma convivência, mas repito e reforço: é um direito do outro seguir um caminho que não seja mais ao nosso lado.

A propósito, recordo-me de que, certa feita, uma aluna veio conversar comigo, muito triste, e disse: “O que devemos fazer quando alguém não quer mais conversar conosco?”

Ora, cara aluna, respeitar a decisão do outro, afinal, é um direito que lhe assiste.

Minha aluna, na época uma adolescente de 13 anos, não ficou muito feliz com minha resposta. Entretanto, quem disse que na vida temos de ficar sempre satisfeitos com as respostas que nos são dadas, seja pelos colegas, professores ou até pela própria natureza?

No bom e velho jargão: Não somos a última bolacha do pacote.

Pois é... Kardec sempre nos ensinando para além das superficialidades.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita